65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária
VOZES E TEMPOS NO ROMANCE OS HABITANTES DE DALCÍDIO JURANDIR
Flávia Roberta Menezes de Souza - UFPA
Gunter Karl Pressler - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Letras - UFPA
INTRODUÇÃO:
O plano de pesquisa “Vozes e Tempos no romance Os Habitantes de Dalcídio Jurandir” é parte do projeto “O Inventário do Arquivo Dalcídio Jurandir (1909-1979) no Acervo-Museu da Literatura Brasileira (AMLB/FCRB) e nos Acervos Particulares”, coordenado pelo professor Dr. Gunter Karl Pressler. O oitavo romance da saga Extremo Norte, Os Habitantes (1976), recebeu pouca notoriedade em trabalhos acadêmicos. A carência de abordagens é justificada por alguns autores de trabalhos sobre o romancista como Olinda Assmar (2003), que afirma a semelhança deste aos demais da saga, não havendo necessidade de estudá-lo separadamente. Os Habitantes possui como particularidade a presença de múltiplas vozes e a proposta de estudar a estrutura narrativa do romance, a partir do conceito de voz na compreensão de Gérard Genette (1995) e Mikhail Bakhtin (2010), contribuiu para qualificar o trabalho com a linguagem realizado pelo romancista, oferecendo uma descrição e interpretação da forma peculiar com que é construída a narrativa, destacando a singularidade do romance.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A pesquisa tem como principal objetivo focalizar a singularidade do romance a partir de sua estrutura narrativa, abordando o conceito de voz na concepção de Gérard Genette e Mikhail Bakhtin. Aprofundar a reflexão teórica sobre o termo “voz” em Genette (1995) e Bakhtin (2010), exemplificando detalhadamente no romance Os Habitantes.
MÉTODOS:
Primeiramente, foram coletadas resenhas críticas publicadas em periódicos de 1976, no acervo pessoal do romancista para análise. Em seguida, foi realizado um levantamento dos trabalhos acadêmicos que abordaram toda a Saga do romancista, a fim de encontrar alguma relação entre os textos da crítica e os trabalhos acadêmicos, principalmente no que diz respeito à composição do romance, à sua linguagem e estrutura narrativa. Posteriormente, após a leitura do romance e as contribuições acerca da categoria tempo de Gérard Genette, foi apresentada a diegese do romance. A segunda etapa da pesquisa desdobrou-se sobre o termo “voz”, ao lado dos termos “tempo” e “modo”, as categoria fundamentais “de constituição do discurso narrativo” (Reis; Lopes, 1988, p. 140). Em seguida, foi feita uma abordagem da voz no romance a partir das contribuições de Mikhail Bakhtin (2005; 2010). Ao finalizar esta etapa de compreensão teórica, realizou-se uma descrição da estrutura do romance, apropriando-se dos termos apreendidos durante a reflexão teórica, exemplificando com trechos significativos da narrativa. Nesta etapa, destacaram-se as particularidades narratológicas encontradas, as quais contribuem para revelar a singularidade do romance estudado no contexto da obra de Dalcídio Jurandir.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise dos documentos encontrados no acervo do escritor mostrou a necessidade de resgatar a fala dos críticos que já apontavam há bastante tempo determinadas peculiaridades na obra do romancista Dalcídio Jurandir. A necessidade de uma nova postura crítica e teórica foi percebida em 1976 por Fausto Cunha e, no entanto, em 2010, Gunter Pressler chama a atenção para este mesmo aspecto. Compreender a forma com que o romancista constrói sua narrativa é um modo de reconhecer o comprometimento do escritor com o seu projeto narrativo e poético, intimamente ligado às necessidades de uma nova representação da cultura, do lugar e do povo amazônico no contexto literário do romance moderno. A discussão empreendida nesta pesquisa, ao dialogar com as teorias de Mikhail Bakhtin e Gérald Genette, revelou-nos um romancista veiculador de um discurso narrativo peculiar, ao permitir que os próprios personagens contassem sua história, ou versão da mesma, com plena independência, como salienta Bakhtin nos romances de Dostoiévski. A leitura dos estudos de narratologia de Gérard Genette, por sua vez, proporcionou a descrição do ponto de vista mais estrutural e funcional de cada voz no romance.
CONCLUSÕES:
A crítica contemporânea ao lançamento do romance, ao discutir as qualidades estéticas da obra de Dalcídio Jurandir, ora compreendendo-a como inovadora, ora apontando-a como “bárbara” (Álvaro Lins, 1941) e de difícil leitura, devido aos recursos linguísticos utilizados pelo romancista e à própria fugacidade do enredo, claramente não possuía recursos teóricos para avaliar a construção narrativa do romancista. Os Habitantes foi um dos mais apontados, dentre os trabalhos do romancista, como um romance de leitura dificultosa, daí o interesse da pesquisa em verificar os juízos estabelecidos. Todo o drama do romance é desvendado e revelado ao leitor por meio das vozes. Em alguns momentos a personagem não está presente fisicamente, mas sua voz lateja, por assim dizer, nas páginas do romance. Sua voz tem autoridade no discurso, pois é por meio da própria que sabemos o que aconteceu em tempos passados. Por vezes, o narrador cede toda a palavra ao sujeito dono de sua própria história, de seus sentimentos.
Palavras-chave: Discurso narrativo, Instância narrativa, Polifonia.