65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 1. Entomologia e Malacologia de Parasitos e Vetores
PERFIL TRANSCRICIONAL DE GENES DA SUPERFAMÍLIA GLUTATIONA S-TRANSFERASE EM INTESTINOS DE FÊMEAS DE Aedes aegypti INFECTADAS COM DENV-2
Iêda Ferreira de Oliveira - Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal - UFPE
Duschinka Ribeiro Duarte Guedes - Departamento de Entomologia - CPqAM / FIOCRUZ
Constância Flávia Junqueira Ayres - Departamento de Entomologia - CPqAM / FIOCRUZ
INTRODUÇÃO:
Ao contrário dos severos efeitos citopáticos que ocorrem em células de mamíferos durante a infecção pelo vírus dengue (DENV), os danos observados em células de mosquito são mínimos. Evidências experimentais têm demonstrado que a regulação de genes relacionados aos mecanismos de defesa antioxidante, tais como glutationa S-transferases (GSTs), propicia a sobrevivência de células infectadas com DENV-2.
Presentes em quase todos os seres vivos, as GSTs constituem uma superfamília de enzimas que está envolvida em diversos processos biológicos, por exemplo: detoxificação metabólica, transporte intracelular de substratos hidrofóbicos específicos e proteção contra radicais livres. Em artrópodes, são conhecidas seis classes de GSTs (delta, epsilon, omega, sigma, teta e zeta), além das recentemente descritas iota e xi.
Na espécie Aedes aegypti, transmissora de dengue e febre amarela urbana, as classes delta e epsilon destacam-se por sua função no metabolismo de inseticidas. Particularmente, os genes GSTI1, GSTO1 e GSTX2 também parecem estar envolvidos nos mecanismos de resistência ao temefós em uma linhagem de laboratório. Todavia, o papel dessas moléculas na proteção de tecidos específicos do mosquito infectados com DENV ainda necessita ser elucidado.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente estudo teve como objetivo comparar o perfil de transcrição de quatro genes GSTs entre fêmeas de Ae. aegypti infectadas e não infectadas com DENV-2. Esse órgão foi escolhido por ser um importante sítio de infecção e propagação viral; consequentemente, determinante da competência vetorial.
MÉTODOS:
Fêmeas do mosquito Ae. aegypti foram alimentadas artificialmente via membrana com sangue venoso humano infectado e não-infectado com DENV-2. Após o repasto sanguíneo, foram coletadas três amostras (pools compostos de quatro intestinos dissecados), tanto para o grupo infectado como para o grupo controle, nos tempos: 6 horas, 1 dia, 3 dias e 7 dias pós-infecção (dpi).
O RNA total de cada amostra foi extraído com Trizol e tratado com DNase. Após quantificação e normalização, elas foram submetidas separadamente e em duplicata a reações de RT-PCR em tempo real com primers específicos para os genes GSTE2, GSTE3, GSTO1 e GSTX1. A quantificação relativa foi calculada pelo método 2-ΔΔCT e o gene rpL8 foi usado como controle endógeno.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A expressão dos genes analisados variou de 0,06 vezes (GSTX1) a 2,1 vezes (GSTO1) no grupo de fêmeas infectadas em relação ao grupo controle, nos tempos 1dpi e 3dpi, respectivamente. Quando GSTE2 e GSTE3 foram comparados, observou-se que os níveis de transcrição entre eles foram mais elevados e assemelharam-se nos intervalos 3dpi (1,3 e 1,2 vezes) e 7dpi (1,6 e 1,7 vezes). Por outro lado, GSTO1 e GSTX1 exibiram picos de expressão no terceiro dia (2,1 e 1,7 vezes), com permanência de níveis elevados de 1,5 vezes em GSTO1 e redução para 0,9 vezes em GSTX1. Interessantemente, a transcrição foi muito reduzida para GSTX1 nos intervalos 6h e 1dpi, cujos níveis chegaram a quase zero.
Apesar da aparente regulação negativa nos níveis de transcritos gênicos revelada inicialmente, as células do intestino do mosquito aumentaram a expressão dos genes avaliados no curso da infecção. Chen et al. (2011) relataram atividade GST elevada em células C6/36 infectadas com DENV-2, entre 24h e 48h pós-infecção. Como a infecção viral provoca mudanças dramáticas na maquinaria genética do mosquito, é possível que ele necessite de algum tempo para reestabelecer seu controle e seja, portanto, capaz de ativar os mecanismos celulares de proteção.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que DENV-2 é capaz de ativar os genes GSTE2, GSTE3, GSTO1 e GSTX1 no intestino de fêmeas de Ae. aegypti, provavelmente como resposta ao estresse oxidativo causado pela infecção. Esses resultados abrem perspectivas para estudos sobre as interações entre vírus/vetor e sua coevolução. Futuras abordagens de genômica funcional, como RNA de interferência, podem contribuir para a elucidação do papel desses membros específicos na determinação da capacidade vetorial no mosquito.
Palavras-chave: Competência vetorial, Expressão gênica, m.