65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 5. Letras
GRIFINÓRIA, LUFA-LUFA, CORVINAL E SONSERINA: UMA ANÁLISE DA ESTRUTURA SOCIAL EM HOGWARTS NA OBRA HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL
Erick David de Souza Castro - Curso Técnico em Alimentos - IFRN
Claudiane Felix de Moura - Profa. Msc./Orientadora - Língua Inglesa - IFRN
INTRODUÇÃO:
Atualmente, o homem consegue se relacionar e realizar atividades de uma forma bem mais rápida do que no passado, aproximando culturas e países distintos. No entanto, a intolerância por causa das diferenças culturais, raciais ou sociais ainda é um problema constante na nossa sociedade e, embora muitas pesquisas tenham afirmado que o conceito de raça não passa de uma construção ideológica, o preconceito racial ainda existe e é praticado em todo o mundo.
Essa intolerância pode ser observada em diversos aspectos da sociedade e nos é transmitida através das mais variadas expressões artísticas. Assim, durante todos os momentos em que a nossa história foi marcada por atitudes preconceituosas, houve artistas que empregaram seus talentos para denunciá-las, como é o caso das diversas obras que denunciaram a segregação racial nos Estados Unidos, o genocídio na Segunda Guerra Mundial e o apartheid na África do Sul.
Nessa linha, a obra Harry Potter e a Pedra Filosofal, da escritora britânica J. K. Rowling, trata desse assunto de uma forma bem intensa, fazendo referências indiretas ao nazismo, e utilizando seus personagens para a denúncia de atitudes preconceituosas, especialmente entre os alunos da escola de Magia Hogwarts, onde as diferenças sociais e raciais ganham bastante destaque.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente trabalho tem por objetivo analisar a obra Harry Potter e a Pedra Filosofal, em uma perspectiva sociológica dentro do contexto social da escola de Magia Hogwarts, com o intuito de identificar a forma com que essa obra fictícia apresenta traços da realidade do preconceito racial e social vivenciados por milhares de pessoas ao redor do mundo.
MÉTODOS:
Tendo como objeto de estudo a obra literária Harry Potter e a Pedra Filosofal, publicada em 1997, foi realizada a revisão de literatura, que envolveu estudos sociológicos sobre os conceitos de raça, etnia, preconceito e segregação social (GIDDENS, 2005), e estudos sobre a concepção de raça na perspectiva biológica (BARBUJANI, 2007), e da relação entre a literatura e a sociedade (CANDIDO, 2010; FACINA, 2004). Além disso, foram realizadas pesquisas acerca das primeiras concepções de mundo racista cientificamente fundamentado e suas influências nos conflitos raciais que marcaram o século XIX e XX (NETO, 2009), bem como sobre o preconceito e a segregação social e racial presentes na obra de J. K. Rowling (MILLS, 2011; NEIL, 2006).
Dessa forma, foi efetuada a leitura da obra em uma perspectiva sociológica, de forma a identificar como a autora retratou a realidade das atitudes preconceituosas de sua sociedade e como utilizou os seus personagens para denunciá-las. Ainda com o intuito de enriquecer a pesquisa, foi realizada também a leitura de mais um livro da escritora, Os Contos de Beedle, o Bardo, publicado em 2007, o qual retrata de forma bem explícita o contexto da hierarquia racial que envolve a escola de Magia Hogwarts.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Durante o primeiro ano em Hogwarts, todos os alunos passam por uma cerimônia na qual são escolhidos para pertencer a uma das quatro casas que constituem a estrutura social da escola. A partir desse momento, os alunos criam com a sua casa um laço patriota que afeta a sua maneira de ver e se relacionar com aqueles que pertencem a outras casas, alimentando estereótipos e gerando desavenças e competitividade dentro do ambiente escolar.
Esse tipo de patriotismo é considerado um vício e está presente em todos os aspectos da obra, seja visando aos direitos de estudar em Hogwarts ou aos de pertencer ao mundo bruxo. É por isso que certos alunos acreditam em sua superioridade por simplesmente possuírem descendência bruxa e se mostram indignados por terem de estudar com pessoas que nasceram trouxa (não-bruxo). Em Os contos de Beedle, o Bardo, essa visão é apresentada quando é alegado que mais de um pai de aluno já exigiu a retirada de livros na escola que falem do casamento entre trouxas e bruxos.
Além disso, o preconceito e a discriminação baseados em aspectos sociais e raciais são evidentes durante toda a obra, seja pelos comentários sobre a situação financeira da família Weasley ou pelas constantes críticas feitas a Hagrid, o meio-gigante e meio-humano que trabalha na escola.
CONCLUSÕES:
Dessa forma, com base na análise do livro, foi possível constatar o quanto a obra Harry Potter e a Pedra Filosofal está entrelaçada com a realidade, em que o preconceito e a discriminação baseados nas diferenças sociais e raciais tornam-se fatores decisivos para criação de estereótipos, tanto dentro da escola de Magia Hogwarts, quanto fora dela. Além do mais, a noção de superioridade que certos alunos apresentam ao se considerarem melhores por possuírem uma descendência bruxa e, por esse motivo, tratam os mestiços e os trouxas como uma segunda classe, assemelha-se com a história da nossa própria sociedade de opressão e de regimes de supremacia raciais, sociais e culturais.
Assim, fica evidente que a autora J. K. Rowling utilizou-se de sua obra como um instrumento de protesto contra o preconceito e a discriminação, sejam raciais, sociais ou culturais, levando o leitor a um reflexão sobre injustiças do mundo real, levantando problemas de âmbito local e global de uma forma prazerosa e criativa.
Palavras-chave: Segregação social, Segregação racial, Preconceito.