65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
Qualidade microbiológica de preparo tradicional à base de plantas medicinais comercializado em feira livre da microrregião Seridó/RN
Francisco Angelo Gurgel da Rocha - Prof. Ms.-Lab. de Microbiologia de Alimentos/Biol. Molecular–IFRN/Currais Novos
Milena Khrislaine de Medeiros Gundim - Aluna do Curso Técnico em Alimentos, IFRN/Currais Novos
Patrícia Adriana Silva - Aluna do Curso Técnico em Alimentos, IFRN/Currais Novos
Eduarda Denyse Medeiros de Pontes - Aluna do Curso Técnico em Alimentos, IFRN/Currais Novos
Tuiza Galgani Dantas Lima - Aluna do Curso Técnico em Alimentos, IFRN/Currais Novos
Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo - Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
INTRODUÇÃO:
Ao longo da história, as comunidades humanas - sejam estas autóctones ou não - tem utilizado com sucesso espécies vegetais bioativas no tratamento de seus males. Nos países em desenvolvimento, as plantas medicinais podem representar a única forma de tratamento disponível à parcela carente da população. Consumidas in natura, brutas, ou em preparos tradicionais, frequentemente estão disponíveis aos usuários na forma de “garrafadas”, extratos aquosos ou alcóolicos formulados artesanalmente, com base em espécies nativas e/ou exóticas. Contudo, em concordância com as condições de higiene presentes em seu preparo, da qualidade da matéria prima e da adequação higiênico-sanitária da sua comercialização nas feiras livres, as garrafadas podem possuir qualidade microbiológica deficiente. Neste contexto, podem veicular patógenos capazes de promoverem nos usuários infecções, intoxicações ou toxinfecções de gravidade variável, com destaque para E. coli, S. aureus e fungos toxigênicos. A veiculação de tais patógenos é considerada pela OMS como um risco à saúde pública, podendo em casos extremos, resultar em óbito.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Objetivamos determinar em “garrafadas” comercializadas na feira livre de Currais Novos/RN, as densidades de Escherichia coli, Staphylococcus aureus, bactérias aeróbias mesófilas, bolores e leveduras. Os resultados foram comparados aos limites recomendados pela OMS para materiais à base de plantas para uso interno classificando as amostras como adequadas ou não ao consumo humano.
MÉTODOS:
As coletas foram realizadas na feira livre do município de Currais Novos, situado na Região Seridó do Rio Grande do Norte, ao longo do mês de março de 2013. Adotou-se plano de amostragem de duas classes, no qual a unidade amostral foi categorizada como aceitável ou não, admitindo-se n=3. As amostras foram selecionadas aletoriamente pelo próprio comerciante e conduzidas ao Laboratório de Microbiologia de Alimentos/Biologia Molecular (MicroBio) do IFRN Campus Currais Novos, onde foram analisadas. A partir das amostras, foram realizadas diluições decimais seriadas em solução salina peptonada, da ordem de 10-1 a 10-5. Foram quantificadas as densidades de Escherichia coli (MUG-VRBA, 35±1oC/24±2h), Staphylococcus aureus (mannitol salt agar, 35±2oC/24-48h; DNAse agar + metil green, 50±2oC/2h),bactérias aeróbia mesófilas (PCA, 35±2oC/24h), bolores e leveduras (PDA acidificado, 25±1oC/5 dias). Os resultados foram expressos em UFC/g e comparados aos limites recomendados pela OMS para materiais à base de plantas para uso interno, classificando as amostras como adequadas ou não ao consumo humano.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Detectou-se bactérias aeróbias mesófilas em 100% das amostras analisadas, com densidade média de 1,2x106 UFC/g, excedendo o limite de 105 UFC/g. As observações denunciam inadequações higiênico-sanitárias ao longo da cadeia produtiva incluindo-se deficiências na qualidade microbiológica da matéria prima. Em relação aos bolores e leveduras, 66,6% das amostras excederam o limite de 103 UFC/g, com densidade média de 2,5x104 UFC/g. Densidades elevadas destes microrganismos podem promover a degradação enzimática do fitocomplexo das plantas, alterando suas propriedades terapêuticas e/ou gerando toxicidade. Micotoxinas geradas por certas espécies de Aspergillus, e Penicillium, comuns no armazenamento do produto em feiras, promovem intoxicação aguda ou crônica em humanos. Detectou-se S. aureus em 33,3% das amostras, com densidade média de 103 UFC/g, denunciando a sanitização deficiente e manipulação inadequada na produção. A ausência de limite legal para S. aureus deve ser revista, já que a espécie produz toxinas termorresistentes responsáveis por surtos de intoxicações alimentares. Não se detectou E. coli em nenhuma das amostras analisadas, denotando a ausência de contaminação fecal do produto.
CONCLUSÕES:
Perante os resultados obtidos, concluímos que 100% das amostras analisadas eram inadequadas ao consumo humano, representando risco à saúde do usuário. Recomendamos a continuidade dos estudos, com a ampliação do número de garrafadas e pontos de comercialização avaliados. É urgente que seja criada no Brasil regulamentação específica acerca da qualidade sanitária das plantas medicinais e preparos tradicionais comercializados em feiras livres e mercados do território nacional. Tal conjunto de leis deve contemplar dentre outros aspectos, os limites máximos para a presença de microrganismos patogênicos e/ou bioindicadores nos produtos disponíveis ao consumidor. É necessário que sejam desenvolvidas ações educativas junto aos comerciantes, visando a implantação de Boas Práticas no preparo e comercialização de plantas medicinais e seus derivados (lambedores, garrafadas, etc.), com consequente melhoria do produto disponível ao consumidor.
Palavras-chave: garrafada, Escherichia coli, Bolores e leveduras.