65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
OS HOMENS DE COR NO DIARIO DE PERNAMBUCO PÓS-ABOLIÇÃO
Yves Antônio Albuquerque da Silva - Graduando de História – UFPE
Isabel Cristina Martins Guillen - Profa. Dra./Orientadora – Departamento de História – UFPE
INTRODUÇÃO:
A década de 1870 é o marco da entrada das ideias positivo-evolucionistas no país, e é nesse momento que se dá o fortalecimento das instituições científicas no Brasil. Em Pernambuco são representantes significativos dessas instituições: a Faculdade de Direito do Recife e o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Com a mudança do centro econômico para o Sudeste, as instituições dessa região se tornam mais relevantes e, assim, começam a surgir especializações profissionais cada vez mais ligados às suas respectivas instituições. As Faculdades de Direito de São Paulo e de Recife, preocupadas com a elaboração de um novo código nacional, traçam, dessa forma, planos teóricos diferentes, a faculdade de São Paulo mais ligada aos modelos liberais e a de Recife ao social-darwinismo. Os grupos intelectuais do país se tornam cada vez mais distintos, pois estão de acordo os perfis sócio-econômicos referenciados. Por isso se torna tão importante a pesquisa e o questionamento das estruturas locais para que não haja uma generalização desses aspectos a partir do Sudeste.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Buscamos nos jornais, principalmente as manifestações culturais da população negra e, dentro disso, suas manifestações nas comemorações da abolição observando as representações que possibilitaram a exclusão dessa população. De acordo com Rebecca Scott, “pensar culturalmente o pós-emancipação é, antes de tudo, explorar os significados de liberdade”.
MÉTODOS:
Foi feito levantamento bibliográfico e leitura dessa bibliografia, para que fosse possível a inserção no debate acerca das teorias raciais no período pós-abolição. A pesquisa foi feita nos arquivos de jornais microfilmados do Diario de Pernambuco na Fundação Joaquim Nabuco. O Diario de Pernambuco nesse período não obedecia exatamente uma lógica de publicação de acordo com os dias da semana, sendo, dessa forma, complicado definir os melhores dias para serem lidos e obter artigos com conteúdo racial; ou seja, a leitura foi feita totalmente por amostragem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Para a cidade do Recife, a leitura dos jornais indica que a racialização como mecanismo de exclusão social não se deu imediatamente ao pós-abolição. Não encontramos nos jornais noticias que sinalizem a cor das pessoas, mesmo quando envolvidas em brigas ou acusações de vadiagem. O jornal exalta as atividades dos abolicionistas, principalmente a figura de Joaquim Nabuco e do papel da imprensa que trabalhou para tirar o país da situação escravista que envergonhava o país frente às nações civilizadas. Está expresso também o rebaixamento do negro enquanto vítima da instituição escravista: “cárcere mesquinho e desumano em que, por espaço de três séculos, cumpriram iníqua sentença milhares de seres pelo único motivo de serem negros e ignorantes”. Ressaltando também: “Resta, porém, libertalos da escravidão intelectual em que continuam, inconscientemente, por força de um longo período de entorpecimento das faculdades, de uma quase irracionabilidade”. Ou seja, os jornais dão a entender que os ex-escravos deveriam se educados para entenderem sua situação de cidadãos livres. O negro sempre colocado como inferior intelectualmente, dentro de uma perspectiva científico-racial comum à época, deveria ser educado para que seus atavismos fossem atenuados.
CONCLUSÕES:
Os jornais foram importantes instrumentos de divulgação das teorias raciais, principalmente em relação à forma como o discurso era apresentado nos seus artigos: colocando a cultura europeia como superior e civilizada e a população local como carente de civilidade, de forma quase bárbara e irracional. E que por causa disso precisava ser bem conduzida pelos nossos governantes, um população que precisava ser orientada e educada para curar seus males, como afirma também um artigo: o criminoso é um doente e precisa ser desarmado, pois só assim se evitaria o crime, este sendo natural das paixões e loucuras do espírito humano. Demonstrando dessa forma que a grande questão do período era o controle da população marginalizada.
Palavras-chave: Recife, Teoria racial, Jornal.