64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
ESPINHA DE PEIXE: UMA ANÁLISE DA PROGRESSÃO TEXTUAL
Tiago José da Silva 1
Alan Santos e Silva 2
Jaciara Josefa Gomes 3
1. Mestrando em Ciência da Informação - UFPE, Especialista em Linguística- FUNESO
2. Especialista em Linguística do Texto e do Discurso - FUNESO
3. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de Letras - UPE
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa analisa estratégias linguístico-discrusivas utilizadas na crônica “Espinha de peixe”, de Fernando Sabino, para promover a progressão textual. No referido texto, verificamos a construção de sentidos estabelecida especificamente pelo uso de modalizadores e articuladores metaformulativos e pelo recurso da progressão referencial, sobretudo, por meio de anáforas correferenciais com e sem recategorização e anáforas não-correferenciais. Essa investigação, centrada na análise lingüística do texto, foi realizada no intuito de observarmos, e até oferecermos, possibilidades facilitadoras para o processo de leitura/compreensão textual, bem como para verificarmos os aspectos tomados como relevantes no processo de produção textual, dando suporte ao professor na construção de situações didáticas. Nossa base teórica está vinculada aos estudos da Linguística Textual (Bronckart, 1999; Beaugrande, 1999; Adam, 2008; Koch, 2004, Marcuschi, 2005). Posto isso, ressaltamos que nossa análise objetiva, principalmente, verificar os processos de efeitos de sentido tomados como relevantes pelo autor, considerando o gênero textual, o público alvo, entre outros elementos.
METODOLOGIA:
Tendo em vista o nosso interesse em considerar a prática docente para o trabalho com texto, sobretudo, com leitura, decidimos selecionar o gênero textual crônica por fazer parte de nosso cotidiano, inclusive do espaço escolar. Ademais, a crônica transita entre o jornalístico e o literário, traço que permite ao professor um trabalho multidisciplinar. O passo seguinte foi a escolha do autor. Consideramos a habilidade e proficiência do produtor no gênero escolhido, daí a opção por Sabino. Ademais, os textos dele já fazem parte da prática de muitos professores de Língua Portuguesa que se sentem até mais à vontade para trabalhar com esse material. Em seguida, pensando em entender os processos de construção de sentidos, visto que são fundamentais para a compreensão textual, delimitamos nosso recorte teórico em dois grandes recursos de progressão textual: progressão referencial e articuladores metadiscursivos/modalizadores. Isso porque, embora o professor já explore em sua prática essas estratégias, principalmente, a referência, muitas vezes o faz superficialmente, quando se limita a tomar as expressões de retomada como sinônimos perfeitos, ou como aspectos preexistentes à atividade cognitiva do autor e não como resultantes de uma produção fundamentalmente cultural.
RESULTADOS:
A análise realizada é de caráter, sobretudo, compreensivo, mas também busca explicar os fenômenos observados. Identificamos de ocorrências de anáforas correferenciais sem recategorização, a exemplo dos usos de expressões como (garganta e gogó). No texto, o termo o gogó retoma a garganta, ambos são tomados como sinônimos. Contudo, também foram encontradas anáforas correferenciais recategorizadoras, como no trecho: “(...) e o médico de plantão, com uma pinça, retirou de sua garganta – não uma espinha, mas um osso de peixe, uma imensa vértebra...”. O termo espinha é retomado por osso e vértebra, os dois últimos são hiperônimos do primeiro. São ocorrências dessa natureza que nos permite pontuar a construção de sentidos como uma estratégia cultural. Ademais, encontramos anáforas não-correferenciais em que a relação estabelecida por associação (ferrinhos, pinça). Outro fenômeno recorrente é o uso de modalizadores e articuladores metaformulativos, que indicam intenções, sentimentos e atitudes do narrador com relação ao seu discurso. Procuramos indicar nessas situações a relevância de o professor de LP mostrar aos alunos esses recursos para que compreendam efetivamente o texto.
CONCLUSÃO:
Com essa pesquisa, ainda que olhando para um único texto, pudemos não só verificar a ocorrência da progressão referencial e dos modalizadores metadiscursivos, mas principalmente mostrar como tais estratégias abrem perspectivas para uma série de reflexões sobre a (re)construção de sentidos, por meio de objetos-de-discurso, possibilitando questões para uma melhor compreensão dos modos de constituição dos textos e de seu funcionamento em práticas sociais. Além disso, reforçamos a ideia de que os textos são formados por uma cadeia referencial que diz respeito à introdução, preservação, continuidade, identificação e retomada. Expomos ainda que o interlocutor percebe, por meio dos modalizadores, se o locutor acredita no que diz e a indicação do modo como o que se diz é dito, além de levantarmos outras possibilidades. Já com a análise de marcadores textuais, mostramos de que maneira os articuladores metafomulativos indicam o tipo de função que desempenham. Esperamos principalmente que nosso estudo apresente possibilidades de análise linguística, extremamente úteis à compreensão do texto. Este se estabelece como sendo uma construção social, histórica e cultural em que o sentido se atualiza no uso.
Palavras-chave: Texto, Análise linguística, Compreensão.