65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
O IMAGINÁRIO MIDIÁTICO E SUAS REPRESENTAÇÕES EM PRÁTICAS CORPORAIS INFANTIS
Sheila da Silva Machado - Profa. Esp. SEEDF. Mestranda - Universidade de Brasília - UnB
Joana D'Arc Sílvia Goudinho Arrelaro - Profa. Esp.- Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal - SEEDF
Ingrid Dittrich Wiggers - Profa. Dra./ Orientadora - Faculdade de Educação Física - UnB
INTRODUÇÃO:
Práticas corporais constituem o conjunto de manifestações culturais que evidenciam a dimensão corporal, destacando-se nesse caso as brincadeiras infantis. A literatura sugere a relevância que a mídia vem exercendo na educação das crianças, nos tempos atuais. De acordo com pesquisas sobre a relação entre a mídia e a infância, percebemos que a imagem da televisão é um ponto de partida para a formação do imaginário das crianças, tornando-se suporte para desenhos, brincadeiras e, sobretudo conversas entre elas, ao preencher o conteúdo das rodas infantis conforme Girardello (2005). O reconhecimento da necessidade de estudos da interação das crianças com a mídia e suas representações em práticas corporais é baseado em concepção de criança como agente ativo e de direitos, inserida em uma sociedade, onde para além de reproduzir as relações, pode construir novos sentidos e intervir nas práticas sociais e culturais de acordo com Corsaro (2011) e Müller (2008). Analisar como a criança se coloca nesse processo envolve superar a concepção tradicional de infância, que a compreende como uma etapa passiva e de dependência de adultos. Parte-se, assim, da crítica da perspectiva de infância desprovida de historicidade, submetida a um processo de expropriação de condição de ser humano.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Identificar e analisar práticas corporais infantis, de crianças entre 8 e 10 anos de idade, enfocando a presença das mídias e suas mensagens.
MÉTODOS:
Foi realizada pesquisa de campo, de cunho qualitativo, envolvendo produção de dados em uma escola da rede pública de ensino do Distrito Federal. As técnicas utilizadas compreenderam observação participante; coleta de desenhos; conversas com as crianças; e aplicação de “formulário sobre práticas culturais e de consumo de mídias”. Acompanhamos uma turma do terceiro ano do Ensino Fundamental, formada por um total de vinte e seis crianças, as quais produziram noventa e oito desenhos distribuídos em quatro títulos: “Como sou”; “Brincadeira predileta na escola”; “Brincadeiras preferidas em casa”; e “O que quero ganhar de Natal”. A coleta de desenhos e conversas com as crianças permitiram a identificação e interpretação de práticas corporais que vivenciam em seu cotidiano. Conforme Gobbi (2009) os desenhos infantis podem evidenciar a perspectiva das crianças cuja análise supera a observação. As conversas por sua vez, auxiliaram no entendimento do significado do conteúdo dos desenhos. As evidências obtidas por meio da observação foram classificadas e organizadas em categorias, de acordo com Bogdan e Biklen (1994). O formulário foi respondido pelas crianças e preenchido pela pesquisadora, estes forneceram dados de contexto e acesso das crianças a práticas culturais e de consumo de mídias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A exposição dos resultados foi desenvolvida em torno de categorias de análise significativas, tanto em relação ao referencial teórico quanto a partir do trabalho empírico. São elas: “espaço para brincadeiras”; “mídias como brinquedo”; “imaginário e corporalidade infantil”. Nos espaços aos quais as crianças têm acesso para brincar a “escola” obteve 21% das respostas. Quando não estão na escola, muitas crianças são obrigadas a permanecer em “casa”, que representou 22%. Nas brincadeiras em casa se destacaram o “computador” (41%) e a “televisão” (23%), evidenciadas também nos desenhos. A tendência ao consumismo de produtos veiculados por propagandas nos intervalos da programação infantil, também foi identificada. De acordo com Girardello (2005), as mídias oferecem conteúdos para as brincadeiras, preenchendo o imaginário das crianças com suas mensagens e valores. Outras atividades ocupam lugar de destaque na cultura infantil, entre as meninas a brincadeira de “pular corda” foi assinalada por 80% como sendo a preferida. Os meninos, por sua vez, preferem o “futebol” (99%). Percebemos que o mundo demonstrado pela mídia é refletido na corporeidade das crianças, tal como Wiggers (2005), que evidenciou a estreita relação entre mídias e representações corporais no universo infantil.
CONCLUSÕES:
A mídia está presente de forma contumaz no imaginário e nas práticas corporais infantis. As crianças passam muito tempo dentro de seus lares brincando no computador ou assistindo à televisão, entre outros motivos, por causa do elevado índice de violência na cidade. Brincadeiras feitas com as mídias denotaram uma tendência ao consumismo, que foi evidenciada nos trajes, brinquedos e objetos pessoais, que representam novidades e produtos amplamente divulgados pela publicidade. Embora a televisão exerça influência significativa nas práticas corporais infantis, esse não foi o único traço determinante dessas práticas, pois as crianças demonstraram grande interesse por brincadeiras tradicionais, como “pular corda”, “pique-cola” e “futebol”, entre outras. Por fim, cabe ressaltar que à escola, por ser instância privilegiada de socialização das novas gerações, se impõe o desafio de oferecer mediações pedagógicas relacionadas à mídia. Segundo Belloni (2010), caberia ao professor, por meio da sua prática pedagógica, interferir criticamente nos efeitos pedagógicos das mídias, de modo que suas mensagens sejam questionadas e refletidas pelas crianças e que estas façam escolhas e apropriações dos discursos midiáticos de forma crítica e autônoma.
Palavras-chave: Infância, Mídias, Corpo.