65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 8. Teatro e Opera
O Palhaço: Visões sobre a composição da indumentária nas montagens do Auto da Compadecida pelo Studio Teatral (1957) e na Tchecoslováquia (1971).
Amanda Caline da Silva Omar - Depto.de Teoria da Arte e Expressão Artística - UFPE
Cláudia Joyce Alves do Nascimento - Depto.de Teoria da Arte e Expressão Artística - UFPE
Carlos Newton de Souza Lima Júnior - Prof. Dr./Orientador - Depto.de Teoria da Arte e Expressão Artística - UFPE
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é parte do projeto de pesquisa “Teatro de Ariano Suassuna: memória das montagens”, desenvolvido nas pesquisas do PIBIC, e tem como destaque as referências estrangeiras na construção visual da montagem da obra Auto da Compadecida , apresentada na Tchecoslováquia em 1971.
A obra estreou nos palcos brasileiros em 1956 com o Teatro de Adolescentes de Pernambuco, sendo encenada durante anos por inúmeras companhias como o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Essa obra do teatro popular circulou pelo Brasil e em países, como Portugal, por exemplo, que recebeu montagens brasileiras, como a da Companhia Cacilda Becker; já outros países, desenvolveram suas próprias versões como o Actor’s Studios, de Nova Iorque 1964.
A pesquisa que leva aos dados sobre essas montagens no exterior permitiu verificar entre outras coisas, as mais importantes montagens que circularam o mundo, possibilitando conhecer como os diretores estrangeiros conceberam e concretizaram a ideia do sertão nordestino em países como a Tchecoslováquia. Trazendo na composição dos elementos visuais, como figurinos, um pouco da visão desses encenadores, caracterizando personagens e cenários para as realidades de suas regiões.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Apresentar dados relevantes sobre a montagem do Auto da Compadecida na Tchecoslováquia (1971), focando a comparação dos figurinos criados a partir do ponto de vista estrangeiro para os personagens do sertão brasileiro; perceber singularidades das montagens realizadas no Nordeste e no exterior, para investigar as influências recebidas para realização do espetáculo fora do país.
MÉTODOS:
Os dados analisados nesta pesquisa encontram-se na Hemeroteca de Ariano Suassuna, material do acervo pessoal do autor, digitalizado no Laboratório do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco.
Os documentos foram armazenados em arquivos digitais, catalogados e divididos em subpastas. Trata-se de documentos de jornais, revistas e cartas que o autor tinha em seu poder e cedeu à pesquisa.
A maior parte dos artigos encontrados, pertence aos jornais brasileiros, referindo-se ao Auto da Compadecida, contando com número significativo de reportagens sobre a obra em outras línguas e passam por um processo cuidadoso de tradução.
Todos os dados sobre as encenações constam em uma ficha de histórico de montagens, criada a partir de informações que constam nas reportagens ou programa de espetáculos, e que contém todos os dados das montagens, desde o nome do diretor até as cidades na qual circulou. Com a ficha de histórico de montagem da apresentação realizada na Tchecoslováquia, foi possível iniciar o estudo comparativo com a encenação brasileira do Studio Teatral (SP).
Realizada através de leitura dos documentos coletados, desenhos dos figurinos das montagens, que facilitaram a comparação, assim como confrontar informações, buscando as características da montagem realizada no Nordeste e daquela executada longe da realidade onde a obra foi escrita.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A montagem da Tchecoslováquia (1971), apresentada no Teatro Vitezlava Nezvala, em Carlsbad, foi traduzida e encenada por Vitezslav Bartos, que levou ao palco uma imagem do Nordeste brasileiro diferente do que se estava acostumado a ver no Brasil. Desenvolveu assim, a representação desta obra popular fazendo uma releitura, deslocando-a para as referencias da Europa Ocidental e recriando as figuras dos personagens sob influências de sua região.
Com a imagem do figurino do Palhaço, encontrada no programa de espetáculos referente à estreia no país, foi possível comparar a indumentária confeccionada com a utilizada para vestir o personagem pelo Studio Teatral em 1957, São Paulo, sob direção de Hermilo Borba Filho, e criar as relações sobre as influências sofridas pelo encenador estrangeiro para compor visualmente os personagens da peça, no qual se percebe a falta de referencias nordestina.
O Palhaço tem sua imagem distanciada do popular brasileiro, que carregava em si a maquiagem colorida, as roupas estampadas e engraçadas, enquanto no espetáculo estrangeiro, é composto por poucas cores, sem estampa e maquiagem menos alegórica, afastando sua imagem da ideia do circo popular brasileiro, trazendo uma adaptação distanciada e pouco influenciada pelas ideias de Suassuna para composição do personagem.
CONCLUSÕES:
É impossível apresentar de forma precisa quantas encenações foram feitas pelo mundo ou até mesmo dentro do território nacional. É certo que o Auto da Compadecida foi traduzido para vários idiomas e encenadas em diversos países.
Poucos são os relatos e informações encontrados que trazem algum dado histórico concreto para uma maior análise das encenações, mas os raros documentos são imprescindíveis à pesquisa histórica da obra, pois esses relatos são os responsáveis pelo registro dos lugares por onde o espetáculo de Suassuna passou e assim é possível ter ideia de como a obra foi recebida, promovendo uma exportação da cultura brasileira para inúmeras partes do mundo.
A comparação da composição de figurino entre o espetáculo dirigido por Hermilo Borba Filho e por Vitezslav Bartos possibilita o entendimento de como a imagem desta obra teatral popular brasileira foi adaptada à Europa Ocidental, o que tornou possível perceber a forma como foi compreendido o texto original para a criação do espetáculo, e dar início a possibilidade de compreensão de ouras montagens em países cada vez mais distantes da realidade brasileira.
Nota-se uma grande importância desta obra, que visitou o mundo inteiro mostrando e divulgando personagens do sertão nordestino, e isso torna evidente a importância do Auto da Compadecida no quadro histórico do teatro brasileiro, sobretudo do teatro pernambucano.
Palavras-chave: Teatro, Ariano Suassuna, Figurino.