65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
AS TRAJETÓRIAS DA VIOLÊNCIA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
Sheila Daniela Medeiros dos Santos - Faculdade de Educação - UFG
INTRODUÇÃO:
A violência na escola constitui uma temática relevante e premente no Brasil contemporâneo. No entanto, de acordo com Sposito (2001), somente no início da década de 1980, a partir do processo de redemocratização do país, o debate sobre a relação entre a violência e a escola tornou-se objeto de estudo legítimo na esfera pública e acadêmica, ganhando a atenção do Estado e da imprensa escrita e eletrônica como um problema social. Os anos se passaram e, embora as pesquisas no âmbito nacional ainda não apresentem um quadro teórico analítico e interpretativo consolidado sobre a complexidade do fenômeno, questões fundamentais são levantadas e incitam o surgimento de novos estudos, como os de Abramovay e Rua (2002), Candau (2001), Guimarães (2005), Patto (2007), Peralva (2000), Pino (2007), Schilling (2004), Sposito (2001) e Zaluar (1995) que contribuem de modo inigualável para a problematização do fenômeno da violência no contexto escolar. Nesse ínterim, o presente estudo vislumbra assinalar desdobramentos para o fomento de novas reflexões a respeito do fenômeno da violência na escola, desvelando de forma original, pontuada e contundente, os percalços, as indagações e os conhecimentos pseudocientíficos que rondam a referida problemática, afinal, são os diferentes modos de conceber e teorizar a violência que fundamentam as relações que irrompem no contexto da educação escolar.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A partir de tais considerações, o presente trabalho objetiva analisar as expressões de violência que se manifestam na escola, aprofundando as discussões sobre: o modo como as crianças representam a violência e o impacto da experiência de violência nas relações que se instauram entre adulto/criança e criança/criança na instituição escolar.
MÉTODOS:
Para efetivar esse estudo, utilizou-se o material empírico de uma pesquisa realizada anteriormente em uma escola pública de ensino fundamental localizada em um bairro periférico do município de Campinas – SP (SANTOS, 2002). Esse material empírico, composto por reportagens de jornais locais que noticiavam os acontecimentos de violência na escola; por desenhos e produções escritas das crianças; e, ainda, por diários de campo, onde foram registradas as observações das situações recorrentes e/ou peculiares, bem como as conversas informais com os diversos atores sociais envolvidos no processo da pesquisa, foi devidamente organizado a partir de categorias de análise. Nesse momento, o referencial teórico-metodológico da perspectiva histórico-cultural em Psicologia, cujo principal representante é Vigotski (1996), possibilitou lançar um olhar para o real que fosse além das aparências e desvelasse a essência das contradições, permitindo avanços teóricos em termos qualitativos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O instrumental analítico-interpretativo em que se ancorou a presente produção teórica mostra, nas tramas em que educação escolar é tecida, que as vozes silenciadas e audíveis das crianças desvelam uma realidade enigmática e surrealista, marcada pela violência, que passa despercebida para a escola. Além disso, a pesquisa evidencia fundamentalmente dois aspectos: o primeiro refere-se à necessidade de seguirmos pistas e reunirmos indícios, a fim de compormos o mosaico das falas dessas crianças e buscarmos uma significação que as torne decifráveis; e o segundo, refere-se ao fato de que a violência, na sociedade contemporânea, é a réplica da secular exclusão social, das condições de miséria humana e das ínfimas possibilidades de vida a que milhões de crianças e jovens estão brutalmente submetidos.
CONCLUSÕES:
Dentro desse quadro, ao relacionar a dramaticidade das relações sociais com qualidade de violência que se instauram no âmbito escolar aos aportes teóricos de Vigotski (1996, 2000), nota-se que a perspectiva histórico-cultural em psicologia oferece um caminho profícuo para compreender como a violência se constrói, evolui e se transforma na imbricada teia de relações sociais. Desse modo, a Psicologia, enquanto ciência que mantém uma estreita vinculação com a Educação, pode dar novos e transformadores rumos ao movimento dialético existente entre o homem e o mundo contemporâneo marcado pela violência, não somente no sentido de impedir que as desigualdades sociais e a condição de pobreza de grandes segmentos da classe trabalhadora se perpetuem, mas também no sentido de contribuir para que ocorra uma profunda mudança no modo de pensar de nossa sociedade, que faz da condição econômica das pessoas o critério que determina a qualidade das relações humanas.
Palavras-chave: violência, criança, educação escolar.