65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
SENTIDOS PRODUZIDOS SOBRE AS TIC EM JOGOS DISCURSIVOS DO PROINFANTIL
Karina Moreira Menezes - Faculdade de Educação – UFBA
Nelson De Luca Pretto - Prof. Dr./Orientador - Faculdade de Educação – UFBA
INTRODUÇÃO:
O acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) é uma questão de cidadania, porque elas – especialmente as digitais – favorecem o acesso a bens materiais e culturais específicos, contribuindo também na ampliação das capacidades cognitivas e relacionais da humanidade. Isso evidencia a necessidade de se problematizar os processos educacionais, notadamente, a formação de professores. Analisamos o Programa de Formação Inicial de Professores em Exercício na Educação Infantil (Proinfantil), criado em 2006 para ofertar um curso de nível médio para professores sem titulação, na modalidade a distância, tendo sido implementado pela União, Estados e Municípios até o ano de 2012. Constatamos que o mesmo permaneceu alicerçado nas tecnologias de um programa no qual foi inspirado, o Proformação, criado em 1999. Mesmo assumindo o acesso às TIC como um direito, antes de se exigir a inserção das TIC no Proinfantil, era preciso problematizar a existência dessas tecnologias dentro do Programa. Esse viés se justifica porque a incorporação das TIC em contextos educacionais precisa superar perspectivas utilitaristas e meramente instrumentais, sendo necessário levar em consideração as demandas e os critérios dos sujeitos envolvidos, compreendendo os sentidos que eles produzem sobre as TIC.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigamos os sentidos produzidos sobre as TIC por professores formadores do Proinfantil visando identificar os modos como esses sentidos são afetados pelos discursos que caracterizam o Programa, extraindo, a partir daí, fatores que contribuem para que os professores se aproximem / se apropriem das tecnologias de informação e comunicação de modo a modificar sua prática pedagógica.
MÉTODOS:
Para abarcar o contexto amplo da investigação, realizamos um estudo bibliográfico sobre a relação entre TIC e Educação, TIC e Educação a Distância (EAD), TIC e formação de professores, reconhecendo que os discursos circulantes afetam o contexto imediato dos professores pesquisados e, consequentemente, a forma como vão lidar com a tecnologias que possuem à sua disposição. Fizemos a análise de manuais e textos oficiais produzidos para o Proformação e o Proinfantil, identificando mudanças e permanências em relação às concepções que carregavam e ao lugar destinado às tecnologias. A observação de campo se restringiu a uma Agência Formadora do Proinfantil, que é um dos polos no qual o curso de formação é realizado, e envolveu o registro de situações nas quais as relações mediadas pelas tecnologias tinham destaque. Para conectar todas essas informações, realizamos entrevistas com duas professoras dessa mesma Agência Formadora a respeito de suas vivências com as TIC, dentro do Proinfantil.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Como resultados, percebemos que a criação do Proinfantil com base no modelo do Proformação implicou em muitas contradições que não se restringiram ao papel das TIC na metodologia do Programa, mas se estendiam a ele. Houve o apagamento da EAD como modalidade de formação de professores e, no jogo semântico produzido pela substituição de termos e palavras nos textos oficiais, buscando evidenciar uma política renovada que, ao contrário, permaneceu ancorada em práticas de centralização e controle pelo Ministério da Educação. As TIC no Proinfantil permaneceram como recursos limitados às práticas pedagógicas dos Professores Formadores e como ferramentas de controle de atividades realizadas na Agência Formadora. Apesar de emergirem sentidos positivos sobre a presença das TIC no Programa – o que pode ser identificado pelas tentativas de alguns professores em se apropriar de modo mais qualitativo dos aparatos tecnológicos que tinham em mãos – a apropriação para além do uso instrumental se mostrou descontínua e pouco estimulada, reduzindo-se a ações individuais de professores que, por vezes, não encontravam tempo e oportunidade para investir em novos aprendizados.
CONCLUSÕES:
A formação de professores exige a constituição de redes colaborativas e de troca de conhecimento. Nessa perspectiva, as TIC precisam favorecer a construção de redes horizontalizadas que viabilizem as trocas de informações e conhecimentos de maneira permanente. A manutenção de uma estrutura de controle centralizado tende a formar redes hierarquizadas, nas quais os processos formativos são pensados de cima-para-baixo, sem partir, objetivamente, das demandas e potencialidades concretas dos sujeitos envolvidos. Essa situação contradiz com o que os discursos tentam mostrar nos documentos analisados. Enquanto as políticas de formação pautarem-se em uma visão reducionista das pessoas e das TIC, não teremos formações que subsidiem uma apropriação significativa dessas tecnologias, justamente porque o potencial criativo e autônomo é desvalorizado e silenciado. Podemos afirmar que, no Proinfantil, houve espaços nos quais o desejo e as tentativas de os professores se apropriarem de algumas TIC ficou patente. Contudo, esse desejo perdia sentido e era silenciado pelas condições materiais objetivas nas quais as relações estabelecidas com as TIC se inscreviam, e principalmente porque as condições de trabalho dos professores, dentro e fora da Agência Formadora, não lhes oportunizava tempo de imersão nesse aprendizado.
Palavras-chave: Análise de sentidosProformação, Educação a Distância, Proformação.