65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 1. Anatomia Patológica e Patologia Clínica
MARCADORES INFLAMATÓRIOS NA PATOLOGIA VASCULAR RENAL E HIPERTENSIVA
Marcus Davis Machado Braga - Prof. Dr. - Depto. de Patologia e Medicina Legal - UFC
Fátima Lúcia Machado Braga - Sanitarista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco
Ilma Kruze Grande Arruda - Profa. Dra. - Depto. de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde - UFPE
Poliana Coelho Cabral - Profa. Dra. - Depto. de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde - UFPE
Ícaro Camilo Belmino Girão - Estudante de graduação do curso de farmácia da Universidade Federal do Ceará
INTRODUÇÃO:
Os achados histopatológicos de acometimento arterial em casos de hipertensão arterial sistêmica são hoje vistos com clareza. Além das influências genéticas e ambientais, os fatores etiopatogênicos iniciantes, entretanto, não estão claros. Menos ainda na doença arterial renal crônica, uma complicação dessa patologia. Pesquisas atuais investigam sua relação com marcadores inflamatórios. A inflamação crônica estimula o aumento do número de linfócitos na corrente sanguínea, o que acaba invertendo seu percentual, normalmente inferior ao de neutrófilos, no sangue periférico. Outros marcadores bem estabelecidos são as proteínas inflamatórias de fase aguda, que continuam sendo produzidas nas inflamações persistentes crônicas. Três delas são mais bem estudadas: a proteína C reativa, cujos níveis séricos são hoje usados com marcadores para risco de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, doença vascular aterosclerótica; a proteína amiloide A sérica, a segunda proteína inflamatória de fase aguda, cuja protease defeituosa pode causar amiloidose sistêmica ou localizada, inclusive renal; e o fibrinogênio, que aumenta a velocidade de sedimentação das hemácias por interligá-las, provocando seu empilhamento.
OBJETIVO DO TRABALHO:
No intuito de contribuir para o esclarecimento da etiopatogenia de lesão arteriolar hipertensiva e renal, este trabalho procura dados laboratoriais que possam relacionar a inflamação persistente crônica a casos acompanhados de pacientes hipertensos da Clínica de Hipertensão, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife (Janeiro, 2010-Julho, 2011).
MÉTODOS:
Este estudo transversal de cunho analítico examinou, em 1.569 participantes com idade superior a 18 anos (média: 60,1 ± 10,2), de ambos os sexos, com relação à presença de três biomarcadores circulantes: proteína C reativa (PCR) em nível maior de 0,5 mg/dL, velocidade de hemossedimentação (VHS) na 1a hora (homens mais de 15mm; mulheres mais de 20mm); inversão da relação neutrófila linfocitária para nível menor do que 1 (R N/L) no hemograma; e achados sugestivos de déficit de função renal (DFR), segundo Diretrizes da Sociedade Brasileira de Nefrologia e da National Kidney Foundation. Definiu-se DFR a taxa de filtração glomerular estimada em menos de 90 ml/min, através da fórmula de Cockcroft Gault. Foi definida amostra de 1.273 indivíduos, após serem excluídos os portadores de hipertensão secundária, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio prévio, hiperlipidemia com uso de medicação específica e diabetes mellitus.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram identificados exames alterados na maioria da amostra (n = 1.273): DFR em 1.022 (80,3%), sendo 777 (61,0%) no estágio 2 da doença renal crônica (DRC); PCR em 878 (69,0%); R N/L em 803 (63,1%); VHS em 793 (62,3%). Elevada positividade dos exames foi observada também nos indivíduos com déficit de função renal (n = 1.022): PCR em 865 (84,6%); R N/L em 792 (77,55); HVS em 777 (76,0%). A análise de marcadores inflamatórios coincidentes, por caso estudado, mostrou alta concentração de 3 marcadores alterados (713=56,0%) em relação ao total da amostra (n=1.273). Os três exames foram encontrados cumulativamente positivos em 56,0% dos casos, até 2 exames foram positivos simultaneamente em 64,1% e até um exame positivo em 74,2%. Partindo-se dos pacientes com déficit de função renal (n=1.022) o percentual cumulativo mostrou coincidência de positividade dos três exames sinalizadores de inflamação em 69,8% dos casos, dois exames positivos em 79,8% dos casos e um exame positivo em 92,5%. Foi encontrada a existência de associação significativa entre os três marcadores inflamatórios e o déficit de função renal de forma isolada (p < 0,001) ou combinada (2 marcadores coincidentes: p < 0,005; 3 marcadores coincidentes: p < 0,001).
CONCLUSÕES:
A concomitância dos achados permite concluir que é possível se relacionar pacientes hipertensos crônicos com insuficiência renal, com a presença de um fator etiológico comum, possivelmente a inflamação persistente e crônica, esse caso expressa pelos exames realizados relacionados a essa inflamação: proteína C reativa (PCR), inversão da relação neutrófilo linfocitária (R N/L) e velocidade de hemossedimentação (VHS). As alterações de insuficiência renal relacionadas à arteriopatia hipertensiva seriam decorrentes de inflamação crônica, seja desencadeada por fenômenos hemodinâmicos, autoimunes ou infecciosos, crônicos. Dessa forma, os parâmetros estudados refletindo: linfocitose por provável estimulação crônica, níveis elevados de proteínas inflamatórias denominadas de fase aguda, mas também presentes em todos os estágios da inflamação, no caso a proteína C reativa e velocidade de hemossedimentação, poderiam subsidiar na busca por um diagnóstico etiopatogênico mais preciso como causa desencadeante da lesão arterial hipertensiva e renal diagnosticadas. Todos os três marcadores inflamatórios estudados, de baixo custo financeiro e de fácil utilização na prática clínica podem ser úteis na sinalização do surgimento ou progressão da DRC.
Palavras-chave: renovasculopatia, vasculite, vasculopatia-hipertensiva.