65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
A EDUCAÇÃO INDÍGENA NA BARREIRA DAS MISSÕES DE BAIXO, TEFÉ-AM
Felipe Francisco Coelho - Universidade do Estado do Amazonas
Dayane Feitosa Lima - Universidade do Estado do Amazonas
Nayandra Gomes Nery - Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:
A urgência da educação diversificada como meio de garantia da identidade cultural dos povos indígenas levou-nos a campo a fim de que fosse verificada a relação teoria-prática entre a legislação em vigor e o cotidiano do ensino em uma escola indígena, bem como sua aplicabilidade e coerência com as necessidades locais. Nosso objeto de pesquisa situa-se na Comunidade Indígena Santa Cruz, na Barreira das Missões em Tefé-AM às margens do rio Solimões e a cerca de 40 quilômetros do centro da cidade onde 250 alunos, acompanhados por 15 professores (apenas 4 indígenas), lecionam do ensino infantil ao médio, este oferecido na modalidade à distância. Abrange ainda o 1º e 2º segmento do EJA (educação de jovens adultos), o ensino médio e o EJA, funcionam como um anexo da Escola Estadual Frei André, que fica na área urbana da cidade. Uma parceria Estado-Município na educação desta região. Segundo Faulhaber (1998, pg 92), os descimentos, as demarcações de terra equivocadas por parte da FUNAI e a busca das políticas públicas oferecidas pela cidade fizeram com que diversas etnias migrassem para a região da Barreira das Missões, realizando o cruzamento de várias culturas indígenas, agravadas ainda pela influência estrangeira das Missões (filme A Missão – 1986) e pelo intercâmbio cultural realizado no contato com os professores da cidade.O foco de nossa pesquisa foi voltado para a educação indígena abraginda a formação inicial do professor desta modalidadade de ensino.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Identificar os objetivos que norteiam a educação indígena, os conteúdos escolares e a formação inicial dos professores que irão atuar nas comunidades indígenas.
MÉTODOS:
Para realização da pesquisa foram adotadas as seguintes atividades:
1.Levantamento e leitura dos dados bibliográficos;
2.Entrevista com secretários, professores e alunos da comunidade indígena visitada;
3.Entrevista com professores e alunos que participam da formação inicial do professor da educação indígena;
4.Análise dos dados coletados e
5.Discussão dos temas pelo grupo de pesquisa.
- A pesquisa tem cunho etnográfico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Não cumprimento das disposições legais referentes à educação indígena, na comunidade existem três etnias (Kambeba, Kokama e Tikuna), só uma recebe o ensino da língua materna (Tikuna). Em relação ao processo de aprendizagem, o que se pôde observar foi o ensino tradicional, não privilegiando o material didático e programas específicos ao indígena, como o Refrencial Curricular Nacional para a Educação Indígena. Conforme cita FERRO (1924, pg13) uma matriz da história dominante marca a consciência coletiva de cada sociedade. Existem dois projetos para viabilizar a formação inicial dos professores que atuarão na educação indígena: o Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciaturas Indígenas, formação em 4,5 anos e o PIRA YAWARA em dez módulos, os quais ocorrem no período de recesso escolar. Na comunidade visitada apenas um professor cursou o PIRA YAWARA, enquanto outro cursa o PROIND. Faltam políticas públicas em relação à infraestrutura e oferta de formação continuada, que é assegurada pela Leis de Diretrizes e Bases da Educação. Negação da identidade cultural: poucos preservam a língua e os costumes, a cultura cristã é o parâmetro. Grupioni (2006, p26) cita a imposição da escola indígena como elemento de integração nacionalista e homogeização cultural. Os alunos não tem interesse em aprender a língua materna e na região foi solicitada a mudança do nome da escola indígena para apenas escola. Conflitos: existem três etnias e apenas um Tuxáua.
CONCLUSÕES:
A escola indígena também participa do sistema educacional brasileiro como aparelho ideológico do estado. Seus escassos meios foram disponibilizados à medida que o povo local já estivesse dependente do estado através do assistencialismo da FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO – FUNAI, o atual sistema comunal indígena se sustenta apenas graças ao assistencialismo do poder estatal através do fornecimento da energia elétrica, acesso ao sistema de saúde, concessão de bolsas e alimentos, dentre outros. Os conteúdos escolares corroboram com unidade do estado através do pensamento comum, excluindo os diferentes, ao invés de integrá-los à sua própria diversidade. Longe do mito do índio hiper-real existe uma comunidade humilde, um bolsão de pobreza onde alunos de pés descalços apreendem sobre os heróis nacionais. Ao nos unirmos aos professores da comunidade, buscamos criar meios de inserir a cultura e a história do povo nos conteúdos a serem ministrados em aula, bem como o debate e as discussões para a formação da criticidade necessária ao entendimento do contexto sociopolítico em que estão inseridos como comunidade indígena no cenário nacional e orientá-los a reivindicar seus direitos através da mobilização da comunidade. A preservação da identidade começa em conhecer sobre si e sobre os seus. A partir de então será mais fácil avançar num terreno ainda muito incipiente da educação brasileira: a educação indígena.
Palavras-chave: Educação Indígena, Diversidade, Cultura.