65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
UMA ESCRITA SOBRE A TELEVISÃO NO BRASIL: A CRÍTICA DE TELEVISÃO NO FOLHETIM (FSP) 1977/1989.
Raíssa Haydê Koshiyama de Freitas - Depto Multimeios - IA - UNICAMP
Iara Lis Schiavinatto - Profa. Dra./Orientadora - Depto Multimeios - IA - UNICAMP
INTRODUÇÃO:
Em 1977, início da redemocratização no país, a discussão sobre o lugar da televisão na sociedade se fez importante, uma vez que os meios de comunicação exerceram papel relevante neste momento de retomada dos debates públicos sobre política e sociedade brasileira.
Neste período, a Folha de São Paulo se posiciona como um jornal voltado para os interessados nas discussões políticas no Brasil e adota uma reforma intelectual e estrutural, que vai moldar o Jornal para as décadas seguintes.
É nesse momento que a Folha passa a veicular o Folhetim, caderno que dialoga com a imprensa alternativa e busca discutir cultura atrelada às questões sociais, se voltando para esse público que estava se reconfigurando. O Folhetim foi um caderno influente lido e escrito por profissionais e acadêmicos de diversas áreas da comunicação.
Essa pesquisa buscou fazer uma análise direta e especifica da crítica de televisão em todas as fases do caderno Folhetim (1977/1989), de seus temas centrais, de suas diferentes abordagens, de seus autores e da recepção da mídia TV no Caderno e na devolutiva de seus leitores, que acaba por configurar certa noção de leitor/telespectador.
OBJETIVO DO TRABALHO:
1. Digitalizar as matérias que fazem referência à TV e organizar um banco de dados, classificando e organizando as matérias em diversas categorias. 2. Fazer uma análise através da leitura do material, tomando nota de seus autores e temáticas centrais, sua qualidade e seu papel dentro do caderno, e também da resposta da presença e qualidade da discussão trazida pela sessão Carta do Leitor.
MÉTODOS:
1.1 A digitalização das matérias e das Cartas do Leitor foi feita a partir do acervo das bibliotecas da ECA – USP, da PUC – SP e do IEB – USP (Instituto de Estudos Brasileiros).
1.2 O banco de dados foi montado através do software livre Base do BrOffice.org.
1.3 O banco de dados de matérias e de Cartas do Leitor foi organizado por: título, autor, tema, argumento, número da edição, gênero jornalístico, data, ano, programa e emissora referida e gênero do programa referido.
2.1 A análise direta e específica do Caderno mapeou seus temas principais, argumentos centrais, modos de definir e criticar a TV, modos de perceber o uso da televisão no cotidiano, e os significados imputados ao meio de comunicação, aos programas, aos sistemas televisivos e suas produções.
2.2 Também foi feita uma breve análise da devolutiva dada pelos leitores dentro da sessão da Carta do Leitor.
2.3 Um artigo final foi produzido relatando as experiências vividas durante a pesquisa e uma análise geral das matérias e Cartas recolhidas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise do banco de dados permitiu traçar um panorama da crítica de TV no Folhetim através dos anos. Em geral, a crítica de TV acompanha o tom do caderno como um todo.
Nos primeiros anos, as citações à TV são mais numerosas, tratam de programas e emissoras especificamente, debatendo seus temas, seus personagens, analisando a grade de programação e a sua qualidade. A partir de 1981 as menções à TV são mais esparsas, mas suas análises são mais densas, mais páginas são dedicadas aos artigos e debates sobre o meio.
Alguns dos principais debates sobre TV desenvolvidos no Caderno são: a violência, a censura, a presença dos conteúdos norte-americanos, a educação e a presença (ou ausência) de valores morais. O Folhetim promoveu oito debates sobre televisão, nos quais reuniu acadêmicos, jornalistas e profissionais do meio para discutir o papel da TV na sociedade e suas possibilidades.
Por último, as Cartas do Leitor trouxeram um pouco da recepção do Caderno para a análise e também se mostrou uma ferramenta de discussão dentro do próprio caderno. Na Sessão, leitores elogiaram e criticaram as matérias, os programas da TV, os famosos, ora concordando ora discordando dos autores do Folhetim ou até mesmo de outros leitores.
CONCLUSÕES:
Podemos constatar que o Folhetim foi um caderno que discutiu amplamente a televisão e que sua crítica caminhou junto às suas mudanças, aumentando sua complexidade teórica e trazendo para si certo tom acadêmico.
A análise das imagens coloca a televisão como um espaço de debates e de apreensão das práticas culturais; e a sessão de cartas mostra como os leitores utilizaram o espaço para defender seus pontos de vista, comentar matérias e fazer suas críticas.
Em um momento chave para a formação da opinião pública no Brasil, a TV no Folhetim é debatida por profissionais do meio, analistas sociais, jornalistas e leitores.
Podemos perceber, através da análise, como o Caderno dialoga com a TV e como incita e abre espaço para uma visão menos ingênua e mais crítica do meio. A análise desse diálogo entre meios, embora ainda pouco explorada, é fundamental para que possamos compreender onde se coloca e o que está à disposição desse público que é ao mesmo tempo espectador, leitor e cidadão brasileiro.
Palavras-chave: jornalismo, redemocratização, crítica.