64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 5. Semiótica - 1. Semiótica
UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DA CANÇÃO PAGODE RUSSO DE LUIZ GONZAGA
Líllian da Cruz Régis 1
Maria de Fátima B. de Mesquita Batista 1
1. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Letras - UFPB
2. Profa. Dra./ Orientadora - Programa de Pós-graduação em Letras - UFPB
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, propusemo-nos a analisar a canção Pagode russo, de autoria de Luiz Gonzaga e João Silva, gravada em 1984 no LP Danado de bom. A composição foi regravada mais tarde por outros cantores, a exemplo de Zeca Baleiro, em 1999 no disco Vô imbolá. Nosso objetivo é investigar, através da Semiótica da canção, desenvolvida por Luiz Tatit e da Semiótica de linha francesa orientada por A. J. Greimas, de que maneira letra e melodia se juntam para produzir significados num texto musical sincrético. Além disso, pretendemos verificar quais temáticas são apresentadas e/ou retomadas pelo compositor pernambucano na referida canção. Estudar a obra do “rei do baião” é essencial para compreender como essa música de alma nordestina concebida, especialmente, por ele e seu parceiro cearense Humberto Teixeira pôde, a partir de meados da década de 1940, conquistar os salões de festa e as rádios do Brasil.
METODOLOGIA:
Para alcançar os objetivos sugeridos inicialmente, utilizamos como fundamentação teórica e metodológica a Semiótica greimasiana, tomando como base o percurso gerativo da significação. Subdividido em três níveis – fundamental, narrativo e discursivo, o percurso parte do nível mais abstrato para o concreto, do mais simples para o mais complexo. Nosso procedimento metodológico partiu da audição da canção e posterior análise da letra, empregando os níveis citados acima e análise melódico-musical, usando as três categorias de classificação da canção, organizadas por Tatit: tematização, passionalização e figurativização.
RESULTADOS:
Pagode russo é uma quadrilha, ritmo dançante típico das festas juninas nordestinas. A melodia se repete sem o prolongamento das vogais. Há, portanto, o predomínio da tematização. O ataque das consoantes, especialmente dos fonemas /k/ e /s/ são bastante sentidos na canção. Podemos percebê-los nos vocábulos: sonhei, Moscou, dançando, russo, Cossacou, cossaco, dança, fica. Daí a reiteração de sons sibilantes provocando uma aproximação sonora entre as palavras. Além disso, a maioria das palavras é dissílaba e trissílaba, o que ajuda na marcação dos fonemas. A canção tem um aspecto metalinguístico, uma vez que define ritmos musicais como o frevo e o pagode. Do ponto de vista da letra, verificamos que há no texto um enunciador que tenta persuadir seu enunciatário a participar da festa e entrar na dança: vem cá, cossaco/ cossaco dança agora/ na dança do cossaco não fica cossaco fora. Há um percurso construído no texto. O sujeito enunciador (1ª pessoa) narra um sonho que teve na noite anterior ao momento da enunciação. Depois de contar o sonho, convoca seu enunciatário a “sonhar” seu sonho ao cair na quadrilha.
CONCLUSÃO:
Pagode russo se configura como uma canção em tom alegre próprio dos festejos nordestinos. Ao anunciar a famosa dança dos cossacos a música acaba por evidenciar o frevo pernambucano, apontando para uma das principais semelhanças entre as duas danças: os saltos malabarísticos ou o “cai não cai”. Aborda, pois, as aproximações culturais entre os diferentes povos. Desse modo, compreendemos que letra (aspecto verbal) e música (aspecto melódico) são trabalhadas de forma a reforçar o sentido uma da outra. Ambas ressaltam a modalização de um /fazer/ e expressam alegria e euforia de um sujeito enunciador em consonância com seus valores, neste caso, os valores culturais de seu povo, de sua terra.
Palavras-chave: Canção, Texto sincrético, Percurso gerativo da significação.