65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 1. Língua Portuguesa
ENSINO DE GRAMÁTICA NA BAIXADA FLUMINENSE
Fernando Vieira Peixoto Filho - Prof. Dr. / Orientador – Departamento de Letras – IM – UFRRJ
Caroline de Oliveira Rocha - Departamento de Letras – IM – UFRRJ
Crystyane Pereira Bispo Silva - Departamento de Letras – IM – UFRRJ
Lívia de Lourdes Dias Monteiro Ramos - Departamento de Letras – IM – UFRRJ
Taiza Dias do Nascimento - Departamento de Letras – IM – UFRRJ
INTRODUÇÃO:
No que concerne ao que é trabalhado a título de gramática na rede oficial do estado de São Paulo, a pesquisa que deu origem à obra Gramática na Escola (Neves, 1999) ressalta tanto a predominância de exercícios de reconhecimento e taxonomia quanto as dificuldades dos alunos em lidar cotidianamente com tais exercícios. A partir das constatações de Maria Helena de Moura Neves, a pesquisa Ensino de Gramática na Baixada Fluminense (UFRRJ-FAPERJ-IM-DL) procurou verificar se o que ficou constatado no final do século XX no estado de São Paulo também se revela no início do século XXI, desta vez nas cidades de Belford Roxo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti, na Baixada Fluminense – estado do Rio de Janeiro. Configurou-se importante um estudo desta natureza, já que os resultados da pesquisa revelaram vários aspectos da visão de professores e alunos sobre o trabalho regular com gramática do português em escolas de ensino fundamental e médio.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Concorrer para que políticas públicas e materiais didáticos vindouros melhor se alicercem no que concerne à gramática do português padrão, levando-se em conta as reais necessidades do corpo discente; diminuir a distância entre o estrato de análise linguística e o da prescrição de normas, tornando o ensino de português mais produtivo.
MÉTODOS:
A pesquisa representou um exame de conteúdos programáticos e metodologias de ensino na área de Gramática do Português, considerando quinze escolas públicas em municípios da Baixada Fluminense: Belford Roxo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti. O estudo contemplou a delimitação dos conteúdos que os docentes tentam implementar e como os discentes recebem e articulam esses conteúdos na configuração do processo ensino-aprendizagem. Orientador e pesquisadoras elaboraram dois questionários constituídos de 40 questões discriminadas em 04 seções distintas, assim distribuídas: para alunos de ensino fundamental e médio, a) conteúdos programáticos, b) metodologias de ensino de materiais didáticos, c) infraestrutura das escolas e condições de aprendizagem, d) resultados do processamento ensino-aprendizagem; para docentes, a) conteúdos programáticos, b) metodologia de ensino e materiais didáticos, c) infraestrutura e condições de trabalho, d) perspectivas de resultado do processo ensino-aprendizagem. O estudo permitiu chegar a resultados significativos, obedecendo-se ao método de transcrição da questão, exposição do gráfico representativo dos resultados (em percentuais), redação de análise concisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Dentre os vários resultados obtidos, foi possível comprovar, na perspectiva docente, que o ensino de gramática de fato tem sofrido com a dispersão de teorias e a ausência de critérios mais coerentes. Alguns aspectos revelados na pesquisa são graves, pois entre os professores ainda perduram dificuldades na descrição e prescrição no ensino de sintaxe, além de confusões insistentes entre gramática estrita e semântica. A pesquisa prova e sinaliza a necessidade de uma formação melhor para nossos docentes, a fim de dirimir os insistentes problemas conceituais que tornam caricatas muitas aulas que se ministram na Baixada Fluminense, o que provavelmente também ocorre em outras regiões brasileiras. Na perspectiva discente, vale dizer que o estudo de gramática ainda é valorizado, não obstante todos os questionamentos e resistências. Os dados levantados mostram que os alunos ainda veem uma aula de gramática como algo importante, associando o conhecimento da metalinguagem gramatical a maiores possibilidades de sucesso na vida cotidiana e profissional.
CONCLUSÕES:
Diferentemente do que se tem colocado na literatura tradicional sobre o tema, a pesquisa Ensino de Gramática na Baixada Fluminense permitiu concluir, entre outros aspectos, que a maior parte dos professores gerencia sua profissão de acordo com suas necessidades financeiras e sociais, não importando, diretamente, as reais demandas do corpo discente. Trata-se de um resultado que vale a pena citar, porque sinaliza a origem de vários problemas que transcendem os muros escolares. Pelo lado dos alunos, a pesquisa também confirma a dispersão com que se trabalham os conhecimentos gramaticais. Se os professores ainda demonstram dificuldades na compreensão de itens já prosaicos no âmbito gramatical, as respostas dos alunos fotografam um público que, em sua maioria, não consegue distinguir devidamente assuntos como concordância, regência e colocação de termos, para ficar apenas no terreno da sintaxe relacional. Em síntese, os resultados depreensíveis dos gráficos percentuais confirmam velhos problemas normalmente citados em obras sobre o ensino de gramática, mas apontam a validade desse ensino, considerando o acesso do grande público à variedade padrão da língua – direito inalienável de qualquer cidadão.
Palavras-chave: Português, Gramática, Ensino.