65ª Reunião Anual da SBPC

E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 5. Ciências Florestais

USO DE ÍNDICES DE VEGETAÇÃO NA AVALIAÇÃO DE ÁREAS DE CERRADO SENSU STRICTO SUBMETIDAS A DISTÚRBIOS POR DESMATAMENTO

Lamartine Soares Bezerra de Oliveira - Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais - UnB Fabrício Assis Leal - Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais - UnB Eraldo Aparecido Trondoli Matricardi - Prof. Dr. - Departamento de Engenharia Florestal – UnB Alba Valeria Rezende - Profa. Dra./Orientadora - Departamento de Engenharia Florestal - UnB

INTRODUÇÃO:

Historicamente, os ecossistemas naturais em todo o mundo foram submetidos a intensivos processos antropogênicos. No Brasil, destacam-se, principalmente, a expansão dos sistemas agrosilvopastoris e a acelerada taxa de crescimento da população humana, que, consequentemente, tem favorecido o crescimento desordenado de áreas urbanas. Tais processos já levaram a perdas irreversíveis de grande parte dos recursos naturais do país e muitos ecossistemas encontram-se bastante fragmentados. No bioma Cerrado, a acelerada taxa de destruição da cobertura vegetal nas últimas décadas tem preocupado muitos pesquisadores, tendo como consequência, o aumento de estudos em remanescentes florestais. Das fitofisionomias encontradas neste bioma, o cerrado sensu stricto ocupa a maior extensão em área, embora grande parte se encontre fragmentada e alterada. O uso de imagens de satélite para estudos de vegetação, utilizando-se de técnicas de sensoriamento remoto, é uma prática muito utilizada para avaliar o estado geral de ocupação da vegetação, sendo bastante empregado neste tipo de estudo os índices de vegetação. Estes índices são obtidos por meio de operações matemáticas que envolvem valores numéricos de pixels das bandas de imagens multiespectrais. Quanto maior o índice, maior a presença de vegetação.

OBJETIVO DO TRABALHO:

O presente trabalho, consiste em avaliar a utilização de índices de vegetação para analisar a cobertura vegetal de um cerrado sensu stricto submetido a diferentes intensidades de corte, cerca de 23 anos atrás.

MÉTODOS:

Foi estudado uma área de cerrado sensu stricto localizada na Fazenda Água Limpa - DF. Está foi submetida em 1988 a seis tratamentos envolvendo corte raso da vegetação: T1) Corte com motosserra e retirada da lenha, T2) Corte com motosserra, retirada da lenha e fogo, T3) Desmatamento com lâmina e retirada da lenha, T4) Desmatamento com lâmina, retirada da lenha e fogo, T5) desmatamento com lâmina, retirada da lenha e duas gradagens, T6) Corte com motosserra, retirada da lenha, fogo, destoca e duas gradagens. Complementarmente, foi selecionada uma área de cerrado sem intervenção, representando o tratamento testemunha (T7). Cada tratamento foi aplicado em três parcelas de 20 x 50 m. Cerca de 23 anos após as intervenções na área foi utilizada uma imagem multiespectral, de quatro metros de resolução espacial, obtida pelo satélite IKONOS-2, em 12/05/2011. Inicialmente, esta imagem foi corrigida radiométrica e atmosfericamente. Em seguida três índices de vegetação foram analisados: NDVI – Diferença Normalizada; ARVI – Resistência Atmosférica e GEMI - Monitoramento Ambiental. Para verificar diferenças estatísticas entre os tratamentos, considerando os índices testados, foi realizado uma Análise de Variância e para comparar as médias dos tratamentos, foi utilizado o teste de Tukey a 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Na área de cerrado sensu stricto analisada, que foi submetida a 23 anos atrás a diferentes tratamentos por desmatamento, foi detectada diferença significativa no valor do pixel, utilizando os índices de vegetação, ao 5% de significância pelo teste F da análise de variância. O teste Tukey, que detectou, ao nível de 5% de significância, que a testemunha apresenta maior densidade de cobertura vegetal que todos os tratamentos analisados, para os três índices de vegetação NDVI (0,372), ARVI (0,803) e GEMI (0,517). Entre os tratamentos por desmatamento, o NDVI foi maior no T1 (0,357), diferindo significativamente dos demais tratamentos pelo teste Tukey. A menor cobertura vegetal pelo índice NDVI foi detectada para os tratamentos T5 (0,307) e T6 (0,315), estatisticamente iguais, os quais são os tratamentos que envolveram maior nível de impacto no solo. O índice de vegetação ARVI apresentou os mesmos resultados do índice NDVI, por se tratar de uma variação do NDVI que tende a corrigir os efeitos atmosféricos. Assim, os valores de ARVI variam de 0,792 (T1) a 0,751(T5). Já pelo índice GEMI, foi observado que os tratamentos T1 (0,499), T2 (0,489) e T3 (0,489) não diferiram significativamente, assim como os tratamentos T4 (0,482), T5 (0,432) e T6 (0,442).

CONCLUSÕES:

Os índices de vegetação contribuíram para o melhor entendimento das diferenças de perturbações antrópicas em áreas de cerrado sensu stricto da Fazenda Água Limpa - Distrito Federal. Os resultados de tais medições por sensores remotos revelam que um período de 23 anos não é suficiente para a recuperação plena dos impactos ambientais a que estas áreas foram submetidas, pois as estimativas dos índices de vegetação apresentam diferenças significativas entre as áreas com perturbações pretéritas e as conservadas sem impactos na área de estudo. Ainda neste contexto, os tratamentos de corte raso da vegetação nativa T5 e T6 são os de maior impacto sobre o estabelecimento e desenvolvimento da vegetação do cerrado sensu stricto e o tratamento T1 é o que melhor recuperou a cobertura vegetal a partir dos índices analisados.

Palavras-chave: bioma Cerrado, vegetação arbórea, sensoriamento remoto.