64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
O PROCESSO DE DIFUSÃO DA IMAGEM NEGATIVA DO NEGRO NO ENSINO FUNDAMENTAL
Cleuma Maria Chaves de Almeida 1,2
1. Depto. de Educação Superior de Tecnologia (DSTEC), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFMA, Campus de Açailândia-MA
INTRODUÇÃO:
O pensamento que opõe brancos e negros sustenta uma cultura na qual a representação dos primeiros está associada à paz, ao belo, ao bom e ao justo, enquanto a imagem dos últimos encontra-se ligada à violência, à feiúra e à maldade. Esse jogo de oposição que valoriza o branco e deprecia o negro ocorre nos diversos espaços de socialização, entre eles a instituição escolar.
A escola, quando não problematiza essas oposições ideológicas, acaba por ocultar a problemática racial no seu interior, mantendo o racismo intacto, e assim cerceando a possibilidade de se construírem referenciais positivos para a construção da identidade negra. Por isso, é necessário que esta instituição reaja significativamente frente a essa problemática, deixando de considerá-la apenas como casos isolados ou de cunho pessoal.
Desta forma, o objetivo deste trabalho é investigar na Educação Fundamental os diversos mecanismos simbólicos que contribuem para a reprodução do racismo, analisando como eles são absorvidos, como se materializam e como são interpretados nas relações cotidianas dos que compartilham a educação formal.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada entre julho de 2009 e maio de 2010, em 5 escolas públicas de Ensino Fundamental da rede municipal de Chapadinha-MA, turno matutino. As informações relativas a atitudes, palavras, preferências e reações propagadoras de idéias desfavoráveis ao negro foram colhidas a partir da aplicação de questionários, observações (inclusive participantes) e do convívio cotidiano na escola. Os sujeitos da pesquisa foram alunos da 1ª à 4ª série, com idade entre seis e doze anos; professores, diretores, coordenadores pedagógicos e funcionários do quadro de serviços gerais.
No primeiro momento da pesquisa, foram espreitadas as relações cotidianas, a oralidade, as imagens distribuídas no ambiente, a comemoração de datas festivas e as reações dos educadores e demais funcionários frente aos conflitos raciais entre alunos. Numa segunda etapa, foram aplicados questionários com base nas observações feitas, finalizando-se com a análise e a interpretação dos dados a partir das categorias de análises: racismo, representação, estereótipo e exclusão.
RESULTADOS:
As representações padronizadas, a oralidade racista e a encenação dos indivíduos frente às situações de preconceito foram constantemente observadas nas relações da escola.
Verificou-se a presença do branco no currículo escolar enquanto sinônimo de tudo que é bom. Já o negro, para ser bom, tinha que ter “alma branca”. Esta idéia estava presente no currículo oculto da escola e se expressava na fala de alguns professores: “Uma pessoa negra de alma branca quer dizer alguém de coração bom, de alma pura, uma pessoa branda, uma pessoa boa”.
A criança, diante dessas interações verbais, percebia que não era totalmente aceita, assumindo posições de distanciamento ou mesmo incorporarando a representação e estereótipos que lhe era atribuída para que fosse aceita pelo grupo. Assim, alguns alunos negros não reagiram frente às ofensas, à desqualificação simbólica, encarando-as como algo normal e não ofensivo. Agindo deste modo, adequavam-se ao contexto. Entretanto, também constatamos que alguns, ao vivenciarem situações nos quais seus atributos eram expostos de modo negativo, rebelaram-se, e por isso não eram aceitos no grupo. Neste contexto, verificamos a existência de mecanismos simbólicos legitimadores e propagadores da imagem negativa do negro na escola.
CONCLUSÃO:
A escola não se reconhece como espaço divulgador de ideologias racistas, por isso dificulta o processo de desvelamento e combate do preconceito racial no âmbito social e educacional. Agindo dessa forma, ela permite a prevalência do senso comum como modelo explicativo que, em geral, não assume a presença do racismo entre nós e, quando admite a sua realidade, sempre a situa nos outros.
Utiliza-se da falsa idéia das relações harmônicas entre negros, brancos e mestiços. Ancorada neste argumento, a escola silencia frente aos conflitos raciais nos seu espaço e não toma nenhuma atitude para reverter o quadro.
As atividades em relação ao racismo são inexistentes e os conflitos são tratados como indisciplina e/ou como casos isolados. Não se percebe qualquer discussão referente às relações raciais nas atividades desenvolvidas no espaço escolar.
Agindo desta forma, a escola não reflete, não discute e não insere esse tema em seu projeto pedagógico. E assim, à medida que não promove essa discussão, colabora para a reprodução de um habitus racista, abrindo mão do seu potencial pedagógico e das discussões sobre as relações de poder que a multiplicidade de suas relações sociais oferece.
Palavras-chave: Escola, Racismo, Representação.