65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
A INVERSÃO DA COMPOSIÇÃO DEMOGRÁFICA BRASILEIRA EM TEXTOS NÃO VERBAIS
Mariana Hanae Nascimento Hayashi - Depto. de Pedagogia - UFMT
Gisele Delfino de Lima - Depto. de Pedagogia - UFMT
Darci Secchi - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Pedagogia - UFMT
INTRODUÇÃO:
Este artigo discute a temática étnico-racial por meio de textos não verbais utilizados em escolas da rede oficial de ensino. Tem como foco de análise a inversão da realidade das cores das pessoas, isso é, a discrepância entre o que é retratado nos livros e realidade demográfica da população brasileira, como afirma Laraia, “O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo [...].” A principal fonte avaliada foi o Fascículo de Filosofia (volume 2), de autoria de Romulo Braga, publicado pela Editora Poliedro (Sistema de Ensino Poliedro) no ano de 2010.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este artigo tem como objetivo analisar os textos não verbais onde há representação de pessoas, na questão étnico-racial e tentar investigar os motivos da inversão da composição demográfica brasileira nesses textos não verbais e talvez em tantos outros livros que temos em nosso país.
MÉTODOS:
Foram extraídos do fascículo vinte e sete textos não verbais em que ocorriam imagens ou representação de pessoas. Desse acervo, foram descartados quinze textos que não continham evidências suficientes para categorizar as cores das pessoas e mais um texto, por aparecer duas vezes no fascículo. Sendo assim, onze textos não verbais foram analisados. Para a análise, foram descartados os textos verbais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Nos textos analisados, constatou-se que 90,9% das imagens de pessoas neles contidas apresentavam o fenótipo branco e que apenas 9,01% eram pretas, pardas e amarelas, correspondendo a um décimo das ocorrências de brancos. Não houve representações indígenas ou de outra classificação de raça ou cor.
No que tratou das evidências de status ou prestígio social, verificou-se que todos os brancos eram importantes ou abastados, em seguida apareciam os amarelos e, por fim, os pretos e pardos. Segundo os dados do IBGE do ano de 2010, a população brasileira era de aproximadamente 190 milhões de pessoas, das quais mais de 50% são pretos e pardos, 47% são brancos, pouco mais de 1% são amarelos e 0,4% são indígenas.
Ante a esse quadro demográfico, é oportuno perguntar por que os livros didáticos ignoram esses contingentes populacionais nos seus textos não verbais?
Desde os povos antigos os brancos são representados como superiores nos mais diferentes espaços sociais. Os principais impérios se estabeleceram na Europa e foram tidos como exemplo de civilização, acreditando-a como uma raça superior. Porém com o avanço das ciências, isso foi desmistificado, mas ainda há traços desses mitos criados sobre a pobreza e a cor negra e por isso eles são excluídos da sociedade e consequentemente dos livros.
CONCLUSÕES:
Atualmente, uma grande parte da população brasileira se diz disposta a mudar suas atitudes de preconceito e discriminação em relação às raças, religiões ou ideologias. Porém, não bastam apenas a disposição e o desejo, se permanecer a discriminação velada nos meios de comunicação, mídias e outros ambientes públicos e privados.
Nos últimos anos, alguns grupos minoritários passaram a se reunir em ambientes virtuais e redes sociais para debater a temática e demonstrar sua insatisfação e denunciar atitudes racistas e xenofóbicas. Páginas como “Moça, você é machista” evidenciam a vontade de lutar pela igualdade das mulheres, homossexuais e negros. Iniciativas como essas, vão se espalhando pelas redes sociais, aprimorando os argumentos e convidando as pessoas a superar essas posturas preconceituosas e desrespeitosas.
A organização de eventos e manifestações coletivas, como passeatas etc., contra o racismo, machismo, homofobia e entre outros temas, tem surtido bons resultados e envolvido um crescente número de pessoas.
Falta ainda alcançar que os avanços conseguidos no meio social cheguem, ainda que tardiamente, aos livros didáticos e outros materiais instrucionais utilizados nas escolas brasileiras.
Palavras-chave: etnocentrismo, étnico-raciais, racismo.