65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 2. Botânica Aplicada
LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO E ETNOFARMACOLÓGICO DA REGIÃO DO ALTO-OESTE POTIGUAR – RN, BRASIL
João Pedro da Costa Souza - IFRN - Campus Pau dos Ferros
Viviane Ferreira de Medeiros - Prof. Ma. Orientadora – IFRN - Campus Pau dos Ferros
INTRODUÇÃO:
O uso de plantas no ambiente tradicional é comum em inúmeras localidades e realizado por basicamente todos os grupos sociais. Constrói-se, a partir disso, um conhecimento etnobotânico, que deve ser protegido, conservado, mantendo, assim, seguros os saberes culturais inerentes a cada grupo.
A etnobotânica pode ser entendida como o estudo das inter-relações entre o ser humano e as plantas, e agrega valores culturais e ambientais, além de especificidades locais relacionadas ao conceito e uso dos vegetais (ARAÚJO, 2009). Segundo Silva (2002), o estudo das plantas medicinais permite o aumento do conhecimento científico relacionado a essas espécies, validando, dessa forma, seu uso medicinal e o emprego em sistemas públicos de saúde, de modo a disponibilizar medicamentos de baixo custo à população.
No nordeste do Brasil, de acordo com Gomes et al (2007), a fitoterapia é amplamente utilizada na medicina popular das comunidades locais, que apresentam uma farmacopeia natural, originada, em sua maioria, dos recursos vegetais encontrados nos ambientes ocupados por elas. A caatinga é, no entanto, o bioma menos conhecido no país, pois poucas pesquisas foram realizadas sobre ele.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O projeto visou a realizar um levantamento etnobotânico e etnofarmacológico das plantas utilizadas pela população do Alto-Oeste Potiguar, no estado do Rio Grande do Norte, juntamente à criação de um catálogo de ervas, mantido no Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – Campus Pau dos Ferros, disponível aos alunos e à população em geral.
MÉTODOS:
O estudo foi realizado nos municípios de Pau dos Ferros, Encanto, Dr. Severiano e São Miguel, localizados no território do Alto-Oeste Potiguar, Rio Grande do Norte.
O levantamento etnobotânico e etnofarmacológico ocorreu entre os meses de abril de 2012 e janeiro de 2013, sendo realizado por meio de entrevistas semi-estruturadas, aplicadas aos portadores de maiores do tema: idosos, feirantes e raizeiros. Foram entrevistados 20 (vinte) idosos, 12 (doze) feirantes e 10 (dez) raizeiros, totalizando 42 (quarenta e duas) entrevistas.
As entrevistas visaram à obtenção de alguns dados relevantes, tais como o nome dos vegetais, parte utilizada, método de uso, indicação e, no caso dos feirantes e raizeiros, o índice de procura das referidas ervas. Também se buscou conhecer o perfil dos entrevistados através de dados como a idade, sexo, escolaridade e moradia (campo ou cidade), além de informações quanto a suas opiniões referentes à medicina tradicional.
Junto ao trabalho de levantamento de informações etnobotânicas, etnofarmacológicas e socioeconômicas, os exemplares botânicos foram fotografados com a finalidade de comparar os espécimes com os vegetais depositados no herbário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os entrevistados são, em sua maioria, do sexo feminino, de faixa etária entre 26 e 101 anos, com uma média de 59,5 anos. Os participantes da pesquisa mostraram-se amplamente satisfeitos com as plantas medicinais. Cerca de 30% disseram usar os chamados remédios do mato sempre que doentes, ao passo que aproximadamente 24% os utilizavam independentemente do estado de saúde, todos os dias. Fato curioso é que, para cerca de 86% dos entrevistados, os remédios naturais são melhores do que os convencionais.
O conhecimento acerca dos vegetais originou-se de várias fontes, tais como os pais, cursos realizados, programas de rádio e até mesmo o dia-a-dia. Foram citadas 76 espécies de planta, com uma média de plantas citadas de 8,5 por pessoa, sendo os idosos os maiores conhecedores. Os vegetais foram ligados a mais de 25 problemas de saúde, como gastrite, sinusite, pressão alta, dor de cabeça, câncer, cálculo renal, surdez, tuberculose, entre outros.
Dentre as principais famílias encontradas, destacam-se Anacardiaceae, Annonaceae, Apiaceae, Asteraceae, Borraginaceae, Caesalpiniaceae, Caprifoliaceae, Celastraceae, Fabaceae, Illiciaceae, Lamiaceae, Lotoideae, Malvaceae, Monimiaceae, Myrtaceae, Oleaceae, Punicaceae, Rubiaceae, Rutaceae, Sapotaceae, Theaceae, Zingiberaceae.
CONCLUSÕES:
O conhecimento da medicina popular faz parte da identidade da população local, representando um tipo de manifestação cultural de um povo. O estudo etnobotânico promove, então, a propagação e manutenção de tal identidade a partir do registro de informações. A disponibilização do catálogo no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – Campus Pau dos Ferros torna acessíveis os conhecimentos supracitados aos alunos da instituição e à população interessada em consultar o material.
Ademais, pode haver princípios ativos, atualmente desconhecidos, nesses vegetais que, em sendo descobertos, venham a ser utilizados na fabricação de novos medicamentos, o que figuraria um avanço na área tecnológica. O estudo etnobotânico é também fundamental como ferramenta de preservação da caatinga, pois fomenta o cultivo de espécies endêmicas desse bioma para uso familiar, mantendo seguros os vegetais que são fonte de interesse e benefício para a população.
A identificação de vegetais não nativos da região, como a linhaça, indica a mixagem de espécies presente. O projeto servirá de subsídio a futuros estudos farmacológicos regionais.
Palavras-chave: Conhecimento popular, Fitoterapia, Botânica.