65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 9. Artes
PERFORMANCE ESTUDO DE CASO - O ENCONTRO EFÊMERO ENTRE CORPOS ENFERMOS
Ingrid Kaline de Souza Lima - Depto. Teoria da Arte e Expressão Artística, UFPE, Recife/PE
Onézia de Lourdes Costa Lima de Souza Leão - Depto. Teoria da Arte e Expressão Artística, UFPE, Recife/PE
Leniée Campos Maia - Profª. Ma. Orientadora – Depto. de Patologia, UFPE, Recife/PE
INTRODUÇÃO:
Estudo de Caso surge na disciplina Prática de Ensino em Artes Cênicas pertencente ao curso de Licenciatura em Teatro, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O campo de estágio escolhido foi voltado à saúde, especificamente, dentro do ambulatório de quimioterapia do Hospital das Clínicas, anexo a UFPE. Este trabalho foi incluído no programa de extensão acadêmica MAIS - Manifestações de Arte Integradas à Saúde.
Durante a primeira etapa foram realizadas entrevistas, entre pacientes e funcionários, podendo ter maior contato e conhecimento da rotina. Havia, quase constantemente, no discurso dos pacientes, que estar doente não era viver. Diante desta realidade, foi estimulada a necessidade de criar e promover o lúdico neste ambiente Hospitalar. Assim, vinculando a exercitar a humanidade, que é abrigada no campo das artes, fazendo destes momentos, nos quais o estado de enfermidade é presente, apresentá-la como efêmera.
Com esse intuito, a performance intitulada Estudo de Caso abriga o caráter das relações e suas linhas tênues, mostrando e ocultando o espaço dos corpos e como se comportam nesta interação. O vazio que fica após o deslocamento de uma das partes revela poeticamente o ser passageiro, as situações transitórias e como tudo passa, inclusive os casos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O trabalho em questão abordará a integração entre a linguagem da performance com pacientes quimioterápicos do Hospital das Clínicas da UFPE. Através da arte será apresentada uma nova disposição de vivência com a doença, a sensibilização diante dos funcionários com os pacientes e obra artística e a importância dos pacientes em terem acompanhantes durante o seu tratamento.
MÉTODOS:
A arte da performance é caracterizada por COHEN (2011) como o “aqui-agora”, além do caráter artístico de acontecimento performático, existe o olhar poético da vida, pois estamos vivendo no “aqui-agora” e é exatamente este instante que interessa para que as transformações aconteçam. Levar essa ideia aos pacientes que vivem no “aqui-agora” da doença, a existência de possibilidade do “aqui-agora” da vida, é um trabalho que vem em pequenas dosagens.
A ação consiste em abordar um leito por vez, se apresentar e perguntar se é possível sentarmos juntos, é explicado um pouco sobre a linguagem performática e perguntado se eles gostariam de fazer parte desta intervenção. Sendo a resposta positiva, é colocada uma parte do corpo do performer em contato com o corpo do paciente.
Geralmente, o trabalho é realizado com as mãos, dedos e braços. É tirada uma fotografia dessas partes corporais que estão em contato. O paciente é avisado que não há tempo cronometrado para que os corpos dialoguem, podendo assim, ficar juntos por minutos como por horas. Durante o tempo da ação, é estimulada uma conversa, resgatando memórias, falando sobre atualidade e gostos pessoais. Quando o paciente sente a necessidade de separação é tirada outra foto, agora com o corpo do performer e o espaço vazio que ficou sem a presença do outro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Através das entrevistas realizadas foi visto que muitos pacientes vêm do interior, a sua maioria são idosos, alguns sem acompanhantes e outros nunca presenciaram alguma apresentação teatral. O trabalho com performance, a principio, despertou certa insegurança ao ser executada, pelos dados já citados e pela linguagem ter um caráter de ineditismo como parte integrante das atividades do programa MAIS. Porém como esta arte já tem agregada na sua formação o caráter transgressor, foi decidido levar o projeto adiante, como SAFRA (2011) afirma: “Uma das grandes questões do mundo contemporâneo é a enorme dificuldade entre homens de abrirem espaço para o mistério”.
Para a surpresa a performance foi muito bem acolhida, tanto pelos funcionários quanto pelos pacientes. Mesmo os pacientes que hesitaram e se sentiram incomodados, por este corpo estranho em seu espaço, aceitaram a proposta e interagiram a este encontro não casual. Temos assim, em LEHMANN (2007) a importância das relações entre corpos: “O corpo não é apenas o sujeito do manuseio, mas ele é objeto, material significante – significados”.
CONCLUSÕES:
Com a linguagem da performance no ambiente hospitalar, estabelecemos uma comunicação que vinha desde o respeito dos funcionários as ações propostas, até aos pacientes que se abriram a esta novidade, inclusive confessando suas intimidades ao compartilhar conosco momentos de suas vidas. Perceber como os pacientes sentiram e responderam a essa ação artística proporcionou um aprendizado significativo que vai além do artista da cena, do arte educador em formação, ela atinge tudo aquilo que é humano e sensível do individuo que pratica essa ação. Assim, entende-se o que READ (1986) expõe “A arte é uma expressão de saúde: Ela é experiência, alegria e êxtase”.
Pelos estímulos artísticos oferecidos no ambulatório, foi notado uma maior relação entre os pacientes e funcionários. A partir do instante em que o funcionário interrompe a sua atividade para dar espaço a finalização de uma outra atividade, que é a artística, ele respeita e se mostra ter a consciência da importância deste momento para o bem estar do paciente, fato que antes não acontecia com outras intervenções. Também foi presenciado o fluxo maior dos acompanhantes dentro do ambulatório, com isto podemos interagir e sentir em suas falas a alegria que era ter pessoas diferentes cuidando de seus parentes.
Palavras-chave: Hospital, Lúdico, Quimioterapia.