65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 2. Antropologia da Saúde
Propagandas e indústrias farmacêuticas: o impasse da luta contra a sífilis em Belém do Pará nas primeiras décadas do século XX
Thayana Silva Junes - Faculdade de Ciencias Sociais - UFPA
Pro. Dr/Orientador Luis Junior Costa Saraiva - Faculdade de Ciências Sociais - UFPA
INTRODUÇÃO:
Para obter um tratamento de sífilis nas primeiras décadas do século XX, os dermatologistas e sifilógrafos da época utilizavam alguns remédios de caráter tóxico que poderiam possibilitar cura temporária, mas que também podiam matar o paciente. Analisando algumas das propagandas existentes em “Anais de Dermatologia” é evidente a utilização de substâncias como bismuto (Bi), arsênio (As) e mercúrio (Hg) ingeridos e injetáveis por pacientes doentes de sífilis. Através de pesquisa histórica e antropológica, algumas metáforas bélicas surgem no material de propaganda como as imagens do ataque contra o grande inimigo, a sífilis. Uma outra questão muito importante no momento é a forte concorrência entre indústrias farmacêuticas que produziam novos medicamentos para o tratamento da sífilis e disputavam o mercado. Esta disputa era em travada também no campo das propagandas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Evidenciar através das propagandas farmacêuticas de remédios contra a sífilis as representações sociais sobre a doença e as disputas dessas empresas em garantir seu lugar no mercado de medicamentos contra a sífilis.
MÉTODOS:
O método utilizado foi a pesquisa documental através de uma abordagem histórico-antropológica dos seguintes documentos: Anais da Santa Casa de Misericórdia do Pará, Jornal Folha do Norte, Jornal Folha Vespertina, Revista Paraense de Medicina, Anais Brasileiros de Dermatologia, Acervo Fotográfico da Santa Casa de Misericórdia do Pará. A análise desse conjunto documental possibilitou o levantamento de representações sobre a doença, presentes nas propagandas de remédios contra a sífilis e das políticas de atuação no combate dessa doença e todo o conjunto de metáforas bélicas que essas propagandas apresentavam.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Através de arquivos existentes no Museu de Santa Casa de Misericórdia foi possível fazer o levantamento dos pacientes que receberam cuidados médicos relativos a sífilis nos anos de 1900 até 1930. No conjunto desses pacientes foi possível encontrar meretrizes, domésticas e homens casados gravemente atacados pela doença. Submetidos aos tratamentos com os tais medicamentos, os pacientes se mantinham em condições mais estáveis. A medicação permitia apenas uma estabilidade temporária, pois, se não morressem de sífilis, eles poderiam morrer de intoxicação química, por absorção elevada de substancias tóxicas utilizadas no tratamento. Tanto que a duração no hospital era mínima e, alguns pacientes quando obtinham alta, voltavam para o hospital e faleciam. Algumas das propagandas com metáforas como no caso do Bismuthion no qual trazia a seguinte frase: “não é um sal de bismuto é o próprio bismuto metálico eficiente”! As propagandas contra a sífilis nos anos de 1910 até 1930 trazem imagens femininas, invocando metáforas para enfatizar a guerra ao comportamento sexual desregrado como uma das medidas para combater a doença, mas também para repassar uma imagem de que as indústrias farmacêuticas estavam vencendo a guerra contra sífilis.
CONCLUSÕES:
Com as propagandas é perceptível que a imagem feminina e as indústrias farmacêuticas tentavam mascarar a triste realidade da doença, sempre passando a ideia de que as mulheres eram os únicos culpados do mal de vênus. Por políticas governamentais voltadas para o combate da sífilis entendia-se que a preocupação maior era também uma luta de imagens da doença, as quais em muitos casos feriam a integridade da figura feminina e culpando a mesma pela transmissão da referida doença.
Palavras-chave: sífilis, propaganda de medicamentos, representação social.