65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
CULTURA DO TRABALHO E SABER-FAZER PESQUEIRO PATRIMONIAL: O CASO DAS PESCADORAS ARTESANAIS DO MUNICÍPIO DE SANTA LUZIA DO ITANHY-SE
Maria da Conceição dos Santos - Depto. Ciências Sociais- UFS
Cristiano Wellington Noberto Ramalho - Prof. Dr. / Orientador Depto. Ciências Sociais - UFS
INTRODUÇÃO:
A pesca é uma atividade atribuída tradicionalmente aos homens, fato que influenciou na invisibilidade do trabalho feminino, seja no âmbito da sociedade (dados governamentais) e da própria profissão, seja no universo acadêmico. Diante disso, o presente trabalho objetivou mostrar a importância da pesca artesanal feminina em Sergipe, estado brasileiro a apresentar proporcionalmente o número maior de mulheres profissionais da pesca artesanal, o que representa 54,9%, comparativamente ao masculino 45,1% (Ministério da Pesca e Aquicultura, 2010). O local de estudo foi Santa Luzia do Itanhy, terceiro maior produtor de pescados (CEPENE-IBAMA, 2006) e a mais expressiva área em termos de trabalho pesqueiro feminino em Sergipe (NEP/UFS). A pesquisa de campo concentrou-se na comunidade Rua da Palha, que se situa na área rural do referido município e está inserido na Comunidade Quilombola Luziense.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Em nosso estudo, objetivamos responder as seguintes questões: como as pescadoras da comunidade Rua da Palha organizam seu trabalho? E como acessam e se apropriam dos recursos naturais de uso comum? Além disso, levantar as técnicas, os instrumentos, os principais pontos de pesca e suas maneiras de uso (comuns ou não) que compõem o fazer da cultura do trabalho das pescadoras artesanais.
MÉTODOS:
Utilizamos a etnografia como metodologia de trabalho de campo, para compreendermos as percepções, valores e práticas sociais dos (as) sujeitos (as) pesquisados (as) em relação à sua própria vida e trabalho. Com a observação participante, tivemos a oportunidade de acompanhar grupos de pescarias em seu dia de trabalho. Assim, acompanhamos e a dialogamos com um grupo de pesca formado basicamente por mulheres que possuem referência de parentesco. Nesse sentido, descrevemos e analisamos o dia a dia desse grupo de pescadoras em sua atividade de pesca; Ademais, valemo-nos de entrevistas semiestruturadas, conversas informais, levantamento bibliográfico e de fontes secundárias (MPA, CEPENE, IBGE). Somando-se a isso o registro fotográfico foi um instrumento valioso, como forma de capturar o cotidiano das mulheres da comunidade, o comércio, o universo do trabalho e da sociabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os resultados mostram a contribuição fundamental das mulheres na economia local e na preservação dos espaços e recursos naturais de uso comum (estuários e manguezais), através de modos de apropriação comunal desses recursos oriundo de uma lógica de trabalho tradicional com base na família, associando direitos costumeiros e maneiras sustentáveis de uso da natureza aquática. No sistema tradicional de manejo dos recursos naturais, as pescadoras locais respeitam o ciclo e a capacidade de recuperação das espécies através da alternância dos Pontos de Pesca - local específico ou micro áreas onde é realizada a pescaria (BEGOSSI, 2004). Respeita-se o espaço de tempo de quinze dias a um mês para voltar a um mesmo ponto de pesca. Após esse período é, na expressão local das pescadoras, quando o “mangue está descansado”. Na realização do seu trabalho, enfrentam algumas dificuldades, como conciliar o cuidado da casa, marido e filhos com o trabalho na maré. Além disso, não ter uma embarcação própria também dificulta sua rotina, elas dependem de carona, pois ficar só no porto não é o bastante pra pegar mariscos, visto que neste espaço não se tem pescados o suficiente. A queda na produção gera um maior esforço e desgaste físico pra conseguir o mínimo de pescados necessário ao sustento da família.
CONCLUSÕES:
Embora a pesca feminina seja expressiva no estado de Sergipe, há ainda a invisibilidade do trabalho dessas pescadoras e de sua importância econômica, política, cultural, como também para a preservação dos ecossistemas costeiros. Essa invisibilidade é percebida na ausência de trabalhos acadêmicos, inclusive nas ciências sociais, voltados a esse tema, bem como pela falta de dados disponíveis através de setores governamentais da área da pesca. O trabalho de pesquisa aqui desenvolvido foi um esforço valioso de aprendizagem do universo da pesquisa sociológica / antropológica, como de conhecimento e reconhecimento da importância do trabalho pesqueiro feminino para Sergipe, inclusive sobre os modos tradicionais de uso dos locais de pesca, conhecimentos ancestrais, trabalho singular e sustentabilidade pesqueira.
Palavras-chave: Pesca artesanal feminina, Uso comum dos recursos naturais, Invisibilidade.