64ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada
ANÁLISE FAUNÍSTICA DE FORMIGAS (HYMENOPTERA: FOMICIDAE) EM UM MANGUEZAL DE BARRA GRANDE, BAHIA.
Filipe Ribeiro Sá Martins 1
Camilo Viana Oliveira 1
Flávia Borges Santos 2
Raquel Pérez Maluf 2
1. Discentes de Ciências Biológicas - UESB.
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Ciências Naturais – UESB.
INTRODUÇÃO:
Os manguezais são ecossistemas homogêneos, caracterizados por espécies vegetais halófilas e uma significativa diversidade faunística, destacando-se os Formicidae. A estrutura da comunidade de formigas é uma ferramenta para extrapolar uma estimativa da diversidade local e para avaliar as condições de degradação ou conservação ambiental, pois algumas espécies são capazes de responder a alterações no meio onde ocorrem, sendo consideradas indicadoras. Devido à estrutura peculiar do manguezal, a mirmecofauna aí presente é exclusivamente arborícola, nidificando em galhos ocos, formigueiros externos ou associados a epífitas. Em quase todos os estudos realizados, os dados sugerem que a fauna de formigas não é específica do manguezal, mas ocorre também nos hábitats vizinhos havendo uma relação de dependência entre os hábitats. A destruição dos manguezais está estreitamente associada às pressões de ocupação de populações humanas, através do desenvolvimento urbano, aqüicultura, exploração de madeira e recursos econômicos tais como peixes, crustáceos e gastrópodes. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo avaliar as condições ambientais de um manguezal localizado na foz do rio Carapitangui, Barra Grande, Bahia, por meio do estudo das comunidades de formigas.
METODOLOGIA:
A área de estudo está localizada na vila de Barra Grande, península de Marau, Bahia, Brasil. As coletas foram realizadas no período de 9 à 13 de janeiro de 2012 em um manguezal na Foz do Rio Carapitangui. As formigas foram amostradas dentro do manguezal (onde predomina Rhizophora mangle L.) e na sua periferia (distanciada por 100m). Foram utilizados quatro métodos de coleta: lençol entomológico (n = 12), iscas à base de sardinha em óleo vegetal (n = 12), coleta manual de galhos ocos (n = 20) e pitfall (n= 6), sendo este último menos usualmente aplicado em áreas inundáveis. As amostras foram obtidas seguindo um transecto de 300m com 50 m de intervalo entre os pontos em cada área totalizando 12 pontos de amostragem. O material biológico foi triado no Laboratório de Zoologia I da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, onde as formigas foram montadas e identificadas até a categoria de espécie, sempre que foi possível. A classificação dos Formicidae segue Bolton (2003). Ecologicamente, classificaram-se as espécies de formigas em dominantes e não-dominantes através das freqüências relativas. As análises de eqüitabilidade, índices ecológicos de diversidade de Shannon e similaridade de Morisita foram feitas através do programa estatístico PAST (Hammer et al., 2001).
RESULTADOS:
Foram amostradas 36 espécies de formigas, distribuídas em 11 gêneros, pertencentes a 4 subfamílias, sendo a mais abundante e freqüente a subfamília Myrmicinae (36,1%) seguida pelas Formicinae (25%), Pseudomyrmecinae (22,2%) e Dolichoderinae (16,6%). A área periférica apresentou uma maior diversidade (34 espécies, H=2,746) em relação ao manguezal (6 espécies, H=1,086), isso pode ser justificado pelo fato do manguezal ser um ambiente mais homogêneo em contraste com a área periférica onde há maior disponibilidade de locais para nidificação e maior oferta de alimentos. A similaridade entre as áreas foi baixa (0,21). Os gêneros Componotus, Pseudomyrmex e Pheidole apresentaram maior riqueza de espécies. A estrutura da organização dos gêneros dominantes, Azteca, Crematogaster e Componotus podem influenciar a diversidade, a qualidade, a freqüência e a distribuição de outros gêneros na comunidade. A presença da espécie exótica Tapinoma melanocephalum, assim como de Wasmania auropunctata, com forte associação às populações humanas, sugerem um alto grau de antropização. A baixa diversidade de Pheidole e Cephalotes, associadas à diversidade florística, demonstra a instabilidade ambiental. Diante de qualquer agravamento biótico e abiótico, esses gêneros e podem vir a desaparecer.
CONCLUSÃO:
Os dados sugerem que as áreas da periferia e do manguezal apresentam grandes perturbações antrópicas. A estrutura e a composição das comunidades de formigas da periferia influenciaram negativamente na diversidade área do manguezal. Os inventários de insetos nos ecossistemas são importantes pois podem identificar grupos de bioindicadores potencias, visto que muitos táxons de hexapoda apresentam alta sensibilidade às alterações ambientais. As características biológicas e ecológicas das formigas podem contribuir com informações para planos de manejo e conservação, uma vez que a riqueza e a composição das espécies podem indicar o grau de conservação ou de degradação local, ou ainda uma possível vulnerabilidade a mudanças ambientais. A área estudada necessita de ações urgentes a fim de estabelecer estratégias para sua conservação, de modo a mitigar os efeitos negativos do crescente processo de urbanização da vila de Barra Grande. Tais estratégias devem levar em consideração que a área periférica ao mangue também deve ser preservada.
Palavras-chave: Bioindicadores, Mirmecofauna, Mangue.