65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
O APROVEITAMENTO INTEGRAL DE HORTALIÇAS COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE: UMA EXPERIÊNCIA PRÁTICA COM COMUNIDADES DO SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO
Wagner José de Aguiar - Depto. Biologia/UFRPE e integrante do Gampe (UFRPE/CNPq)
Renata Alves de Brito - Depto. Educaçao/UFRPE e integrante do GEEAD (UFRPE/CNPq)
Murilo Carvalho Miranda Lima - Depto. Ciências Florestais/UFRPE e integrante do Gampe (UFRPE/CNPq)
Nikolle Nebl Jardim Aravanis - Depto. Tecnologia Rural/UFRPE e integrante do Gampe (UFRPE/CNPq)
Soraya Giovanetti El-Deir - Depto. Tecnologia Rural/UFRPE e coordenadora do Gampe (UFRPE/CNPq)
INTRODUÇÃO:
O desperdício alimentar constitui um dos maiores problemas ainda vivenciados no Brasil, representando uma intersecção real entre os problemas sociais, econômicos e ambientais. Segundo Gondim et al (2005), uma das possíveis causas para a questão do desperdício está atrelada ao desconhecimento dos princípios nutritivos dos alimentos que, por sua vez, induz ao mau aproveitamento. Nesse sentido, Marcheto (2008) coloca que o desperdício agregado à cultura brasileira contribui para a diminuição dos recursos ofertados a maioria das famílias, sendo um fator agravante nas populações mais carentes. É o caso de Ibimirim, município localizado no Sertão do Moxotó do estado de Pernambuco, possuindo um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) igual a 0,566, e ocupando, assim, a posição de 167º no rank estadual (PNUD, 2010). Nos dois últimos anos, o município vem sofrendo com uma das estiagens mais acentuadas ocorridas no semiárido brasileiro e, nessa direção, tem sido fundamental o empenho de organizações e de instituições a fim de amenizar os impactos desencadeados por esse processo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho objetiva apresentar a experiência do aproveitamento integral de hortaliças, empreendida no viés da educação para a sustentabilidade aliada à segurança alimentar, através de uma ação de responsabilidade social universitária desenvolvida junto a comunidades rurais do semiárido pernambucano.
MÉTODOS:
A experiência a ser relatada configura uma oficina com a temática do “aproveitamento integral de hortaliças”, realizada durante a terceira e quarta edições do Natal Solidário Gampe, nas Comunidades do Poço-do-Boi (2012) e do Poço-da-Cruz (2013), respectivamente. Segundo Silva, Chagas & El-Deir (2011), o Natal Solidário corresponde a uma das ações de Responsabilidade Social Universitária (RSU) do Grupo de Gestão Ambiental em Pernambuco-Gampe/UFRPE, o qual vem atuando desde 2009 no desenvolvimento de propostas de gestão ambiental nos diferentes setores sociais do estado de Pernambuco. Essa ação, de modo especial, inclui oficinas para adultos sobre temas diversos, dentre estes a segurança alimentar e a qualidade de vida, focos da nossa abordagem. No tocante à metodologia da oficina, esta foi estruturada em dois momentos principais: no primeiro, estabeleceu-se uma roda de diálogos com o público (em sua maioria, agricultores e pescadores), onde foi problematizada a questão do balanceamento da dieta e do aproveitamento de hortaliças no preparo e no consumo alimentar; e, no segundo, a apresentação de receitas elaboradas à base de cascas dentro dos princípios do aproveitamento integral, havendo, posteriormente, o preparo e a degustação dessas receitas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
No primeiro ano de sua realização a oficina contou com aproximadamente 70 pessoas, a maioria adultos. Inicialmente, observou-se que os participantes demonstraram-se surpresos com a proposta do aproveitamento integral, já que era costumeiro o descarte de partes “não aproveitadas”. No segundo momento, os participantes acompanharam o preparo das receitas, constatando a facilidade em preparar. Ao serem degustadas, as receitas foram bem avaliadas pelos participantes. Já no segundo ano, a oficina contou com aproximadamente 25 pessoas, majoritariamente adolescentes. Quando se discutia o balanceamento da dieta, observou-se que boa parte dos participantes subestimava a importância dos vegetais na alimentação, supervalorizando alimentos como as carnes e os grãos. Nesse aspecto, deu-se o destaque para as diferentes composições e funções de cada alimento, o que fez com que o público reconsiderasse o papel das hortaliças na sua dieta. Com relação ao preparo e consumo das hortaliças, boa parte dos participantes alegou desfazer-se das cascas, direcionando-as ao lixo doméstico (maioria), à alimentação de animais ou à adubação de plantas. Ao preparaem degustarem as receitas, os participantes fizeram uma avaliação positiva da proposta, sinalizando o desejo de replicabilidade no seu cotidiano.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que a temática do aproveitamento integral de hortaliças constitui um foco chave para o empreendimento de práticas educativas ambientais que, sob o prisma da sustentabilidade, venham a articular qualidade de vida com conservação ambiental. Na medida em que os atores sociais engajados reinventarem as formas de exploração dos recursos naturais atreladas à produção de alimentos e ao abastecimento local, torna-se favorável, pelo viés do aproveitamento integral, o reconhecimento da importância das hortaliças na alimentação e, sobretudo, da valorização nutricional de todas as suas partes, o que finalmente possibilitará uma maior eficiência da agricultura familiar local, no sentido de assegurar uma alimentação de boa qualidade para as famílias dos pequenos agricultores e, ao mesmo tempo, reduzir os custos ambientais e sociais inerentes à garantia subsistência humana que, em função das condições adversas, tornam-se cada vez mais altos, dificultando a convivência com o semiárido. Conforme Silva (2003), essa perspectiva da convivência requer e implica um processo cultural, de educação, de uma nova aprendizagem sobre o meio ambiente, dos seus limites e potencialidades e, nesse aspecto, fica visível a urgência de uma educação ambiental orientada pela e para a sustentabilidade.
Palavras-chave: Qualidade de vida, Educação Ambiental, Semiárido.