65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
Metabólitos secundários bioativos de fungos endofíticos obtidos de Rosmarius officinalis
Rubens Ferracini Junior - Centro Universitário Barão de Mauá
Virna Aina Mankievich - Centro Universitário Barão de Mauá
Fernanda Ancona Tardelli - Centro Universitário Barão de Mauá
Aristeu Gomes da Costa - Centro Universitário Barão de Mauá
INTRODUÇÃO:
Micro-organismos endofíticos são encontrados no interior de tecidos vegetais, sem causar danos ao espécime hospedeiro. A natureza das relações entre estes micro-organismos e seus hospedeiros vegetais, tem sido motivo de muita pesquisa, já que, embora muito se tenha analisado sobre a possibilidade dos endofíticos serem provedores altruístas, não se pode deixar de imaginar o potencial para patogênese de micro-organismos já instalados nos tecidos vegetais. Na atualidade, muitos estudos com endofíticos caracterizam-se pelo aspecto da prospecção de moléculas bioativas, com finalidades terapêuticas ou para emprego em indústrias de alimentos e biotecnológicas em geral. Nesse sentido, alguns autores têm observado que moléculas antes tidas como produzidas por dada espécie vegetal, na verdade só as produzem quando o endofítico encontra-se instalado nos tecidos da planta. Seguindo esta linha, algumas plantas utilizadas na medicina popular, muitas vezes de forma empírica, têm características fisiológicas assemelhadas a de espécies vegetais das quais já se conhecem associações com endofíticos, e portanto, algumas destas plantas medicinais podem também conter tais micro-organismos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
- Analisar amostras de Rosmarinus officinalis (alecrim), quanto à ocorrência de microrganismos endofíticos, e determinar a capacidade das espécies isoladas em produzir substâncias com atividade antimicrobiana, visto ser o alecrim também utilizado em preparações anti-sépticas.
MÉTODOS:
Amostras de Rosmarinus officinalis (alecrim), obtidas junto a herbários locais, foram submetidas à caracterização botânica morfológica, para correta identificação dos espécimes. Após, folhas sadias foram separadas, e submetidas a desinfecção externa com isopropanol a 70%, e em seguida com hipoclorito de sódio, e enxaguadas em água estéril. Em seguida, as folhas foram fragmentadas, inoculadas em Batata-Dextrose Ágar e incubadas a 25ºC por 7 dias. Cada isolado fúngico obtido após esse período, foi transferido para tubo com Sabouraud-Dextrose Ágar, e mantidos a 25ºC por 7 dias. Em seguida, foram identificados pelas técnicas de colônia-gigante e laminocultivo. Então, cada isolado foi cultivado em Batata-Dextrose Caldo por 7 dias a 25ºC, seguida da separação de micélio e sobrenadante, por filtração. Sobrenadante e micélio filtrado (rompido por sonicação e centrifugado), foram submetidos a extração de bioativos em acetato de etila. Extratos brutos obtidos, foram purificados em evaporador rotativo, quantificados e ressuspensos em solução salina fisiológica tamponada (concentrações de 1000, 500, 250, 125 e 62 µg/mL), para uso em ensaios de atividade antimicrobiana, pela técnica da placa escavada, contra E. coli, S. aureus, P. aeruginosa, B. cereus e C. albicans.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir das amostras de Rosmarinus officinalis, foram isoladas 52 cepas fungicas, distribuídas entre os gêneros Fusarium, Verticillium, Penicillium, Phoma, Aspergillus, Mucor, Rhizopus e Absidia, em ordem decrescente de ocorrência. Com exceção dos três gêneros de zigomicetos encontrados, espécies dos demais grupos fungicos já foram relatados em associação com diversos outros grupos vegetais. Entretanto, apenas espécimes de Fusarium, Penicillium e Aspergillus, foram capazes de produzir extratos com atividade antimicrobiana, e apenas para sobrenadante de cultura, embora os espectros de ação tenham sido bastante variáveis, sugerindo composição química bem distinta entre os grupos. Desses extratos, notou-se uma ação antibacteriana mais nítida do que antifúngica, embora não homogênea. Como exceção, apenas o extrato de sobrenadante de cultura de uma cepa de Fusarium oxysporum, apresentou expressiva atividade anti-Candida albicans. De maneira geral, as duas cepas de bactérias Gram (+) utilizadas em desafio, mostraram-se mais suscetíveis aos extratos de sobrenadante de cultura dos isolados dos três gêneros.
CONCLUSÕES:
Muitas plantas medicinais, utilizadas em diferentes tipos de preparações, são indicadas por seus efeitos anti-sépticos e antimicrobianos, sugeridos ou comprovados. Várias espécies destes vegetais estão inclusive contempladas na relação nacional de fitoterápicos. Entretanto, a eficácia de terapêuticas envolvendo essas espécies vegetais depende de muitos fatores, como a partida do vegetal, condições de cultivo, condições de transporte e estocagem, técnicas de preparação, que com certeza influenciam a concentração final dos bioativos presentes em cada amostra. Micro-organismos endofíticos, presentes nestes vegetais, se na verdade são a fonte destes bioativos relativos às propriedades terapêuticas atribuídas à planta, são elementos de manuseio muito mais fácil e produtivo do que cultivares do vegetal original. Desta forma, se em processos de bioprospecção em vegetais, conseguirmos recuperar as espécies microbianas responsáveis pela produção de bioativos específicos, essa produção em escala laboratorial, será muito maior do que com plantações do vegetal. Dos resultados obtidos neste estudo, sugere-se que o efeito anti-séptico de preprações de Rosmarinus officinalis, pode na verdade ser alcançado por bioativos produzidos por Fusarium oxysporum, Fusarium moniliforme, Penicilium citrinum e/ou Aspergillus ochraceus, que podem ter um rendimento bem superior em produção quando isolados do que quando consorciados ao vegetal.
Palavras-chave: endofíticos, farmácia popular, metabólitos secudários.