65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 9. Paleontologia e Estratigrafia
REGISTRO DE CHARCOAL NOS DEPÓSITOS DA PENÍNSULA ANTÁRTICA DURANTE O CRETÁCEO SUPERIOR
Joseline Manfroi - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS
André Jasper - Prof. Dr. - Centro Universitário UNIVATES
Tânia Linder Dutra - Profª. Drª/Orientadora - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS
INTRODUÇÃO:
As mudanças ambientais globais estão entre os maiores desafios da humanidade para o século XXI. Desta forma, a construção de cenários futuros são de suma importância para a tomada de decisões relativas à gestão ambiental. Todavia, a atenção para estes estudos não pode estar voltada somente nos “sinais atuais”, os quais representam uma escala temporal muito restrita para a compreensão de eventos de amplo alcance.
A deposições de charcoal (carvão vegetal fóssil) podem ser extremamente úteis na caracterização e compreensão dos ambientes pretéritos e na construção de cenários futuros, pois o fogo é um elemento modelador muito comum em ecossistemas atuais e pretéritos, podendo ser comparado à herbivoria, como fator de modificação dos biomas ao longo do tempo. Evidências de incêndios na vegetação são atestadas, entre outras formas, pela presença de carvão vegetal fóssil (charcoal), e identificadas no registro fóssil desde o Siluriano, até o Quaternário.
A análise de carvão vegetal permite inferências paleoambientais que vão desde a caracterização da vegetação queimada, até a determinação da origem dos processos e a temperatura aproximada de suas causas. Com base nestes argumentos, confirma-se a relevância dos estudos vinculados aos paleoincêndios, no estabelecimento de parâmetros paleoambientais para diferentes localidades, contribuindo para a reconstrução de parâmetros paleoambientais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar a ocorrência de charcoal nos depósitos da Península Antártica durante o final do Cretáceo e início do Paleógeno, visando definição de padrões taxonômicos e tafonômicos.
MÉTODOS:
O presente trabalho analisa carvão vegetal fóssil (charcoal) proveniente das ilhas King George e Nelson, arquipélago das Shetland do Sul, Península Antártica, armazenados no NIT-Geo, do Programa de Pós-Graduação em Geologia da UNISINOS.
As amostras coletadas foram analisadas em laboratório a olho nu e sob estereomicroscópio (aumentos entre 10 e 40 vezes). Aqueles fragmentos que apresentaram características de carvão vegetal fóssil, foram retiradas mecanicamente do sedimento com auxílio de pinça, espátula e agulha histológica, e depositados em placas de Petry devidamente identificadas e numeradas. A análise e o exame das amostras em Microscópio eletrônico de Varredura (MEV) permitiu a definição de suas características morfo-anatômicas, assim como inferências paleoambientais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O material identificado como charcoal foi baseado nas seguintes características, coloração preto-listrada levemente lustrosa e sedosa, com boa preservação de detalhes anatômicos. Com base no grau de desgaste, a origem dos fragmentos foi considerada autóctone/ parautóctone. A análise em Microscópio Eletrônico de Varredura demonstrou que os charcoal estudados apresentavam estruturas celulares bem preservadas. Além disso, utilizando como base a pontuação dupla e a presença de feixes de vaso simples, foi possível inferir que eles provêm de lenhos com afinidade gimnospérmica. Esta caracterização taxonômica permite associar os fragmentos a composição paleoflorística registrada no nível fitofossilífero em que foram encontrados, o que permite dizer que esta vegetação estava sujeita a incêndios vegetacionais periódicos.
A presença de charcoal relacionado a formas gimnospérmicas e o domínio deste grupo nas associações fitofossilíferas descritas anteriormente, pode ser interpretada como um indicativo de que os paleoincêncidos vegetacionais atingiram a vegetação arborescente da área. Apesar da degradação dos tecidos ser clara nas amostras, a baixa fragmentação apresentada pelos charcoal indica que os mesmos não foram transportados por uma longa distância. Assim, uma deposição autóctone/parautóctone pode ser aceita. Por fim, o estudo, demonstra que o registros de charcoal como indicativos de incêndios vegetacionais na Península Antártica é mais comum do que se supunha.
CONCLUSÕES:
Foi possível verificar a ocorrência de fragmentos de carvão vegetal fóssil (charcoal) em duas localidades, uma delas no sul da ilha King George (Pontal Price) e a outra para a área norte da ilha Nelson (Pontal Rip), o que já previamente permite inferir a ocorrência de incêndios vegetacionais nestas localidades. Para ambos os locais, os charcoal coletados são de origem gimnospérmica e trabalhos prévios tem proposto uma idade entre o final do Cretáceo e o início do Paleógeno.
Palavras-chave: charcoal, Península Antártica, Cretáceo superior.