65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 8. Economias Agrária e dos Recursos Naturais
Sustentabilidade de acordo com determinados indicadores biofísicos, sociológicos e econômicos em Comunidades Rurais do Semiárido Cearense.
Daniel Paraguay Alves Santos - Curso de Geografia - Universidade Estadual do Ceará - UECE
Déa de Lima Vidal - Profa. Dra./Orientadora - Faculdade de Veterinária - UECE
Marciana Lima Soares - Universidade Federal do Ceará - UFC
INTRODUÇÃO:
Há várias décadas a natureza complexa das inter-relações entre produção agropecuária e meio ambiente vem sendo analisada. No entanto, o corpo de conhecimentos alcançados que permitirão o desenvolvimento sustentável rural em diferentes regiões do planeta, ainda não se evidencia suficiente, principalmente em áreas frágeis, como o semiárido nordestino no Brasil. Dispondo de meios limitados a agropecuária camponesa desse semiárido, orientada inicialmente para a produção de subsistência, vem sendo condicionada ao agronegócio para fortalecê-lo sem cessar, gerando uma situação de pobreza à medida que é submetida a uma modernização inadaptada, a uma superexploração do meio ambiente e à sua degradação. A consideração da unidade rural camponesa (UR) como um complexo sistema de atividades e objetivos do grupo familiar que a dirige, pressupõe a existência de múltiplas inter-relações entre suas dimensões e o entorno tanto biológico como socioeconômico. Assim, nos estudos sobre sustentabilidade dos sistemas de produção agrária essas inter-relações são captadas por meio da análise sistêmica das três dimensões básicas da unidade rural, ou seja, a sociológica, a biofísica e a econômica.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo do estudo foi avaliar comparativamente a sustentabilidade da produção agropecuária camponesa de diferentes comunidades em região semiárida do Estado do Ceará por intermédio de determinados indicadores de dimensão sociológica, biofísica e econômica.
MÉTODOS:
Foram estudadas 96 UR de 6 comunidades do Município de Tauá, região semiárida do Estado do Ceará, a saber: Junco (J) (n=22), Tapera (TA) (n=22), Lustal 1(L1) (n=19), Lustal 2 (L2) (n=8), Tiassol (TI) (n=15) e Queimadas (Q) (n=10) cuja representatividade amostral aleatória corresponde a 31,48% das 305 UR residentes no total. A coleta de dados originais foi realizada através de questionário aplicado no local. Foram calculados, por comunidade rural, indicadores médios relativos às dimensões de sustentabilidade rural, a saber: (i) sociológica (antiguidade da UR em anos, número de sucessores e idade do titular em anos), (ii) biofísica (% de diversificação agrícola-DV, hectares de superfície total - ST - e % de superfície agrária útil - SAU) e (iii) econômica (% de unidade de trabalho familiar anual em relação ao trabalho total anual e % de orientação produtiva-OP). O DV evidencia a porcentagem de área plantada com outras culturas que não as principais e a OP a participação de cada atividade rural no total da renda anual, permitindo análise complementaria entre produção agrícola e pecuária. Na sequência, as variáveis foram submetidos à ANOVA um critério, associada ao teste de Fisher.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Apenas os indicadores sociológicos se mostraram sustentáveis em todas as comunidades. TA é a que pratica a agricultura mais diversificada mesmo não se diferenciando estatisticamente da DV de J e TI. Em TA se evidencia ainda, a orientação produtiva mais plural, pois se combinam cultivos cerealistas, forrageiros, horta e pomar com pecuária de pequenos ruminantes laborados por mão-de-obra essencialmente familiar. Essa comunidade dispõe de uma das menores ST associada a uma das maiores SAU, condição que não inviabilizou sua capacidade de diversificação agrícola e pecuária, tal como a literatura sobre produção camponesa vem evidenciando. Apesar de não haver diferenças significativas entre os anos de existência e entre o número de sucessores por comunidade, observa-se que em TA encontram-se as UR mais jovens geridas por titulares de idade intermediária com o segundo maior número de sucessores. Contrariamente, Q se evidencia como a de atividades agrícolas mais homótonas, pois apresenta a menor DV associada à OP vegetal dominante, praticadas por trabalho familiar predominante na significativamente menor SAU. Em J e TI foi observado que o DV se apresenta estatisticamente similar ao de TA, e nas de L1 e L2 similar ao de Q.
CONCLUSÕES:
O estudo possibilitou a avaliação comparada da provável sustentabilidade de seis comunidades rurais de acordo com determinados indicadores biofísicos, sociológicos e econômicos. Em TA, J e TI, dirigidas por titulares de idades estatisticamente diferentes, se evidenciaram mais sustentáveis, pois utilizam suas ST e SAU de maneira mais diversa ao associarem produção vegetal a atividades pecuárias de pequenos ruminantes, adaptados às condições semiáridas. Como os indicadores econômicos e os sociológicos, com exceção da idade do titular, não são diferentes estatisticamente entre as comunidades com maior probabilidade de sustentabilidade e as de menor probabilidade, recomenda-se para essas últimas, ou seja, L1, L2 e Q, a diversificação de suas produções vegetais, incluindo para uma e aumentando para outras a porcentagem de cultivos forrageiros e de produtos hortícolas e de pomar nas respectivas SAU, bem como o fortalecimento de pecuária de pequenos ruminantes em L1 por apresentar a maior SAU de todas as comunidades. Mesmo com reduzidas ST, as SAU de todas as comunidades, com exceção de L1, devem ser ampliadas para no mínimo 50%, o que aumentará a viabilidade de suas sustentabilidades nessa região frágil semiárida. Estudos complementares devem ser feitos incluindo outros indicadores.
Palavras-chave: áreas frágeis, sustentabilidade, produção camponesa.