65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
MULHERES SATERÉ-MAWÉ: TRABALHO, CASA E COTIDIANO
Milton Melo dos Reis Filho - Doutorando Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia - UFAM
Iraildes Caldas Torres - Profa. Dra. / Orientadora - PPGSCA - UFAM
INTRODUÇÃO:
O locus desse estudo sobre as mulheres sateré-mawé envolve duas comunidades indígenas Molongotuba no rio Andirá, município de Barreirinha e Santa Maria do Urupadi no rio Marau, município de Maués, ambas no Estado Amazonas. Nesta pequena amostra o trabalho, a casa e o cotidiano dessas mulheres constituem os elementos chaves de nossas reflexões. Foi assim que esta pesquisa assumiu fundamental importância não só para os estudos da antropologia indígena, incluindo as relações de gênero, mas também porque poderá constituir-se num importante documento para a fundamentação de políticas públicas às mulheres indígenas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Apresentar as práticas sociais das mulheres sateré-mawé no que diz respeito aos mecanismos e formas encontradas em suas comunidades, para fazer frente ao trabalho doméstico, buscando identificar as especificidades de gênero nas duas comunidades indígenas do Amazonas.
MÉTODOS:
Os procedimentos metodológicos cumpriram o trabalho de campo envolvendo a realização de etnografia em cada comunidade, sob o olhar da observação direta e atenta de cada pesquisador/a, além da coleta de dados primários junto às mulheres sateré-mawé da comunidade Molongotuba localizada no Município de Barreirinha, e da Comunidade Santa Maria do Urupadi, localizada no município de Maués, ambos pertencentes ao Estado do Amazonas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A pesquisa constata que nem sempre a casa é um pré-requisito para a união dos novos casais. Entre os sateré, a prioridade é o roçado. Ao casarem, eles logo procuraram um terreno para construir o seu roçado. Por isso, a rotina de sua mulher é limitada entre casa e roça.
Mailson (entrevista/2011), ao referir-se às indígenas “jovens” de sua comunidade (Molongotuba), diz que elas não ligam muito para o trabalho. Existem aquelas que casam muito jovens. “Só porque o homem é bonito e a mulher é cheirosa, pensam logo em se casar. Eles não pensam em construir uma vida ou melhorar de vida”.
De acordo com D. Maria (entrevista/2011), as atividades das mulheres indígenas iniciam desde a tenra idade. Esta indígena afirma: “não considero o trabalho das mulheres mais pesado que o trabalho dos homens. Mas reconheço que nós indígenas precisamos de ajuda, de parcerias”. A partir desta pesquisa constata-se que as mulheres trabalham muito mais que os homens. A fala dessa indígena, além de sugerir melhorias no processo produtivo dos derivados da mandioca, também, denota um quadro muito diferente, explicitado pelo reconhecimento da noção de diversidade por ambas as partes, ao substituir, numa delas, o que Levi Strauss (1986) nomeia de sentimento da sua superioridade, baseado em relações de força e quando o reconhecimento positivo ou negativo da diversidade das culturas dá lugar à afirmação da sua desigualdade.
CONCLUSÕES:
Esta pesquisa revela que nas duas comunidades as crianças ajudam suas famílias no trabalho da roça. Em casa elas fazem pequenas tarefas como buscar água no rio. A rotina da ida a roça começa às sete horas. Às vezes merendam (mingau de cará, peixe assado, carne de caça, cará cozido ou assado) antes de sair e demoram mais na roça.
A sobrecarga do trabalho da mulher se diferencia um pouco na comunidade de Santa Maria do Urupadi. Lá, os homens participam e ajudam mais suas mulheres na cadeia produtiva da mandioca. De acordo com Leonor (entrevista/2011) “os homens não esperam só da mulher”. De outro modo Bruschini (2011), chama a atenção para o fato de que os homens participam mais dos afazeres domésticos quando se tornam pais, envolvendo-se ativamente no cotidiano dos filhos.
A remuneração das trabalhadoras domésticas não alcança os mesmos níveis recebidos pelos poucos homens que trabalham no mesmo setor, inclusive quando desempenham tarefas similares. No ambiente indígena esta constatação é bem evidente porque prevalece a força masculina.
Palavras-chave: Mulher indígena, Trabalho, Casa.