65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 2. Anatomia Humana
A ANATOMIA E A DISSECAÇÃO COMO FERRAMENTAS PARA COMPREENDER A CIRURGIA DE NEOVAGINOPLASTIA
Pedro Ducatti de Oliveira e Silva - Faculdade de Medicina - UFG
Patrick Correia de Souza Araújo - Faculdade de Medicina - UFG
Carlos Rosemberg Luiz - Prof. Dr. /Orientador - Depto. de Morfologia - UFG
Edson José Benetti - Prof. Dr. /Orientador - Depto. de Morfologia - UFG
Tatiana de Sousa Fiuza - Profa. Dra. /Orientadora - Depto. de Morfologia - UFG
INTRODUÇÃO:
O transexualismo é amplamente definido pelos especialistas como disforia gênero, ou seja, incompatibilidade entre corpo físico e mente quanto ao gênero. Essa questão sempre envolveu a humanidade, a qual teve dificuldades de lidar com essa situação, pois a automutilação não é incomum e as tentativas psicoterápicas de readequar “a mente ao corpo” não se mostraram efetivas. Dessa forma, a partir da segunda metade do século XX as tentativas de adequar “o corpo à mente” mostraram-se significativas, utilizando-se de terapia comportamental por meio da experiência de vida do gênero desejado, de terapia hormonal e de cirurgias. Dentre essas etapas, a via final e mais almejada pelos pacientes é a cirurgia de redesignação genital (“mudança de sexo”) ou no caso dos pacientes “male-to-female” (“masculino para feminino”), a neovaginoplastia. Esse procedimento busca a utilização dos componentes anatômicos da genitália masculina para a estruturação de uma genitália feminina, a neovagina, que deverá ser esteticamente e fisiologicamente semelhante a uma vagina, para fins de cópula e orgasmo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Os objetivos deste trabalho foram: dissecar artérias, vasos, nervos, linfonodos e estruturas do aparelho urogenital masculino em cadáveres, verificar suas correlações anatômicas e correlacionar com a técnica cirúrgica da neovaginoplastia.
MÉTODOS:
Foram utilizados dois cadáveres do sexo masculino fixados em formol e conservados em glicerina. No cadáver 1 utilizou-se o membro inferior esquerdo com a pelve seccionada no plano sagital e seccionada no plano transversal ao nível da transição toracolombar. Com auxílio de bisturi, foi realizada uma incisão transversal na prega infraglútea. Em seguida separou-se a epiderme e derme da tela subcutânea na região glútea, divulsionou-se a tela subcutânea da fáscia do músculo glúteo máximo e se retirou o excesso de tecido fibroadiposo entre os músculos: levantador do ânus e glúteo máximo, para evidenciar estruturas superficiais. Retirou-se a fáscia interna do músculo levantador do ânus e o excesso de tecido fibroadiposo do interior da região pélvica para evidenciar estruturas internas. Já no cadáver 2, foram realizadas incisões longitudinais bilateralmente na bolsa escrotal expondo seu conteúdo, no dorso do pênis e nas coxas ao nível das espinhas ilíacas anterossuperiores; e incisões oblíquas seguindo os ligamentos inguinais. Dessa forma, separou-se a epiderme e derme da tela subcutânea na região inguinal, retirou-se o excesso de tecido fibroadiposo e se evidenciaram as estruturas superficiais dessa região.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Dissecou-se a a. pudenda interna e seus ramos no cadáver 1. Observou-se que a a. pudenda interna se origina da a. ilíaca interna, seguindo seu trajeto através do músculo isquiococcígeo, passando entre os músculos: glúteo máximo e levantador do ânus, e emitindo seus ramos para: corpos esponjosos do pênis e da uretra, pele do pênis, testículo, próstata e vesícula seminal. No cadáver 2, dissecando a região do pênis e do trígono femoral, observou-se a a. pudenda externa (de cada lado) se originando da a. femoral. Verificou-se que a a. pudenda externa se ramifica formando a a. dorsal do pênis (bilateralmente), localizada lateralmente à veia dorsal superficial do pênis. Além disso, observaram-se linfonodos inguinais próximos aos ramos da a. femoral: a. pudenda externa, a. circunflexa do íleo e a. epigástrica superficial. Em seguida, dissecaram-se os funículos espermáticos, bolsas escrotais e os testículos evidenciando-se: ductos deferentes, artérias e nervos testiculares e plexos pampiniformes. Também, observaram-se as túnicas de revestimento do testículo: albugínea, vaginal (lâminas visceral e parietal), espermática interna, cremastérica e espermática externa; e da bolsa escrotal, a túnica dartos. Essas estruturas dissecadas são importantes na cirurgia de neovaginoplastia.
CONCLUSÕES:
Para a compreensão da cirurgia de neovaginoplastia é fundamental a integridade da pele peniana e de sua estrutura vascular, a fim de se manter a vitalidade do retalho cutâneo peniano, o qual é utilizado para formar parte do novo canal vaginal e os lábios menores. Já os corpos esponjosos da uretra e do pênis devem ser ressecados, a uretra masculina deve ser encurtada, a glande deve ser esculpida formar o neoclítoris. Por fim, a bolsa escrotal deve ter seu conteúdo ressecado, utilizando-a no restante do canal vaginal e lábios maiores. Portanto, a dissecação das estruturas pélvicas e do aparelho genital masculino possibilitou o entendimento aprofundado da anatomia dessa região e da técnica de neovaginoplastia, pontos-chave para o sucesso dessa cirurgia delicada, além de aperfeiçoar a habilidade manual com instrumental cirúrgico.
Palavras-chave: Transexualismo, Redesignação sexual, Cadáver.