65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 9. Psicologia Experimental
O JOGO DA PARTILHA: UM ESTUDO COM CRIANÇAS PARA IDENTIFICAR SEU PADRÃO COMPORTAMENTAL NA DIVISÃO DE RECURSOS
GIOVANA ESCOBAL - Departamento de Psicologia, UFSCar, São Carlos, SP
CELSO GOYOS - Prof. Dr./Orientador – Departamento de Psicologia, UFSCar, São Carlos, SP
INTRODUÇÃO:
Jogos econômicos têm sido úteis como modelos experimentais em situações de interação social complexa. Há uma grande variedade de jogos econômicos mencionados na literatura - o Jogo do Ultimato o Jogo do Ditador, e o Jogo do Dilema do Prisioneiro. Um tipo de escolha, menos estudado por analistas comportamentais diz respeito à tomada de decisão com relação à alocação de recursos. O Jogo da Partilha apresenta um modelo experimental proposto e descrito inicialmente por Kennelly e Fantino (2007) para estudar o fenômeno da generosidade ou do altruísmo, de particular interesse, dentro do âmbito da cooperação, por sua importância social e de sobrevivência da espécie. Pesquisas têm analisado os efeitos de variáveis sobre a alocação de recursos: gênero do distribuidor ou do receptor, interação humana versus interação computadorizada, incentivo monetário real ou hipotético, etc. O objetivo dessa pesquisa foi identificar o padrão comportamental de crianças pré-escolares em como dividir um recurso no Jogo da Partilha. Esses jogos constituem-se em modelos que podem ser utilizados em situações artificiais, com rigor científico, com relação a diferentes hipóteses sobre o funcionamento do mundo real, podendo aumentar o conhecimento sobre os processos que governam o comportamento no mundo real.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo desta pesquisa foi determinar os padrões comportamentais em situação de escolha no Jogo da Partilhas em crianças em idade pré-escolar de 3 a 5 anos e se essas demonstram consistentemente ou não suas opiniões em como dividir um recurso em um paradigma de escolha forçada, tal como no Jogo da Partilha. Foi estudada também a variável gênero do distribuidor.
MÉTODOS:
Em um delineamento intrassujeitos, 18 crianças de 3 a 5 anos, com desenvolvimento típico, frequentadoras de uma escola de educação infantil de uma cidade do interior paulista participaram da pesquisa. Foram utilizados duas peças de bichos de pelúcia idênticas, cartolinas, desenhos montados em papel cartão, folha de registro, caneta, filmadora, e computador. Os algarismo utilizados foram: 0, 1, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e 10. Os Estímulos experimentais eram representados por figuras coloridas de bolos. Existia uma relação direta de proporcionalidade entre os valores dos algarismos e os tamanhos das figuras dos bolos; quanto maior o algarismo, maior o bolo. Os participantes fizeram escolhas ao longo de dois blocos de repetidas tentativas, cada um envolvendo cinco oportunidades de escolha, para distribuir os recursos entre si e um participante invisível, passivo, podendo escolher otimizadamente, mas não competitivamente, igualmente, mas não de maneira otimizada, menos otimizadamente, mas mais competitivamente e de maneira altruística. O estudo permitiu uma comparação entre-sujeitos sobre o gênero dos participantes também. Para cada participante, a resposta para cada escolha era registrada pelo experimentador e por um observador independente. As respostas entre os blocos foi comparada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os dados mostraram que as crianças do gênero feminino escolheram otimizadamente todas as vezes e as do gênero masculino alternaram em suas escolhas, mas escolheram mais frequentemente a alternativa otimizada. A quantidade de dinheiro influenciou tanto os meninos, quanto as meninas. Ambos os gêneros escolheram com maior frequência a alternativa igualitária, mas a diferença entre a distribuição foi maior para os meninos; podendo-se dizer, então, que eles são menos altruísta que as meninas. O maior número de escolhas não otimizadas dos meninos pode ter ocorrido em função dos meninos poderem ter maior dificuldade com contagem que as meninas. O desenvolvimento da linguagem ocorre, em geral, mais precocemente nas crianças do gênero feminino, o que pode ter influenciado em seu melhor desempenho. O bom desempenho em relação às alternativas otimizadas pode estar relacionado com as próprias características dos estímulos utilizados nessa pesquisa. Figuras com dimensões diferentes são mais visuais e podem ser mais fáceis de discriminar que algarismos.
CONCLUSÕES:
Os resultados indicaram que o modelo experimental desenvolvido foi adequado para responder ao objetivo desta pesquisa: demonstrou que crianças de 3 a 5 anos emitem consistentemente suas opiniões em como distribuir recursos em um paradigma de escolha forçada e que meninas escolheram mais otimizadamente que meninos nessa pesquisa. Estes jogos são importantes porque permitem: analisar as contingências envolvidas na tomada de decisão das pessoas, caracterizar as escolhas, como ideal, justa ou competitiva, e trazer sob escrutínio o exame dos possíveis efeitos de outras variáveis (por exemplo, sexo, incentivo monetário, quantidade de dinheiro, informações, etc) sobre as distribuições das escolhas das pessoas, para determinar se essas escolhas são estáveis ou influenciadas por essas variáveis. Posteriormente, os efeitos de outras variáveis serão analisados.
Palavras-chave: JOGO DA PARTILHA, TOMADA DE DECISÃO ECONÔMICA, ALTRUÍSMO.