65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
LUIZ GONZAGA E A SECA DO NORDESTE – CONSTRUINDO IDENTIDADE E VIVENCIANDO A CIDADANIA
IVANEIDE PAES DE LIMA SILVA - PREFEITURA DO RECIFE
INTRODUÇÃO:
Estamos vivenciando mais uma vez em nossa região, uma grande estiagem, que ainda hoje, apesar de toda tecnologia, tem consequências trágicas para o povo nordestino. O tema trabalhado, A Seca do Nordeste, é parte da história dos estudantes de EJA da Escola Municipal Sítio do Berardo, e deixa-os muito sensibilizados, pois eles têm suas origens nas diversas regiões do interior de Pernambuco e de outros Estados nordestinos vizinhos. Para Paulo Freire, deve-se partir sempre de experiências do homem com a realidade na qual está inserido, cumprindo também a função de analisar e refletir essa realidade, no sentido de apropriar-se de um caráter crítico sobre ela. Esse caráter de transformação tem uma razão de ser, pois provém antes de tudo, da sua vivência pessoal e íntima numa realidade contrastante e opressora, influenciando fortemente todas as suas ideias. Esta realidade tão sofrida está retratada nas músicas de Luiz Gonzaga, homenageado pela Secretaria de Educação da Prefeitura do Recife, nos 100 anos de seu nascimento. Os noticiários e as letras das músicas de Luiz Gonzaga nos estimulou o aprofundamento de estudos sobre o homem nordestino e suas experiências com a seca.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esse trabalho teve como objetivo, compreender o homem nordestino e suas experiências com a seca, através da discussão de problemas sociais que são ricamente mencionadas nas músicas de Luiz Gonzaga. Proporcionar a formação da cidadania e a construção da identidade, compartilhando experiências, experimentando diferentes sensações e desacomodando percepções.
MÉTODOS:
Realizarmos esse projeto com os alunos de EJA do módulo III, na Escola Municipal Sítio do Berardo da Prefeitura do Recife. Fizemos a leitura e debatemos as reportagens de jornais atuais e pesquisamos no laboratório de informática sobre a seca do Nordeste, no presente e no passado. Pesquisamos a biografia e as músicas de Luiz Gonzaga que tinham relação com a seca do Nordeste. Analisamos as letras das músicas, cantando e refletindo o seu conteúdo. Visitamos o Museu do Homem do Nordeste, e em seguida, como culminância, foi feita uma exposição através de um mural, dos trabalhos produzidos pelos estudantes e na ocasião festejamos com muita comida típica nordestina e dançamos muito ao som de muito forró do nosso querido Rei do Baião. Os estudantes foram estimulados a aprofundar estudos a partir da observação, buscando novos conhecimentos através do investigativo. Conhecimento, socialização, atitudes, habilidades, argumentação e resolução de problemas foram aspectos metodológicos ricamente trabalhados durante o desenvolvimento do projeto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Durante o desenvolvimento do trabalho, os estudantes experimentaram diferentes sensações. Na visita ao Museu do Homem do Nordeste, os estudantes se reconheceram nos ambientes e os sentiram como seus. Nos momentos das pesquisas, na análise das músicas e nos debates, foram muito participativos e se envolveram com muita emoção. A identidade cultural move sentimentos, valores e uma infinidade de itens impregnados nas mais variadas sociedades do mundo, e apresenta o reflexo da convivência humana. Paulo Freire entende que cidadania é resultado da assunção entre sujeitos, individuais e culturais, de relações horizontais, dialógicas e interativas, que, permeadas pela ética crítica, proporcionem, aos mesmos, a oportunidade de troca de aprendizados e a possibilidade de construírem-se na construção alheia. A construção da cidadania supõe a possibilidade de criar espaços educativos nos quais os sujeitos sociais sejam capazes de questionar, de pensar, de assumir e também, de submeter à crítica os valores, as normas e os direitos, compartilhando experiências.
CONCLUSÕES:
Paulo Freire afirma que educação é um encontro entre interlocutores, que procuram no ato de conhecer, a significação da realidade e na práxis o poder da transformação, a prática não pode ater-se à leitura descontextualizada do mundo, ao contrário, vincula o homem nessa busca consciente de ser, estar e agir no mundo num processo que se faz único e dinâmico. Ou seja, é apropriar-se da prática dando sentido à teoria. Essa experiência foi muito positiva, e percebemos os resultados na participação de todos de uma forma geral, no envolvimento nos debates, na criatividade dos trabalhos e demonstração de interesse nas pesquisas. Esses estudantes de EJA vivenciaram a cidadania, operando mudanças individuais em cada um deles de forma gradual e determinada segundo as vivências pelas quais eles mesmos passaram. Concluímos que a construção do conhecimento acontece a todo o momento no seio do mundo e envolvem variáveis que vão além do cognitivo, envolvendo o sensitivo, o motor, o estético, o intuitivo e o emocional.
Palavras-chave: IDENTIDADE, CIDADANIA, EJA.