65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
PROJETO PEDAGÓGICO E INTERCULTURALIDADE: RELATOS DE UMA PESQUISA NA ESCOLA DO CAMPO/ RIBEIRINHA
Jarliane da Silva Ferreira - Instituto de Natureza e Cultura-INCBC/UFAM
Marinete Lourenço Mota - Instituto de Natureza e Cultura-INCBC/UFAM
INTRODUÇÃO:
As concepções de educação para contextos rurais, atualmente têm superado perspectivas autoritárias, ruralistas, graças aos vários movimentos sociais que têm assumido como bandeira de luta a educação voltada aos interesses e ao desenvolvimento sociocultural e econômico dos povos e populações que habitam e trabalham no meio rural (FERREIRA, 2010).
A presente pesquisa analisou os desafios de construção de um projeto pedagógico próprio de escola rural/ribeirinha e de que forma as temáticas da vida, dos saberes, da cultura, do rio e do mundo ribeirinho nele aparecem. Constatou-se uma série de desafios para o trabalho pedagógico com as temáticas que integram a vida, cultura, o mundo dos/as educandos/as ribeirinhos. Pois, este espaço foi marcado historicamente como inferior, atrasado e recebeu, na maioria das vezes, por parte do Estado, atendimento na perspectiva de políticas compensatórias. Consequentemente, os significados e valores, de certa forma, não são bem vindos ao contexto escolar, sendo silenciados no currículo.
O presente artigo traz resultados de uma pesquisa realizada no contexto do Mestrado em Educação (Programa de Pós-Graduação da UFAM), tendo como campo de pesquisa uma comunidade rural/ribeirinha do município de Benjamin Constant-Alto Rio Solimões/AM.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo central do trabalho é apresentar resultados da pesquisa realizada no contexto do Mestrado em Educação – PPGE/UFAM, ao qual analisou a existência ou não do projeto pedagógico de uma escola ribeirinha do Alto Solimões/AM procurando entender em que medida a escola considera e trabalha o mundo próprio dos/as educandos/as ribeirinhos/as.
MÉTODOS:
A pesquisa foi realizada em comunidade ribeirinha de Benjamin Constant/Alto Rio Solimões-AM, localizada na Ilha do Bom Intento, na confluência do Rio Javari com o Solimões. A comunidade ribeirinha é marcada pela subida e descida dos rios, com início da enchente geralmente no mês de dezembro e atinge os meses seguintes até abril. O período das cheias do rio, corresponde aos meses de abril e maio. A etapa seguinte chama-se vazante, alcançando o ápice entre os meses de agosto a outubro, ocorrendo a seca da região.
Neste contexto, todas as atividades agrícolas, o trabalho, a relação com a cidade, o ensino, o lazer, a religiosidade estão intimamente ligados com o subir e descer do rio, “a relação do caboclo ribeirinho com a água que atravessa seu cotidiano se torna de importância vital para compreensão desse homem e do universo que o habita” (FRAXE, 2004, p. 296).
Metodologicamente a pesquisa fundamentou-se na etnografia aplicada à educação (ANDRÉ, 2005) nas constantes pesquisas de campo realizadas que possibilitou a prática de uma postura participante e ativa. Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados a observação participante e a entrevista. Neste processo, foram entrevistados 03 professores, 02 comunitários, 15 estudantes como sujeitos da investigação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A escola rural/ribeirinha necessita ser um espaço para a difusão de conhecimentos para a sustentabilidade dos ecossistemas e manutenção dos recursos naturais, (FABRÉ, et al, 2007) e do respeito aos saberes de seus educandos. Para isso, os saberes, a cultura das populações precisam ser consideradas nas discussões de seu projeto.
No contexto da escola pesquisada verificou-se fortemente alguns elementos que dificultam a elaboração de projeto próprio das escolas rurais. Pois há uma falta de espaço para discussão dessa proposta, e principalmente que considere a cultura, os saberes, os interesses e o mundo ribeirinho. Na Dimensão Pedagógica: diferentes funções que o professor assume; ausência de planejamento; pouco preparo para lidar com a realidade ribeirinha; ausência de um projeto pedagógico de escola ribeirinha. Dimensão social e política: a escola ribeirinha ainda é considerada como inferior. Esta tende a se adequar a conteúdos e calendários urbanos.
Para Santomé (1998), o mundo rural e ribeirinho costuma ser silenciado nas intenções e ações pedagógicas. Nesse sentido, abordam-se alguns elementos para reflexão de um projeto de escola ribeirinha: calendário escolar rural; formação inicial e continuada de professores; construção de um projeto pedagógico próprio que integre o contexto, os conhecimentos, a cultura, os movimentos sociais, os sistemas de produção, a ciência e tecnologia dos ribeirinhos.
CONCLUSÕES:
A pesquisa realizada mostra que a escola rural/ribeirinha ainda é considerada um apêndice da escola urbana, com conteúdos do currículo comum nacional (C/F, Art. 210), sem calendário próprio e uma proposta pedagógica diferenciada que atendam as peculiaridades e interesses das populações tradicionais ribeirinhas que habitam a região do Alto Rio Solimões.
A escola não tem utilizado os conhecimentos, a cultura, as problemáticas, as habilidades, as crenças dos sujeitos ribeirinhos que estão inseridos em seu contexto. O mundo ribeirinho aparece timidamente nos conteúdos e ações desenvolvidas.
A escola investigada não possui um projeto político pedagógico próprio, há apenas tentativas de implantar metodologias diferencias a partir das concepções da Escola Ativa, um programa de formação continuada de professores que atuam em escolas multisseriadas.
Então, há necessidade de pensar na possibilidade da construção de um projeto de escola ribeirinha. A escola precisa auxiliar na construção de uma identidade ribeirinha e no entendimento dos mecanismos de discriminação e de negação de valores culturais. Ainda são muito constantes as falas de “estudar para sair do espaço rural”; da cidade como “lugar melhor para viver”. O mundo ribeirinho ainda é visto como “lugar de fracasso e em extinção”. Estas concepções precisam ser superadas.
Palavras-chave: Escola do campo ribeirinha, Projeto Pedagógico, Interculturalidade.