65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História
Festa na Igreja e festa de largo: religiosidade e conflitos nos festejos de São Boaventura, Jesus, Maria e José e São Sebastião em Canavieiras – Bahia (1951-1969).
Oslan Costa Ribeiro - Licenciatura em História - Departamento de Filosofia e Ciências Humanas - UESC
Janete Ruiz de Macêdo - Profa. Dra./Orientadora - Departamento de Filosofia e Ciências Humanas - UESC
INTRODUÇÃO:
Essa pesquisa abordou os festejos de São Boaventura na Igreja Matriz e também, as festas de Jesus, Maria e José e do mártir São Sebastião na Capela da Sagrada Família conhecida como "Capelinha", entre 1951 a 1969. Dentro desse período, as fontes consultadas nos apontaram nesse período, muitos acontecimentos na paróquia de Canavieiras - BA. Festas, construções e inaugurações, romarias, procissões, celebração de jubileu paroquial e muitos conflitos. Conflitos esses não só ocorridos nas festas de São Boaventura, mas, também nos festejos da igreja da Capelinha.
Achamos por bem, não limitar a pesquisa somente nas festas do padroeiro, realizadas anualmente naquela época de 05 a 14 de julho, e sim ampliá-las também para as festas da Capelinha, de 20 de dezembro a 20 de janeiro, iniciada nos festejos natalinos até a festa do mártir São Sebastião. Encontramos fontes referentes a esse outro festejo religioso nos livros de tombo da paróquia de São Boaventura, nos apontando esse outro espaço social e que se torna bem interessante nossa análise fazendo esse contraponto, mostrando que Canavieiras não era só feita de elite e do dinheiro vindo principalmente da cultura cacaueira.
Com isso buscaremos entender o papel da festa do padroeiro São Boaventura, em sua Igreja Matriz, e dos festejos prolongados de Jesus, Maria e José e do mártir São Sebastião, na simples igreja da Capelinha.
Duas igrejas, dois espaços, duas classes sociais e duas formas de religiosidades e de festejar diferentes.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar as diferenças dos grupos sociais que realizavam essas duas festas, seus diferentes modos de se festejar numa mesma cidade em dois espaços diferentes.
MÉTODOS:
A realização dessa pesquisa se fundamentou principalmente em fontes primárias como, programas-convite das festas de São Boaventura de 1951 a 1969, notícias e notas em fontes hemerográficas no jornal “Tabu”, de Canavieiras, encontradas no acervo do próprio jornal em Canavieiras - Bahia. Livro de tombo da Paróquia de São Boaventura de Canavieiras, livro de Portarias e Provisões da Diocese de Ilhéus, além de poder contar com ensaios e obras de memorialistas canavieirenses sobre o cotidiano festivo religioso do município. Além disso, contamos com o acervo iconográfico deste período das festas de São Boaventura e das outras festas religiosas católicas em Canavieiras, existentes em acervo acumulado pelo bolsista pesquisador.
Buscamos informações para cruzar pistas sobre as práticas e relações nas festividades do padroeiro na Igreja Matriz, e dos festejos natalinos e do Mártir São Sebastião na igreja da Capelinha, apurando quem foram seus personagens, organizadores e patrocinadores envolvidos em sua realização. Da mesma forma investigamos as modalidades e a participação popular nas festas de largo da Igreja Matriz e na Capelinha existentes no recorte proposto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Para a Igreja Católica, nesse recorte (1951-1969), as expressões religiosas populares eram vistas como rústica, incompleta e até mesmo incorreta sendo alvo de tentativas de intervenção por parte da Igreja Apostólica Romana. Esse processo se agudiza no Brasil após a instalação da República e a separação da Igreja e o Estado. A reforma da religiosidade popular passa pelo controle clerical das capelas e santuários. Com a jurisdição territorial, toda capela é integrada numa paróquia, e os santuários entregues a congregações religiosas estrangeiras que exercem funções paroquiais e controlam a devoção popular.
A festa de São Boaventura na Igreja Matriz era uma festa religiosa dentro dos padrões da Igreja romana, onde a elite dominava a organização, a arrecadação financeira, a realização da festa de largo bem comportada, com quermesses e leilões de prendas doadas pelas famílias de maior vulto, como meio de se manter e conseguir mais prestígio perante a “sociedade”.
Nas festas da Capelinha, por ser um reduto de gente humilde, a elite pouco tomava parte, até mesmo por não achar espaço para tal, sendo taxada como uma festa de libertinagem e total falta de religiosidade, como Del Priore, Amaral também assim define as festas, como um espaço de disputas de afirmação de um grupo, nesse caso entre a Igreja e os leigos, entre o sagrado e o chamado lado “profano”, entre a renovação e a permanência de costumes.
CONCLUSÕES:
Ao redor de uma festa religiosa, festa de São Boaventura, fé e poder dividem o mesmo espaço, nesse mesmo espaço a elite domina a festa, e também determina como se festejar em concordância com a Igreja. Festa comportada dentro e fora da Igreja Matriz. Na Praça da Matriz, música somente das filarmônicas em seus dobrados e de repertório repleto de marchas militares.
Em outro espaço a elite não tem espaço, é reduto do povo, onde o povo exerce o poder, determina como se festejar e se entregam a balbúrdia envolta de suas músicas e danças, e que usam da desculpa de festejar Jesus, Maria e José e o mártir São Sebastião, quando na verdade queriam mesmo era a libertinagem e a bebedeira até altas horas da madrugada na festa de largo, segundo opinião da Igreja sobre as festas da Capelinha nesse período (1951 – 1969).
Muitos conflitos entre o sagrado e o profano, entre a elite e o povo, quando falamos aqui de profano, não corroboramos com o peso que a Igreja Católica impõe a essa palavra, simplesmente utilizamos a palavra profano para diferenciar as festas de largo das festas dentro da igreja.
Palavras-chave: Festejos religiosos, Religiosidade, Igreja católica.