64ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 6. Farmácia
EFEITO ANTITUMORAL DA DIGOXINA EM CÉLULAS DE CARCINOMA DE COLO DE ÚTERO.
Sayonarah Carvalho Rocha 1
Leandro Augusto de Oliveira Barbosa 2
1. Universidade Federal de São João del Rei - UFSJ
2. Prof. Dr./Orientador - Universidade Federal de São João del Rei - UFSJ
INTRODUÇÃO:
Glicosídeos cardíacos, tais como a digoxina, são utilizados há séculos na insuficiência cardíaca, agindo sobre o mecanismo de inibição da Na, K-ATPase, o que leva a uma série de efeitos levando ao aumento da contratilidade cardíaca. A inibição da Na, K-ATPase aumenta os níveis internos de Na+ que, por sua vez, levam à inibição do trocador Na+/Ca2+, que promove a extrusão de Ca2+ intracelular por Na+ extracelular durante a maior parte do tempo. Desta maneira o efeito inotrópico positivo é explicado pelo aumento dos níveis de Ca2+ intracelulares nas células do miocárdio. Além disso, já foi demonstrada uma ativação de uma cascata de sinalização celular pela ação da digoxina, o que poderia ativar a apoptose. Recentemente está sendo descrito um efeito antitumoral para os digitálicos a partir de diversos mecanismos, não relacionados com o seu efeito inotrópico positivo. O carcinoma de colo de útero é a segunda neoplasia mais comum entre as mulheres. Ele tem sido usado como modelo para estudos carcinogênicos e mecanismo de ação das drogas por citotoxicidade. Nós usamos a digoxina em linhagem celular humana do câncer de colo de útero para avaliar a atividade antitumoral desta droga.
METODOLOGIA:
Para a realização do presente trabalho foram utilizadas as seguintes metodologias: Cultura de células e tratamento com digoxina; ensaio clonogênico; ensaio de viabilidade celular – MTT; tratamento prévio com inibidor de proteína quinase C; preparação das frações de membrana e determinação da atividade ATPásica da Na, K-ATPase. A linhagem celular utilizada foi a célula HeLa (carcinoma de colo de útero). A proliferação celular foi verificada através do ensaio clonogênico, foram semeadas 100 células em placa de 12 poços e diferentes concentrações de digoxina (50 e 150nM) que foram incubadas por 48, 96 e 144h. A viabilidade celular foi testada através do ensaio de MTT, as células foram cultivadas em placa de 96 poços e após 24h foram testadas com concentrações crescentes com digoxina por 24 e 48h. Para verificar a via de sinalização envolvida no efeito da digoxina as células foram pré-tratadas com cloreto de queleretrina (600uM) por 1h e depois incubadas com digoxina por 48h. Para correlacionar os efeitos citotóxicos das drogas utilizadas com a atividade da Na, K-ATPase foram feitas preparações de membrana. A atividade ATPásica foi determinada pela dosagem do fosfato, seguindo o método descrito por Heinomen e Lahti (1981).
RESULTADOS:
O efeito citotóxico da digoxina na linhagem de células HeLa (carcinoma de colo de útero) foi observado através dos testes de MTT (viabilidade celular) e ensaio clonogênico (proliferação e sobrevivência celular). O ensaio de MTT demonstrou citotoxicidade em concentrações a partir de 50nM. A concentração máxima inibitória para se observar 50% do efeito (IC50) para digoxina foi de 1,4 µM. Quando esse ensaio foi realizado em outra linhagem, como para células de ovário CHO, a digoxina não apresentou citotoxicidade. O ensaio clonogênico demonstrou que tanto com 50nM como com 150nM ocorreu diminuição da proliferação celular. Uma vez que houve seletividade no efeito da digoxina entre tecidos diferentes, verificou-se que as vias de sinalização celular envolvidas no processo poderiam ser diferentes, assim testamos se essa ação poderia estar envolvida com a proteína quinase C e verificamos que o inibidor de PKC não altera o efeito da digoxina. A digoxina apresenta efeito tóxico pela inibição da Na, K-ATPase, isso pode ser observado, uma vez realizada a atividade da Na, K-ATPase que mostra que a concentração de 50nM de digoxina não causa efeito inibitório e que com 150nM ocorre uma inibição de 70% da enzima.
CONCLUSÃO:
Os glicosídeos cardíacos apresentam um efeito antitumoral considerável, o que abre possibilidades da utilização dessa classe no tratamento contra o câncer. Um resultado bastante relevante e que reforça essa ideia é a seletividade da digoxina por células tumorais, como se observou nos ensaios de viabilidade celular realizado em células de carcinoma de colo de útero (HeLa) e células de ovário CHO, além disso, a digoxina apresenta um efeito antiproliferativo na linhagem HeLa com diminuição na viabilidade celular com concentrações crescentes. Assim, a digoxina induz uma diminuição na viabilidade celular, não apenas por um efeito de morte, mas por uma diminuição na capacidade proliferativa das células, provavelmente induzida por quinases em vias de sinalização celular. Nos testes de atividade da Na, K-ATPase o tratamento com digoxina com 50nM não obteve efeito e com 150nM ocorreu uma inibição da enzima de cerca de 70%. Isso demonstra que os efeitos na proliferação celular causados por 50nM de digoxina não são pelo efeito sobre a atividade da Na, K-ATPase. Os efeitos celulares de compostos digitálicos compõem uma questão complexa que envolve diferentes mecanismos que, pode levar ao crescimento ou morte celular, dependendo do tipo celular e condições experimentais.
Palavras-chave: carcinoma de colo de útero, digoxina, efeito antitumoral.