65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 1. Arqueologia Histórica
Caracterização Sedimentológica e Petrográfica de Seixos e Calhaus Recuperados na Região do Valongo, o Cais dos Escravos no Século XIX, Rio de Janeiro.
Artur Iró Rodrigues - Depto. de Geologia - UFRJ
Nina Bruno Teixeira de Souza - Colégio Pedro II
Beatriz Cristina Oliveira Duarte de Souza Santana da Silva - Colégio Pedro II
Renato Rodiguez Cabral Ramos - Prof. Dr./Orientador - Museu Nacional - UFRJ
Tania Andrade Lima - Profa. Dra./Orientadora - Museu Nacional - UFRJ
Eliane Guedes Ferreira - Profa./Orientadora - Museu Nacional - UFRJ
INTRODUÇÃO:
Durante as escavações arqueológicas realizadas no âmbito do Programa de Revitalização Urbana da Zona Portuária por equipe do Museu Nacional/UFRJ, foi encontrada uma grande quantidade de seixos e calhaus arredondados de variadas litologias, concentrados, sobretudo nas ruas São Francisco da Prainha, Sacadura Cabral e Coelho e Castro. Essa área, localizada nas proximidades do Valongo, o cais dos escravos, e da Pedra do Sal, constitui um dos pontos nevrálgicos da região conhecida por “Pequena África”, onde, na segunda metade do século XIX, concentrou-se numerosa população negra de diferentes etnias africanas. À luz das suas práticas mágico-religiosas, os “otás” ou “okutás”, são pedras-fetiche largamente utilizadas em rituais das religiões afro-brasileiras. Constituem normalmente seixos e calhaus arredondados coletados em rios e cachoeiras, que são consagrados aos orixás e utilizados em assentamentos sagrados, e também em feitiços.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho tem como objetivo realizar a caracterização sedimentológica e petrográfica dos seixos e calhaus recuperados nessa área rica em manifestações religiosas, visando verificar sua procedência.
MÉTODOS:
Análise dos aspectos texturais (sedimentologia), determinação do grau de arredondamento, a esfericidade, a classe granulométrica e a cor. Análise petrográfica, com descrição da composição mineralógica e a textura das rochas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O resultados da análise sedimentológica indicam que os seixos e calhaus apresentam granulometria variando de seixo médio (4 mm a 1,6 cm) a calhau grosso (12,8 a 25,6 cm); grau de arredondamento de muito bem arredondado a subarredondado, e esfericidade normalmente alta a moderada. A coloração varia de acordo com o litotipo, sendo os mais comuns formados por diabásio afanítico, diabásio porfirítico, rochas silicificadas (“silexitos”) e quartzo de veio. Menos comuns são os litotipos de rochas vulcânicas vesiculadas e rochas metamórficas. Em uma análise preliminar das lâminas petrográficas, foram descritas rochas formadas inteiramente por uma matriz de quartzo microcristalino (“silexitos”), que podem ser relacionadas à silicificação de carbonatos, rochas pelíticas ou vulcânicas. Um dos seixos descritos é composto por uma matriz de quartzo microcristalino com cristais euédricos de quartzo com embaiamentos, tipicamente de origem vulcânica. Os seixos de diabásio descritos apresentam texturas variando entre os tipos equigranular e porfiritico, sendo que o litotipo porfirítico contém cristais euédricos de plagioclásio.
CONCLUSÕES:
Pode-se concluir que os seixos e calhaus de “silexitos” e de rochas vulcânicas silicificadas não são naturais daquela área, tampouco do Estado do Rio de Janeiro. O grau de arredondamento elevado dos seixos e calhaus analisados confirma uma origem em ambiente fluvial, o que reforça sua proveniência alóctone.
Palavras-chave: petrografia, Valongo, século XIX.