65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 1. Anatomia Patológica e Patologia Clínica
CULTIVO CELULAR IN VITRO: IMPORTÂNCIA PARA A PESQUISA BIOMÉDICA E DIMENSÃO DA PROBLEMÁTICA DE AUTENTICAÇÃO DE LINHAGENS CELULARES
Natacha Azussa Migita. - Ciências Biomédicas, Instituto de Biociências – UNESP Botucatu, SP.
Deilson Elgui de Oliveira. - Prof. Dr./Orientador – Depto.Patologia, Faculdade de Medicina – UNESP.
INTRODUÇÃO:
Linhagens de células humanas e animais são modelos experimentais simplificados e informativos amplamente utilizados na pesquisa biomédica. A maioria dos laboratórios que utilizam células cultivadas in vitro mantém diversas linhagens estocadas e em cultivo. Por essa razão, erros de identificação e eventos de contaminação cruzada podem ocorrer durante as atividades laboratoriais. Recentemente foi estabelecido o Comitê Internacional de Autenticação Celular (ICLAC), dedicado a compilar e difundir informações relacionadas à problemática de autenticidade celular, que envolve contaminação cruzada e identificação equivocada de linhagens cultivadas in vitro. Apesar dos esforços despendidos para conscientização da comunidade científica, ainda é significativo o número de trabalhos publicados baseados em linhagens celulares equivocadas, o que compromete a fidedignidade dos resultados obtidos e as conclusões que deles advém.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O estudo buscou caracterizar e dimensionar a problemática da autenticidade celular, além de discutir alternativas para minimizar os problemas dela decorrentes e seu impacto na literatura científica. Ainda, visou analisar e discutir as principais vantagens e limitações do emprego de cultura de células eucariotas in vitro para atividades de pesquisa e desenvolvimento na área biomédica.
MÉTODOS:
Foi realizada análise da versão 6.8 da “Base de dados de linhagens celulares com contaminação cruzada ou de identificação equivocada” (“Database of Cross-Contaminated or Misidentified Cell Lines” - DCCMCL), que apresenta informações sobre 445 linhagens celulares identificadas como problemáticas e está publicamente disponível na Internet (http://goo.gl/KmDZ4). Foi avaliada a correspondência entre a linhagem celular declarada por pesquisadores e a linhagem constatada após a validação, de modo a se categorizar as informações disponíveis sobre o organismo-fonte e histogênese das linhagens células listadas. Um novo banco de dados foi constituído a partir dados originais e acrescidos das categorias criadas para a análise. Os dados foram então interpretados por meio de análise estatística descritiva e cotejados com informações obtidas na literatura e em sítios da Internet dos principais biorrepositórios, como a ATCC (EUA), DSMZ (Alemanha), JCRB (Japão), RIKEN (Japão) e ECACC (Reino Unido).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Dentre as ocorrências na DCCMCL, HeLa, T-24 e HT-29 destacaram-se como os três principais contaminantes (25%, 4% e 3%, respectivamente), enquanto 12% das contaminações foram atribuídas a células desconhecidas. Contaminações entre linhagens humanas representaram 76,4% dos problemas listados e 11,5% eram contaminações inter-espécies. Concomitantemente à redução do número de espécies humanas encontradas (94,8% para 89,2%), observou-se aumento no número de linhagens celulares provenientes de mamíferos não-humanos (3,2% para 9,0%) após a validação. Cabe ressaltar que o método empregado para autenticação celular - a técnica de DNA Fingerprinting - é limitado em termos de discriminação de espécies de organismos das quais células contaminantes se originaram. Assim, o número de contaminação inter-espécies pode estar subestimado, com o agravante de que contaminações entre organismos filogeneticamente próximos não sejam identificadas. Os resultados revelaram ainda contaminação substancial (60,9%) de linhagens de tecido normal por cânceres de histogênese epitelial, majoritariamente HeLa.
CONCLUSÕES:
Os dados demonstraram que contaminações envolvendo linhagens celulares humanas representaram a maior parte dos problemas observados. Entretanto, o valor estimado de contaminações entre espécies animais pode estar subestimado. A problemática das contaminações envolvendo modelos biológicos totalmente distintos é preocupante, posto que número significativo de estudos utilizando linhagens celulares não validadas ainda são encontrados na literatura biomédica. Em particular, é alarmante a frequência de contaminação de linhagens discriminadas como de tecido normal, mas que revelaram contaminação por células de neoplasias malignas epiteliais. Esse dado invalida resultados publicados de trabalhos científicos desenvolvidos com base nessas linhagens. Pelo exposto, é fundamental que os laboratórios monitorem periodicamente suas culturas celulares, implementando a validação de suas linhagens com base em métodos moleculares como os baseados em STRs polimórficos. Adicionalmente, é recomendável que os pesquisadores obtenham linhagens celulares autenticadas fornecidas por biorrepositórios ou fontes confiáveis.
Palavras-chave: Estudos in vitro, Contaminação, Autenticação de células.