65ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 4. Conservação da Natureza
COMPORTAMENTO DA VAZÃO DE NASCENTES, EM FUNÇÃO DO GRAU DE CONSERVAÇÃO DO SEU ENTORNO, NO ASSENTAMENTO RURAL SERRA GRANDE, EM VITÓRIA DE SANTO ANTÃO – PE
Talita Vasconcelos de Lucena - Graduada em Gestão Ambiental - IFPE
Maria Tereza Duarte Dutra - Profa. Msc./Orientadora – Coordenação de Gestão Ambiental – IFPE
Leidiane Candido Pereira - Mestre em Engenharia Civil, com ênfase em Recursos Hídricos - UFPE
Ricardo Augusto Pessoa Braga - Prof. Dr. / Depto. Engenharia Civil – Grupo de Recursos Hídricos - UFPE
INTRODUÇÃO:
Os usos múltiplos da água associadas ao crescimento populacional e às demandas industriais e agrícolas têm gerado permanente pressão sobre os recursos hídricos superficiais e subterrâneos (TUNDISI, 2003). No Brasil, a Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH, Lei 9.433 de 1997 (BRASIL, 1997) estabelece que a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas, e também orienta a adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento na gestão de recursos hídricos. Para Pinto (2003), na gestão de bacias hidrográficas é de grande importância a conservação das nascentes, sendo estes pontos nos quais a água subterrânea aflora naturalmente através da superfície do solo, dando início a um curso d’água formador de pequenos e grandes rios que irão desaguar nos mares. No meio rural, as nascentes desempenham essencial papel no atendimento às demandas de água das populações rurais difusas (BRAGA, 2011). Portanto, justifica-se a realização do presente estudo, realizado no âmbito do Projeto Recuperação e Conservação de Matas Ciliares e de Nascentes na Bacia do Capibaribe (Parceria UFPE/SNE/IFPE), visando contribuir para a sustentabilidade hídrica local.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente estudo teve como objetivo geral, avaliar o comportamento da vazão de nascentes no Assentamento Rural Serra Grande, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco, em função do grau de conservação do seu entorno. Neste sentido, foi feita a caracterização ambiental das nascentes e seu entorno; identificou-se os tipos de usos da água e o uso e ocupação do solo; e monitorou-se a vazão das nascentes.
MÉTODOS:
Foram monitoradas 2 (duas) nascentes no Assentamento Serra Grande, com periodicidade quinzenal, de setembro de 2011 a julho de 2012.O monitoramento da vazão foi realizada por meio do método da medição direta em tubulação de extravasamento, com o auxílio de cronômetro digital, calculadora e recipiente plástico milimetrado, com base na coleta da água do fluxo da nascente, pela metodologia de Pinto et al. (2004), em que a vazão é igual ao volume da água (L), dividido pelo tempo (s), dividido pelo número de medições (adotado 3 medições). Foram ainda observados a origem das nascentes (depressão ou encosta) e o grau de conservação do entorno das mesmas. O grau de conservação também foi baseado na metodologia de Pinto et al. (2004), que apresenta como critérios: Preservada, com pelo menos 50 m de vegetação natural no seu entorno; Perturbada, quando apresentam bom estado de conservação, mesmo ocupada por pastagem e/ou agricultura; e Degradada, quando apresentavam alto grau de perturbação, muito pouco vegetada, solo compactado, presença do gado e presença de erosões e voçorocas. Por fim, procedeu-se a avaliação do comportamento da vazão em função do estado de conservação das nascentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir do monitoramento das vazões das nascentes, observou-se que durante período estudado, as nascentes apresentaram comportamentos diferentes, uma vez que, a vazão da nascente 71 teve grandes variações durante o período chuvoso e seco, variando de 70,18 mL/s a 94,21 mL/s. Enquanto que, a nascente 76 apresentou-se com grandes oscilações, variando de 146,34 mL/s a 207,67mL/s. Constatou-se que as 2 nascentes apresentaram regime de vazão perene. Evidenciou-se que o grau de conservação considerado como preservado na nascente 71, influenciou positivamente no comportamento da vazão ao longo do período monitorado, favorecendo à capacidade de infiltração da água no solo. Enquanto que, a nascente 76 apresentou seu entorno geralmente encharcado e com grau de conservação degradado, contribuindo para uma menor capacidade de retenção da água no solo. A nascente 71, de origem de encosta, apresentou uma menor vazão média de 84,14 mL/s em relação a nascente 76, de origem depressão, com uma vazão média de 170,57 mL/s. Sendo possível observar que mesmo a nascente de encosta apresentando melhor grau de conservação (preservada), a sua vazão média ficou abaixo da nascente do tipo depressão. Portanto, o tipo de origem da nascente, influenciou mais na vazão do que o grau de conservação das mesmas.
CONCLUSÕES:
As nascentes estudadas apresentaram regime de vazão perene, o que se reflete positivamente na disponibilidade de água para os agricultores e suas famílias durante todo ano. A nascente 71 apresentou-se sem grandes alterações no comportamento da vazão, demonstrando um possível equilíbrio da recarga dessa nascente, em função da capacidade de infiltração do solo, devido ao seu entorno com grau de conservação preservado. Por outro lado, a nascente 76 apresentou grandes oscilações da vazão, provavelmente por seu entorno estar sempre saturado, diminuindo a capacidade de infiltração da água no solo, além de ter apresentado um grau de conservação degradado. Analisando as origens das nascentes, é possível observar que mesmo a nascente 71, de origem de encosta, apresentando melhor grau de conservação, a sua vazão média ficou abaixo da vazão da nascente 76, de depressão. Portanto, o tipo de origem da nascente, influenciou mais no valor da vazão do que o grau de conservação. Considerando que os agricultores e suas famílias dependem das nascentes como fonte de água para sua sobrevivência, ressalta-se a importância das ações de conservação das mesmas, a exemplo da implantação de estruturas de proteção física no entorno das nascentes, realizadas pelo projeto em que se insere o presente estudo.
Palavras-chave: Recursos hídricos, bacia hidrográfica, medição hidrológica.