64ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 4. Literaturas Modernas |
Dos rochedos da Tundavala à estepe mongol: uma leitura do espaço nO planalto e a estepe, de Pepetela |
Alessandro Barnabé Ferreira Santos 1 Márcia Manir Miguel Feitosa 2 |
1. Graduando em Letras - Bolsista PIBIC-CNPq - UFMA 2. Profa. Dra./ Orientadora - Dpto de Letras - UFMA |
INTRODUÇÃO: |
O planalto e a estepe, obra do angolano Pepetela, que chega à sua primeira edição no ano de 2009, oferece ao leitor uma narrativa tristemente envolvente: a história do amor impossível entre Julio e Sarangerel, dos anos 60 à atualidade. Ele representa o planalto característico da paisagem de sua Angola, o sul de sua vida; ela é a própria estepe, que desenha e pinta o cenário da Mongólia. A paisagem, nesta narrativa, é, para além, o lugar que envolve ambos, Julio e Sarangerel, em seu íntimo e a experiência do exílio, que certamente causa uma fratura incurável entre o sujeito e seu lugar natal, marca suas percepções e a sua visão de mundo. Este trabalho, portanto, constitui-se numa análise deste romance contemporâneo a partir do olhar da Geografia Humanista-Cultural, sob o viés do exílio, na perspectiva critico-humanista de Edward Said (2008). |
METODOLOGIA: |
Dos rochedos da Tundavala à estepe mongol: uma leitura do espaço nO planalto e a estepe, de Pepetela, na medida mesma em que materializa o diálogo entre a Literatura lusófona, de expressão contemporânea, e a Geografia, a partir do viés humanista-cultural, estrutura-se, metodologicamente, da seguinte forma: leitura analítica da obra literária, previamente definida via plano de trabalho do projeto de pesquisa, destacando os modos pelos quais o espaço é percebido pelos sujeitos literários que compõem o seu fio narrativo; além, verifica-se de fundamental importância o estudo acerca da percepção da paisagem – que ganha enorme destaque no campo da Geografia humanista-cultural, sobretudo com as reflexões do geógrafo Yi-fu Tuan, presentes em suas duas obras clássicas: Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente (1980) e Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência (1983) – para que melhor compreendamos os fenômenos que envolvem a percepção humana dos espaços e lugares que compõem a experiência dos indivíduos. |
RESULTADOS: |
Espaço e lugar são categorias geográficas que se fundem intimamente à percepção humana: a partir das experiências que temos no/do mundo que nos cerca, é que tomamos atitudes – resposta a dado fenômeno – e dotamos de valor (positivo ou negativo) os espaços por que transitamos e estabelecemos ligações de pertencimento. No tecido literário, essa ligação não é perdida, antes é intensificada pelo escritor, que transforma, em alguns casos, sua própria experiência em matéria poética – tal qual verificamos no Poema Sujo (1975), de Ferreira Gullar. O texto literário, portanto, é uma espécie de repositório de experiências humanas, de onde emerge, sobretudo, a experiência que os sujeitos têm em relação aos lugares e espaços por que transita; a paisagem, no texto literário, é, por fim, não somente o cenário de onde tomam forma as ações e peripécias do fio narrativo ou poético: constitui-se no lugar que se funde com a própria existência e a vida dos sujeitos e que organiza e estrutura sua percepção e a atitude diante do mundo vivente. Questões estas que se materializam nO planalto e a estepe, obra aqui analisada. |
CONCLUSÃO: |
Julio e Sarangerel são representações metonímicas dos lugares de seu pertencimento: “Os olhos dele continham o céu do Planalto [...] Nos olhos dela estavam gravadas suaves ondulações da estepe mongol” (PEPETELA, 2009, p. 9). Eles são a representação viva de uma história de amor – cujo cenário político, à época de sua ocorrência, dá margem a sua separação – que invade os espaços geográficos intimamente ligados a sua existência. Ambos, Julio e Sarangerel, fraturados pela experiência do exílio – ele, de Angola, vai a Lisboa para estudar e, de lá, partirá para a Rússia onde conhece Sarangerel, vinda da Mongólia – buscam, certamente, a recolocação de si em seus lugares de pertencimento, buscam o seu lar, que jamais se configura o país de origem; são, para si, seus próprios lares e seus próprios lugares. |
Palavras-chave: Espaço, Exílio, Percepção da paisagem. |