64ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia |
A RETOMADA DA SOFÍSTICA EM NIETZSCHE |
Carla Sìlvia Souza da Rocha 1 Marco Antonio Casanova 2 |
1. Profa. Msc. - Depto de Ciências Básicas - IFMA 2. Prof. Dr./Orientador - Depto. de Filosofia - UERJ |
INTRODUÇÃO: |
Desde o início do século XX, pesquisas sobre o pensamento de Nietzsche, já aproximam o filósofo e os sofistas. No entanto, são muitas as controvérsias na ideia de um Nietzsche sofista, pois, significaria o interesse pela linguagem, pela retórica e pelo tema do poder, certa simpatia pelo relativismo, pelo subjetivismo e pelo ceticismo presentes nos escritos de Nietzsche uma forma de herança sofística? Ou é a força do hábito que leva a olhar tais temáticas com os contornos da sofística? Quando pensamos na oposição que Nietzsche faz a Platão, fortalece-se a ligação do filósofo à sofística, já que os sofistas foram historicamente entendidos como adversários de Platão. Porém, ligar Nietzsche à sofística por esse viés, é aceitar que Platão venceu Nietzsche antecipadamente, pois, na história da filosofia, os sofistas foram combatidos e vencidos nos diálogos platônicos. Assim não parece ser uma tarefa simples entender a relação de Nietzsche com a sofística. Mesmo que essa relação seja tomada como óbvia, sobretudo, nos estudos que relacionam Nietzsche e a sofística por meio da postura epistemológica que se aproxima do relativismo, do individualismo e do subjetivismo retirados da doutrina do homem-medida. O objetivo do estudo é mostrar como ocorre a retomada da sofística em Nietzsche. Aborda-se a visão geral que aproxima Nietzsche e os sofistas através de Cálicles e Protágoras, investindo contra essa visão para aproximar Nietzsche e os sofistas através de Górgias. |
METODOLOGIA: |
A presente pesquisa é de caráter eminentemente teórico; consiste essencialmente em natureza discursiva e bibliográfica. Todo o seu procedimento técnico-metodológico se limita à leitura e à análise de obras, bem como à produção textual, organizados efetivamente a partir da compreensão das ideias e argumentos expostos para fundamentar o corpo temático da pesquisa em questão. A pesquisa tem como fio condutor as obras de Górgias Tratrado do Não-Ente e Elogio de Helena, nas quais se destaca a impossibilidade do discurso falso, a impossibilidade da linguagem de conhecer as coisas e o poder da retórica. As obras de Nietzsche fundamentais para dar continuidade à discussão são os textos da juventude que discutem o tema da linguagem: Curso de retórica,Verdade e Mentira no Sentido de Extra-Moral. E Aurora e Crepúsculo dos Ídolos para destacar Tucídides como sofista e como representante da concepção histórica admirada por Nietzsche. Enfim, Para Além do Bem e do Mal e Humano Demasiado Humano para refutar a doutrina do homem medida e o hedonismo. Contudo, o corpo teórico da pesquisa é ainda mais extenso no que se refere às obras de Nietzsche. |
RESULTADOS: |
A visão padrão das semelhanças entre Nietzsche e os sofistas inclui o relativismo contrário a Platão e à tradição metafísica de uma verdade objetiva. Determina Nietzsche e os sofistas como adversários de Sócrates e de Platão, como defensores do subjetivismo mediante ao real. Mas o modo habitual de aproximar Nietzsche à sofística por meio do subjetivismo do sofista Protágoras é um contrassenso. Pois faz Nietzsche provedor de ceticismo através da crítica à verdade e,simultaneamente, determina o triunfo da subjetividade com o destaque na doutrina do homem-medida. Os defensores de um Nietzsche sofista caem na velha armadilha socrática da contradição, pois a proposta de um subjetivismo que inviabiliza a verdade toma a subjetividade como um dogma. A relação do além-homem de Nietzsche e o tirano de Cálicles também é habitual, é marcada por um princípio hedonista decorrente do "direito do mais forte" de Cálicles. Mas Nietzsche tece duras críticas ao hedonismo,em Para além do Bem e do Mal, para ele os modos de pensar que medem o valor segundo prazer e dor são ingenuidades. Entende-se que nem Protágoras nem Cálicles, são pertinentes para uma retomada da sofística em Nietzsche. Pergunta-se: ocorre esse retorno aos sofistas? Como ocorre? Defendemos que esse retorno ocorre na importância que o trabalho de Tucídides tem para Nietzsche, na articulação entre a retórica de Górgias e a concepção histórica tipológica de Tucídides que dialogam com o elemento ficcional em Nietszche. |
CONCLUSÃO: |
Acreditamos que Nietzsche conhecia as controvérsias sobre a obra de Tucídides: historiador e cientista versus escritor e artista. Tucídides não contava com os fatos, mas com indícios e teve que ressaltar o elemento da criação pessoal, trazendo a ideia de uma coexistência do elemento poético e do elemento realístico na reconstrução do passado. Isso é fundamental, o que mais Nietzsche admirava na concepção história de Tucídides era a capacidade de enxergar apenas tipos. Trabalho que necessita da inexistência de sentidos preexistentes na linguagem, própria da linguagem sofista cujo fundamento era a retórica, no caso a de Górgias alicerçada na persuasão e no Kairós. A articulação entre Nietzsche, sofistas e Tucídides está na retórica que viabiliza uma linguagem que permite trabalhar tipos na concepção histórica de Tucídides que Nietzsche tanto elogiava. Entendemos que a retomada da sofística em Nietzsche está no elemento ficcional que se faz presente tanto no sofista como no filósofo; de acordo com análises acerca dos limites da linguagem, para Górgias a realidade consiste no engano e para Nietzsche a mesma advém da criação artística.A proximidade entre Nietzsche e a sofística está no modo de investigação presente na concepção de história de Tucídides, no uso da retórica gorgiana. Já Protágoras e Cálicles estão presentes na retomada da sofística através do modo de apresentação da concepção tucicideana de história, nos duscuros (Protágoras) e no Diálogo de Melos (Cálicles). |
Palavras-chave: Nietzche, Górgias, Tucídides. |