65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 2. Serviço Social da Criança e do Adolescente
O IMPACTO DA MEDIDA SOCIEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO NO COTIDIANO PSICOLÓGICO DAS MÃES DOS INTERNOS
Ingrydy Patrycy Schaefer Pereira - Depto. de Serviço Social – UFPB
Claudiane da Silva Tavares - Depto. de Serviço Social – UFPB
Julyana de Lira Fernandes - Depto. de Serviço Social – UFPB
Anna Renata Bezerra de Araújo - Depto. de Serviço Social – UFPB
Wanessa Leandro Pereira - Depto. de Serviço Social – UFPB
Luziana Ramalho Ribeiro - Profa. Dra./Orientadora – Depto. de Serviço Social – UFPB
INTRODUÇÃO:
Sabe-se que a família é a instituição responsável pela socialização dos filhos. Entretanto, diante dos diferentes arranjos familiares existentes em nossa sociedade, essa tarefa tem se destinado à mulher mãe na perspectiva da condução moral, psicológica, sociocultural e de disciplinamento dos filhos. Portanto, é preciso entender até que ponto a ausência do masculino fragiliza não só o adolescente em conflito com a lei, mas também repercute na perspectiva psicológica da mãe e responsável pelo destino da família. Assim buscamos entender como o enfraquecimento de um modelo de família baseado no estável exercício da autoridade/domínio do homem adulto, pode e realiza uma subjetivação forçada no feminino a partir da qual ela terá que responder por todas as funções dentro e fora do seu lar. Desse modo, a pesquisa de viés psicológico buscou desvendar como está sendo construída/reconstruída a subjetividade do feminino, descortinando nuances que ainda são pouco exploradas quando tratamos da temática do adolescente autor de ato infracional, uma vez que a maioria dos estudos dão ênfase às falas-vivências dos próprios adolescentes ou dos operadores do direito, sem, no entanto, ouvir, interpretar e publicizar os discursos, as memórias, angústias e esperanças das mães.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo geral foi entender como a mulher mãe, ou responsável, pelo adolescente apreendido interpreta a sua participação na trajetória de vida desse sujeito quanto ao determinante psicológico.
MÉTODOS:
A pesquisa foi desenvolvida de modo misto, ou seja, qualitativa e quantitativamente. Teve o caráter de um estudo explicativo com delineamento nos seguintes níveis: bibliográfico, levantamento e estudo de campo. O método de abordagem foi dedutivo. Os dados foram coletados a partir da utilização dos instrumentos da entrevista estruturada e semiestruturada. As entrevistas semiestruturadas foram gravadas em meio digital, para posterior transcrição e análise. Os dados foram tratados de acordo com Bardin (1977). As entrevistas tiveram a anuência dos informantes, conforme Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O universo constou dos prontuários dos internos sentenciados no Centro Educacional de Adolescentes, localizado na Rua Professor José Coelho, n. 30, no Bairro de Mangabeira em João Pessoa/FUNDAC-PB. A amostra, de acordo com os objetivos preconizados por esta pesquisa, privilegiou dez mães de adolescentes internados na instituição.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Constatou-se que oito entre dez mães entrevistadas eram responsáveis sozinhas pelo disciplinamento dos filhos. Quanto ao relacionamento com os mesmos, as dez mães declararam ser positivo, ao mesmo passo que afirmaram dialogar com eles sobre questões da adolescência e que suas práticas educativas foram eficazes. Em relação ao motivo que determinou o comportamento desviante dos filhos, nove mães atribuíram à influência de más companhias, sendo que uma atribuiu à mudança de bairro e a evasão escolar. No que tange à internação dos filhos, oito entre dez entrevistadas, disseram que os visitam semanalmente, trazendo-lhes comida e roupas; duas responderam que não compareciam sempre nas visitas, devido à distância e questões financeiras. Quando questionadas sobre a maneira de ajudar o filho, sete responderam que apenas a intervenção divina poderia tirá-lo do “mau” caminho, e três responderam que a intervenção profissional e a inserção no mercado de trabalho poderiam ajudá-los. Quanto à avaliação da medida de internação, houve discordância entre as mães em relação à sua eficácia. Para seis delas, a internação traz efeito, pois faz o filho pensar no que fez. No entanto, quatro afirmaram que a internação provoca revolta nos filhos, uma vez que ela priva seus desejos e impõe muitas regras.
CONCLUSÕES:
Percebeu-se a ausência do masculino nas falas das mães, seja como pai ou cuidador, corroborando assim, a afirmação anterior de que a tarefa de socialização e disciplinamento dos filhos têm se destinado principalmente à mulher mãe. A esta cabe o papel de protagonista na história de vida e da realidade na qual os seus filhos estão inseridos. São elas que os visitam, que são comunicadas sobre fugas, que são consultadas sobre a estrutura familiar para receber o adolescente que será desinternado. Assim, pode-se perceber o papel da mulher mãe para o adolescente em conflito com a lei, uma vez que eles apóiam-se nelas a fim de superar seus medos ou expectativas em relação ao processo de internação/desinternação. Ademais, a percepção da reação de sofrimento da mãe diante da internação muitas vezes representa para o adolescente um estímulo à superação e arrependimento da prática infracional. Vale destacar ainda, que as mães se isentaram da possibilidade de se colocarem na posição de responsáveis pela situação de vulnerabilidade de seus filhos, evitando que seu papel de “boa mãe” seja questionado. Portanto, para as mães o comportamento “desviante” do filho é exterior a elas.
Palavras-chave: Adolescente, Internação, Família.