65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
A SAGRADA AUDIÊNCIA NEOPENTECOSTAL: O PROCESSO DE RECEPÇÃO DA PROGRAMAÇÃO TELEVISIVA DA IGREJA UNIVERAL DO REINO DE DEUS
Emanuelle Gonçalves Brandão Rodrigues - Curso de Comunicação Social – UFAL
José Guibson Dantas - Prof. Dr./Orientador - Curso de Comunicação Social – UFAL
INTRODUÇÃO:
Difundir a fé e cooptar de fiéis através da mídia tem sido uma das mais proeminentes estratégias das instituições religiosas neopentecostais. No caso da televisão, principalmente, isso não ocorre por acaso, já que ela se constitui ainda hoje como forte mediação entre emissor e receptor, especialmente nos países latino-americanos.
Fundada em 1977, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) deu origem à fase mais recente do movimento pentecostal, no Brasil. As circunstâncias em que ela surgiu foram favoráveis para sua expansão, atuando com um discurso que enfatizava a prosperidade e o contato direto com o Sagrado. Os indivíduos, dessa forma, teriam suas vidas socioeconômicas melhoradas por intermédio da “ação divina”, algo inviável no contexto brasileiro dos anos 80, com as instabilidades sociais e mudança do regime político.
A programação televisiva da igreja, veiculada na Record, é a mais consumida pelo seu público, composto não apenas de fiéis. A partir da observação que o discurso midiático da IURD se distinguia em alguns pontos daquele do templo, passou-se a compreender melhor as estratégias de comunicação da instituição, identificando seus principais objetivos. A investigação possibilita um olhar mais detalhado e reflexivo sobre o processo comunicativo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Busca-se entender os modos como a Igreja Universal constrói seu discurso e os usos que os fiéis telespectadores fazem dele em seu cotidiano. Para compreender o processo de recepção das narrativas dos programas televisivos da instituição, propõe-se uma análise comparativa entre o discurso do templo e o da televisão, buscando identificar os pontos em que eles se casam e se separam.
MÉTODOS:
Optou-se pela metodologia “Hermenêutica das Mediações”, construída sob influência do aporte teórico de Jesús Martín-Barbero. Como propõe o autor, o olhar deve ser deslocado dos meios para as mediações, lugares de tensões e produção de sentido.
Seguindo essa lógica, a metodologia é dividida em quatro fases. Na primeira se analisa o emissor e o meio; na segunda a mensagem e o conteúdo; na terceira a recepção propriamente dita e na quarta é feita uma análise comparativa de todo o processo comunicativo.
A história da Igreja Universal é o foco da primeira fase. Também são estudadas a liturgia e as estruturas física e humana. Na segunda fase se analisa a mensagem e o conteúdo dos programas televisivos, tanto em tempo real, como através de gravações. Observou-se, paralelamente, o discurso do templo e da produção bibliográfica da igreja, com a finalidade de estudar o grau de semelhança entre eles.
Na terceira fase foi realizada pesquisa qualitativa. A etnografia de audiência serviu tanto para esta como para a fase anterior, sendo também aplicado um questionário a uma amostra de fiéis telespectadores. Na quarta fase são confrontados os resultados das anteriores, buscando compreender o processo de recepção midiática a partir das configurações que moldam cada elemento desse processo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A Igreja Universal adapta sua mensagem aos contextos sociais que se insere, variando de acordo com espaço e tempo. Seu discurso é construído com base no cotidiano da região a qual faz parte, resgatando elementos simbólicos da cultura popular brasileira e atendendo aos principais interesses da população local.
O público da IURD não é composto apenas de fiéis, especialmente da televisão. A programação religiosa veiculada na Record serve como extensão dos cultos, convidando o telespectador a fazer parte daquela comunidade. A principal estratégia de comunicação da instituição é transformar o telespectador comum em fiel.
O discurso desses programas é quase sempre endereçado ao público feminino, principalmente porque as mulheres compõem a maior parte dos telespectadores e dos fiéis, segundo pesquisas realizadas por institutos como o IBGE e Novo Nascimento. Como apontado também em nossa pesquisa, elas possuem baixa renda e baixo nível de escolaridade.
O telespectador é ao mesmo tempo receptor e produtor de conteúdo no discurso da Igreja Universal, pautando, muitas vezes, o que é transmitido na TV. As pessoas consomem seu discurso por encontrar nele respostas para seus questionamentos diários, o que não é sanado por outras instituições sociais.
CONCLUSÕES:
O diálogo que a Igreja Universal estabelece com a cultura popular brasileira possibilita maior contato com os telespectadores da região que atua. Conhecendo as dinâmicas culturais que variam de uma localidade para a outra, a instituição constrói seu discurso de acordo com as necessidades dos públicos a sua volta. Por esse motivo, boa parte dos programas televisivos é produzida localmente.
As lógicas de produção da IURD no espaço televisivo segue sua premissa básica: levar o telespectador ao templo. Por isso, o discurso da Igreja Universal na televisão é diferente do templo. No primeiro espaço ele é mais abrangente e busca mostrar os benefícios de se fazer parte daquela comunidade; no segundo ele é mais agressivo e visa acima de tudo converter o indivíduo em um fiel dizimista.
Para manter sua audiência, a instituição vem aprimorando seus programas, utilizando linguagem menos agressiva e menos proselitista, temas diversos, melhor qualidade de imagem e profissionais especializados da área. O resultado é uma programação bem acabada e um discurso mais eficaz, alcançando ótimo conceito na opinião do telespectador, principalmente daquele que é fiel.
Palavras-chave: Igreja Universal, televisão, recepção midiática.