65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
O TIPO DE SUBSTRATO PODE INFLUENCIAR A ABUNDÂNCIA DE EPÍFITAS VASCULARES EM CAATINGA?
Rosineide Nascimento da Silva - Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação - UFS
Ana Paula do Nascimento Prata - Prof.Dr./Orientadora-Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação - UFS
Leandro Sousa-Souto - Prof.Dr./Coorientador-Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação - UFS
INTRODUÇÃO:
Plantas vasculares que vivem sobre outros vegetais sem parasitá-los denominam-se epífitas. As plantas que atuam como substrato denominam-se forófitos. As epífitas, geralmente, são associadas a ambientes tropicais úmidos, onde o número de indivíduos ou grupos (abundância) pode ser alterado pelas condições do ambiente. Fatores, como luminosidade, temperatura e umidade, além de características morfológicas dos forófitos, como diâmetro do tronco, altura e aspecto da casca do substrato podem resultar na variação da abundância do grupo epifítico em determinadas áreas. A hipótese testada neste estudo foi de que a abundância das epífitas seria maior nos forófitos de maior diâmetro e altura, com tronco ramificado e ritidoma áspero e não descamante.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Além de identificar taxonomicamente as espécies de epífitas e de forófitos, este estudo foi desenvolvido com o objetivo de verificar a possível influência do tipo de substrato (foram considerados os aspectos morfológicos dos forófitos) sobre a abundância de epífitas vasculares encontradas em áreas de Caatinga, situadas no Estado de Sergipe.
MÉTODOS:
Este estudo foi realizado em três áreas de Caatinga, localizadas nos municípios de Poço Redondo (Monumento Natural Grota do Angico – 09º39′36″ S e 37º40′22″ W), Porto da Folha (10º01′45″ e 10º02′18″ S e 37º24′57″ e 37º24′19″ W) e Poço Verde (10°42′11″ S e 38°11′06″ W). Em cada uma destas áreas foram amostradas 25 parcelas fixas de 20 x 20 m (1 ha), onde foi realizada a coleta de material botânico, as mensurações da circunferência à altura do peito e da altura total dos forófitos arbóreos. A circunferência, posteriormente, foi convertida em diâmetro à altura do peito. Também foi observada visualmente a textura (áspera ou lisa) e a instabilidade do ritidoma do substrato (descamante ou não descamante), o aspecto do tronco (ramificado, reto ou torto) e identificada as espécies vegetais no herbário ASE da Universidade Federal de Sergipe. Para testar a hipótese deste estudo foram utilizados modelos lineares generalizados do programa estatístico R, versão 2.13.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram observadas 2.728 epífitas, sendo 1.588 Tillandsia recurvata (L.) L., 571 T. loliacea Mart. ex Schult. f., 406 T. streptocarpa Baker, 64 Aechmea aquilega (Salisb.) Griseb., 51 T. polystachia (L.) L. e 48 T. gardneri Lindl. (Bromeliaceae). Os 514 forófitos registrados pertencem a 30 espécies de Anacardiaceae (4), Fabaceae (9), Myrtaceae (4), Meliaceae (2), Apocynaceae, Bignoniaceae, Burseraceae, Celastraceae, Euphorbiaceae, Malpighiaceae, Malvaceae, Nyctaginaceae, Rhamnaceae, Rubiaceae, Sapotaceae, cada uma com apenas 1 espécie, e quatro forófitos identerminados. A abundância de epífitas difere entre os forófitos, porém 84,75% das epífitas concentraram-se em Poincianella pyramidalis (Tull.) L. P. Queiroz (873 epífitas), Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett (818), Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. (234), Aspidosperma pyrifolium Mart. (203) e Maytenus rigida Mart. (184). As características que contribuíram com a maior ocorrência de epífitas nesses forófitos foram o DAP (F=55,71, p<0,001) e a altura dependendo do aspecto do tronco (F=3,52, p<0,05), ou seja, a abundância de epífitas eleva-se com o aumento do diâmetro e da altura, especialmente nos forófitos ramificados. Apenas a textura e a instabilidade do ritidoma não apresentaram efeito significativo sobre a abundância.
CONCLUSÕES:
Os resultados evidenciam uma reduzida riqueza de epífitas (seis espécies) limitada a algumas espécies arbóreas, mas também a relevância de determinadas características dos forófitos que contribuem com o aumento da abundância de epífitas vasculares em áreas de Caatinga. Os resultados deste estudo indicam ainda a necessidade de ampliação do conhecimento sobre as interações interespecíficas entre os grupos de epífitas vasculares e seus forófitos, como uma forma de subsidiar e direcionar estudos e estratégias conservacionistas desses grupos vegetais na região semiárida do Brasil.
Palavras-chave: Ecologia, Epifitismo, Floresta tropical seca.