65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
Cinema Marginal na Bahia (1968-1973): A estética do lixo como contestação e expressividade do cinema baiano
Laís de Araújo Macêdo - Depto.de Ciências Humanas - UNEB
Maria Socorro Silva Carvalho - Profa. Dra./Orientadora - Depto.de Ciências Humanas - UNEB
INTRODUÇÃO:
Parte do projeto “Estudos de Cinema na Bahia”, o subprojeto "Cinema Marginal na Bahia(1968-1973): a estética do lixo como contestação e expressividade do cinema baiano" busca construir uma memória¹ do cinema baiano no primeiro momento da ditadura militar na Bahia, período marcante para as expressões artísticas locais, como ocorreu em outros estados do país. Este recorte temporal favorece o estudo da relação entre cinema e História, pois trata de uma época caracterizada pela censura no campo das artes, da imprensa e da política, engendrando um cinema dotado de estética própria: o cinema marginal baiano. Registro histórico e agente transformador da história, os filmes produzidos são vistos na pesquisa como documento e expressão artística das mais completas, tornando possível a problematização e compreensão de um período emblemático que, nas suas tensões e contradições, revelam dinâmicas próprias, pouco conhecidas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Estudar as relações existentes entre o cinema e a história da Bahia durante o ciclo do cinema marginal, investigando suas formas próprias de criação, produção e distribuição, inseridas na dinâmica específica da primeira década da Ditadura Militar. Criar uma memória do Cinema Baiano desse período analisando os diversos aspectos da linguagem cinematográfica marginal baiana.
MÉTODOS:
Buscando estudar as relações existentes entre o cinema e a história da Bahia durante o Surto de Cinema Marginal baiano (1968-1972), a metodologia empregada consistiu, basicamente, na pesquisa de fontes primárias. Por meio de visitas ao setor de pesquisa da Biblioteca Central do Estado da Bahia, a coleta de dados e referências foi feita no jornal A Tarde - principal meio de comunicação da Bahia criado em 1912 - concentrando a atenção nos setores do jornal vinculados à arte e ao cinema. Foram recolhidas informações relacionadas ao cinema nacional e baiano, à realidade política, social e cultural, bem como a conteúdos que tivessem algum teor cômico. Esse material foi recolhido com o objetivo de formar um banco de dados em que suas partes são entendidas como produtos culturais do seu tempo. No segundo semestre da bolsa, deu se enfoque aos dois filmes referenciais do cinema marginal baiano: Caveira, my friend (Álvaro Guimarães, 1970) e Meteorango Kid; o herói intergalático (André Luis Oliveira, 1969). Para a análise desses dois filmes foram utilizados critérios ligados à estética do cinema como os recursos narrativos e sonoplastia, voltando a atenção para as referências citadas nos filmes (musicais, cinematográficas e literárias) e para a natureza dos personagens que foram analisados e confrontados com a realidade presente nos jornais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O cinema marginal baiano é um cinema pouco conhecido pelos baianos e, apesar de ter sido influenciado pelo cinema marginal sudestino de Rogério Sganzerla com o filme O Bandido da Luz Vermelha(1968), filme que deu as coordenadas para um cinema possível durante a ditadura militar, possuía uma forte característica comum, que o diferenciava entre os marginais: a ironia soteropolitana . Considerado um surto por conta de sua duração e da pequena produção de filmes, suas intensas e escassas obras deixaram marcas no cinema de autor baiano posterior (curtas metragem superoitistas que marcaram as Jornadas de Cinema da Bahia 1972-1978) com humor e ironia especialmente peculiares quando relacionados ao momento histórico de repressão e censura que passava não só a Bahia, mas todo o território nacional.Trata-se, portanto, de vincular a história e o cinema baiano discutindo, a partir dessa relação, novas perspectivas e questões que podem ser levantadas sobre as esferas da história política, do comportamento, do imaginário, da comunicação, da festa e da estética do cinema baianos, levando em conta o que já foi elaborado sobre esses temas no período entre a instauração do AI-5 e o começo da abertura política.
CONCLUSÕES:
A relação entre o cinema e a história nos oferece muitas possibilidades enquanto pesquisa. Em primeira instância a história está no cinema como fonte histórica: sendo representação de uma sociedade, o filme está carregado de modelos sociais, de intenções, de interações com outras áreas das artes e comunicação e de informações sobre as pessoas do seu tempo no processo de exibição. Também o cinema está na história já que muitas vezes o filme é produtor de um discurso sobre a história, sendo assim um agente da história. Com isso o cinema e sua história se tornam um importante capítulo da história sociocultural, podendo nos revelar novos aspectos e possibilitar a revisita de temas a partir de novos olhares. Assim, os dois filmes analisados são peça fundamental para identificar e relacionar aspectos particulares das dinâmicas sociais e artísticas baianas, que ainda não foram vistos ou são tradados de forma superficial. Dessa forma, concluí que o cinema marginal baiano é uma manifestação festiva de um período em que o medo, a violência e a frustração imperavam, além de a Bahia e o Brasil não apoiarem verdadeiramente o cinema nacional com seus circuitos exibidores restritos a filmes estrangeiros, numa resposta estética em que o riso tem o seu papel libertador não só da seriedade estúpida de uma sociedade passiva, mas de uma ditadura militar repressora. O cinema marginal baiano tem, portanto, uma função social de humanização através da experiência cômica, onde a percepção carnavalesc
Palavras-chave: Bahia, Cinema marginal, Ditadura.