65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
O PERFIL DAS NOTÍCIAS DE SAÚDE NA MÍDIA IMPRESSA BRASILIENSE
Iedda Carolina Sousa - Núcleo de Estudos de Saúde Pública, NESP - UNB
Marina Baldoni Amaral - Núcleo de Estudos de Saúde Pública, NESP - UNB
Ana Valéria Machado Mendonça - Profa. Dra./Orientadora - Núcleo de Estudos de Saúde Pública, NESP - UNB
INTRODUÇÃO:
Os meios de comunicação de massa como o jornal impresso são importantes veículos na divulgação de informações de saúde para parcelas significativas da população, tanto leigos quanto profissionais da saúde, evidenciando a notória responsabilidade informativa da imprensa (CARLINI, 2012). Em contraposição, a mídia pode afetar o fornecimento e utilização dos serviços de saúde, sendo comum encontrarmos nos jornais relatos de problemas de saúde com características alarmistas e incompletas. Isso pode ocorrer, pois jornalistas procuram histórias de saúde que prendem a atenção dos leitores e que tendem a apresentar problemas que, às vezes, contradizem relatos anteriores sobre o mesmo tema (BARTLETT et al., 2002).Esta tendência cria ou fortalece a construção de estereótipos no inconsciente humano e social, trazendo consigo generalizações, padrões equivocados ou simplistas sobre a saúde e o Sistema Único de Saúde - SUS, gerando preconceitos e influenciando decisões políticas, consumidores dos serviços de saúde e a população em geral (SODRÉ, 1977; BARTLETT et al., 2002; MORONI & OLIVEIRA FILHA, 2008). Diante disso, é evidente a importância de estudos analíticos referentes às matérias de saúde com a finalidade de avaliar o perfil que assumem na mídia e o seu impacto na sociedade.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho visa analisar as matérias relacionadas à saúde divulgadas pelo jornal Correio Braziliense, traçando o perfil deste material e o padrão que a saúde assume no referido jornal, contribuindo com a criação de estratégias que favoreçam uma melhor comunicação em saúde.
MÉTODOS:
Foi realizado um estudo retrospectivo e analítico das reportagens relacionadas à saúde em um período de 2 meses (junho e julho de 2012) no jornal de publicação diária com maior circulação do Distrito Federal – Correio Braziliense. A coleta foi realizada por meio do acesso à versão eletrônica do referido jornal, onde foram selecionadas as matérias dos cadernos “Saúde”, “Ciência” e das retrancas intituladas “Saúde” nos demais cadernos (Política, Brasil, dentre outros). As matérias selecionadas foram categorizadas segundo: Caderno em que estavam inseridas; Área da saúde à qual faziam referência; quanto ao enfoque Prevenção ou Curativo; se faziam referência à Pesquisa Científica, sendo esta Nacional ou Internacional; se eram matérias de capa. Outra característica analisada foi o caráter do título, classificado em otimista, pessimista ou neutro: “Pronto-socorro sem socorro” trata-se de uma divulgação pessimista; “Técnica cura lesão na medula espinhal” possui uma conotação positiva; “Origem genética das pernas inquietas” é um título neutro, pois não transmitiram conotação positiva ou negativa. Os dados obtidos com a coleta foram analisados estatisticamente, descritos e relacionados entre si de forma a delinear a representação que a saúde possui nesta mídia impressa brasiliense.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O Correio Braziliense é um periódico diário composto por cadernos organizados em ordem decrescente de relevância, onde os cadernos de “Saúde” e “Ciência” ocupam a 7° e 8°posição, respectivamente, ficando posterior a cadernos como “Política”, “Brasil” e “Economia”, e anterior aos cadernos “Cidade”, “Diversão e Arte” e “Classificados”. Durante o período analisado, o Correio divulgou138 matérias relacionadas à saúde, com uma faixa de 1 a 4 matérias publicadas por dia. Os cadernos com maior número de matérias foram: “Saúde” (50%), “Cidade” (28,2%),“Ciência” (11,5%) e “Brasil” (8,6%). Quanto à temática, os assuntos mais abordados foram doenças contagiosas (HIV, H1N1, gripe), as problemáticas do SUS (filas, falta de leitos e medicamentos), câncer, experimentos e genética. Houve predominância de matérias com foco intervencionista e curativo (52,8%) em relação à prevenção (20,2%). Apenas 52.8%das matérias faziam referência à pesquisa científica, onde 37,6%eram internacionais e 15,21% eram pesquisas nacionais. O caráter negativo dos títulos foi predominante, com 60% de títulos pessimistas e 30% otimistas. Apenas 28 matérias estamparam a capa do jornal, sendo que 71,4% destas matérias de capa transmitiam conotação negativa com predominância das problemáticas do SUS.
CONCLUSÕES:
As temáticas da saúde possuem um baixo grau de relevância dentro da organização dos editoriais, ocupando os penúltimos cadernos do Correio Braziliense. Associado a isso, o jornal é mais propenso a publicar matérias alarmantes e predominantemente negativas, girando em torno de temas restritos e repetitivos como doenças e problemáticas do SUS com o objetivo primário de prender a atenção do leitor. Em contrapartida, assuntos que abordam a prevenção e promoção da saúde, os benefícios e conquistas nacionais alcançadas após a implementação do SUS não são significativos na pauta do referido jornal. Outro fator relevante foi a baixa valorização de pesquisas nacionais, sendo pouco divulgadas. Esta abordagem superficial dada pelo jornal induz generalizações, padrões equivocados ou simplistas sobre os temas relacionados à saúde e a atuação do SUS no cenário nacional, favorecendo a formação de um estereótipo pessimista no inconsciente coletivo e influenciando negativamente as decisões dos gestores, a construção de políticas de saúde e o comportamento populacional de busca pelos serviços do SUS. Diante da notoriedade social da mídia, o presente trabalho objetivou analisar as matérias referentes à saúde e mostrar resultados que gerem reflexões e contribuam para uma melhor comunicação em saúde.
Palavras-chave: SUS, Jornal, Comunicação em Saúde.