65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
UTILIZAÇÃO DO TESTE DE SIMON PARA MONITORAMENTO DE FUNÇÕES COGNITIVAS: UM ESTUDO DE CASO COM ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO
Flora Silva Teixeira - Pós-graduação em Psicologia - UFPE
Adriana Lacerda - Confederação Brasileira de Judô (CBJ); Universidade Veiga de Almeida (UVA/RJ)
Erick Conde - Prof. Dr. / Orientador - Depto. de Psicologia - UFPE
INTRODUÇÃO:
Estudos da neurociência cognitiva demonstram que é possível investigar fenômenos cognitivos através da medida do tempo de reação manual (TRM). Raras abordagens possibilitaram aplicabilidade de protocolos específicos de TRM no monitoramento de funções cognitivas. Algumas iniciativas aplicadas possuem validade para monitorar avanços durante a reabilitação neurológica, mensurar efeitos de psicofármacos na cognição e para acompanhar o estado cognitivo de atletas. Embora o teste de Simon seja amplamente utilizado em estudos sobre atenção espacial, cognição e controle motor, não são verificadas abordagens aplicadas para o referido protocolo no monitoramento de funções cognitivas. O teste de Simon é caracterizado por uma tarefa onde o participante é instruído a responder o mais rápido possível a propriedades intrínsecas de estímulos visuais apresentados na tela do computador. Nesse teste, o TRM costuma apresentar latências menores e respostas mais acuradas quando o estímulo é apresentado do mesmo lado da tecla de resposta (condição correspondente) em comparação aos estímulos apresentados do lado oposto (condição não-correspondente). Evidências pautadas em procedimentos de neuroimagem e em dados eletrofisiológicos sustentam que o fenômeno se estabelece na etapa de seleção da resposta.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Descrever os procedimentos e resultados de uma experiência na qual o teste de Simon foi empregado de forma aplicada para o monitoramento cognitivo individual de atletas de alto rendimento.
MÉTODOS:
Participaram do estudo dois judocas destros (22 e 26 anos) em nível de alto rendimento (caracterizado por convocações de ambos para a Seleção Brasileira de Judô). Procedimentos: semanalmente, durante um mês, os atletas realizaram o teste de Simon, onde os estímulos poderiam ter o formato de um quadrado ou de um círculo (1º de lado ou 1º de diâmetro). A surgimento destes na tela do computador foi aleatorizada, mantendo 6º à esquerda ou direita de um ponto de fixação central. Os atletas deveriam responder o mais rápido possível com a tecla da esquerda, caso aparecesse um quadrado e com a tecla da direita, sempre que aparecesse um círculo, independente do lado. Após 120 trials (metade do teste) a relação estímulo-tecla foi invertida (esquerda/círculo e direita/quadrado). Utilizamos o software Inquisit Millisecond (versão 3.0) para apresentação dos estímulos e medida do TRM. Na análise, realizamos uma ANOVA para cada atleta, com 240 tempos obtidos para cada condição experimental (60 respostas correspondentes na esquerda, 60 correspondentes na direita, 60 respostas não-correspondentes na esquerda e 60 não-correspondentes na direita) em cada sessão, considerando os fatores Sessão (S1,S2,S3,S4), Campo (esquerdo ou direito) e Tecla (esquerda ou direita).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O modelo aplicado do teste de Simon identificou variações individuais ao longo das sessões. Mesmo não apresentando diferenças entre S1 (522 ms) e S2 (509 ms), o atleta 1 passou a ser mais rápido na S3 (457 ms) em comparação a S1 (p= 0,000). Em S4 (525 ms) voltou a lentificar suas respostas em comparação a S2 (p= 0,000) e S3 (p= 0,000), se mantendo indiferente de S1 (p= 0,358). O fator Campo também foi significativo para o atleta 1 (p=0,000), que foi mais veloz para estímulos que apareceram no campo direito (493 ms) do que no esquerdo (503 ms). O atleta 2 também teve o fator Sessão como significativo (p=0,000). Seus TRMs sofreram lentificação (p= 0,003) de S1 (484 ms) para a S3 (516 ms), mas não entre S1 e S2 (510 ms), nem entre S2 e S3. A oscilação do seu desempenho fica evidente ao reduzir seu TRM em S4 (463 ms) em comparação a S1 (p=0,01), S2 (p=0,000) e S3 (p=0,000). O fator Campo também foi significativo (p=0,01), tendo sido mais rápido para estímulos da esquerda (481 ms) do que da direita (494 ms). Uma interação entre os 3 fatores (p=0,02), refletiu uma variação do efeito Simon (tempos mais rápidos na condição correspondente do que na não-correspondente) para o atleta 2 ao longo das sessões, que apresentou também assimetrias do efeito no campo e na tecla.
CONCLUSÕES:
Alterações nas capacidades cognitivas são observadas em diferentes condições, como no envelhecimento, sonolência, excitação, estresse, uso e abuso de substâncias e também em estados emocionais específicos. Nessa perspectiva, o presente trabalho contribuiu com evidências experimentais acerca da utilização do teste de Simon em uma proposta aplicada de monitoramento cognitivo individual. Embora muitos estudos tenham demonstrado que os testes baseados na medida e na análise TRM possuem utilidade na busca de informações sobre estados e funções psicomotoras, observa-se pouca apropriação dessa tecnologia nos diferentes campos com potencial para essa aplicação, dentre os quais destacamos a clínica e diversas atividades laborais (motoristas, controladores de voo, esportes, entre outras). No desempenho esportivo, as funções cognitivas são essenciais para um bom aproveitamento técnico e tático. No judô, temos que a velocidade da resposta manual e a lateralidade de respostas a estímulos visuais podem influenciar a execução de golpes e de esquivas. Neste sentido, o teste de Simon permitiu identificar a variabilidade cognitiva de cada atleta e também obter parâmetros temporais da lateralização de respostas motoras a estímulos visuais em sessões semanais.
Palavras-chave: Tempo de reação manual, Monitoramento cognitivo, Atenção espacial.