64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
TEMAS GEOGRÁFICOS NA FORMAÇÃO SUPERIOR DE PROFESSORES/AS INDÍGENAS
Adélio dos Santos Ferreira 1
Ana Lúcia Lourenço dos Santos 1
Deborah Evellyn Irineu Pereira 1
Kênia Gonçalves Costa 1,2
Alecsandro (Alex) JP Ratts 3
1. LaGENTE/IESA/UFG
2. PPGEO/IESA/UFG
3. LaGENTE/IESA/UFG (Orientador)
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho focaliza a abordagem dos temas geográficos – natureza, meio ambiente e território – ministrados por professores/as com a colaboração de monitores/as com formação disciplinar em Geografia e áreas afins nos chamados “temas contextuais” da Licenciatura Intercultural de Formação Superior de Professores/as Indígenas (CLIFPI/UFG), que, por sua vez, é um curso transdisciplinar, intercultural e bilíngue/bidialetal. Este curso é composto por docente não-indígenas de muitas áreas do conhecimento e estudantes indígenas dos Estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, numa proposta educacional sustentada nos eixos diversidade e sustentabilidade buscando experiências interculturais e transdisciplinares, com especialização em Ciências da Natureza, Ciências da Cultura e Ciências da Linguagem.
METODOLOGIA:
Os temas contextuais são tratados na etapa presencial do curso, nos meses de janeiro/fevereiro e julho/agosto na Universidade Federal de Goiás. São ministrados por professores/as com a colaboração de monitores/as com formação disciplinar, o que exige a reelaboração de estratégias pedagógicas. Inicialmente trabalhamos os temas tanto na visão dos grupos indígenas, quanto nas concepções científicas, atuando no campo da interculturalidade. Desta forma, entra a colaboração de professores geógrafos/as, mas também biólogos, assim como antropólogos/as com monitores com formação em Geografia, História e outras áreas. Deste trabalho resultam textos, desenhos, mapas, seminários e outras atividades e recursos didáticos.
RESULTADOS:
Os múltiplos saberes que fomentam as discussões acontecem do encontro dos docentes (geógrafos, antropólogos, biólogos, linguistas, matemáticos e outras áreas do conhecimento) e os detentores dos saberes tradicionais, os professores/estudantes da licenciatura das etnias Tapuia, Karajá, Javaé, Tapirapé, Apinajé, Xerente, Krahô, Krikati, Canela, Guajajara e Gavião. O curso que é constituído por meio dos temas contextuais contribui para uma construção pedagógica e para a elaboração de recursos didáticos específicos, possibilitando para esses povos um mecanismo de defesa e/ou estabelecimento da manutenção de suas línguas e culturas maternas, de suas terras e, para assim, traçarem as políticas de desenvolvimento sustentável e de defesa de seus direitos. A contextualização dos saberes está produzindo outra leitura escolar e um diálogo profícuo com as secretarias de educação estaduais como, por exemplo: como ocorrem com os povos Tapuias e Karajá-Xambioá. Ao incluir em suas aulas propostas transdisciplinares e interculturais ao discutirem sobre as nascentes da terra indígena Carretão na área Tapuia e por sua vez, com os Karajá-Xambioá tem produzidos mudanças significativas no contexto escolar ao discutir sobre o artesanato indígena.
CONCLUSÃO:
Na visão indígena emergem conhecimentos construídos (memória, saber tradicional, oralidade), que são justapostos e interseccionados com o conhecimento científico ainda bastante disciplinar, compartimentado. As formulações que resultam nos projetos extra-escolares e nos estágios, acabam atuando como ferramenta de respeito à pluralidade étnico-cultural e de defesa face às desigualdades sociais, aos conflitos e aos preconceitos pelos quais passam os povos indígenas. Para exemplificar esta discussão, apresentaremos resultado das reflexões em sala de aula e alguns trabalhos realizados pelos/as professores/as indígenas no curso de Licenciatura Intercultural. Nas discussões, observamos que a visão intercultural dos(as) professores(as)/estudantes indígenas muitas vezes está relacionada com os mitos que revelam sua existência. Assim, percebe-se a intensa relação dos indígenas com seu meio, além do princípio que os mesmos têm em relação à conservação e utilização de seus recursos. Os temas geográficos permitem abordar leituras da natureza, do ambiente e do território nas visões indígena e não-indígena, percebendo que existem oposições, contradições, mas também a possibilidade de complementariedade.
Palavras-chave: Temas geográficos, interculturalidade, transdisciplinaridade.