65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
OS IMPACTOS DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÁO FRANCISCO NAS COMUNIDADES DO ASSENTAMENTO SERRA NEGRA E ALDEIA PIPIPÃ EM FLORESTA – PE
Renata Érica de Figueredo Ataíde - Depto. de Ciências Geográficas – UFPE
Claudio Ubiratan Gonçalves - Profº Dr./ Orientador Depto. de Ciências Geográficas – UFPE
INTRODUÇÃO:
No tempo presente as relações sociais capitalistas caminham no sentido de intensificar o processo de globalização, estudar os ribeirinhos do São Francisco, a questão agrária e sobretudo os impactos socioambientais provocados pelos grandes projetos empreendidos pelo Estado e empresas se faz necessário. Para isso, estudaremos a questão agrária sob o prisma da Geografia, analisando a dimensão espacial dos fenômenos em sua territorialidade, o que se coloca pertinente frente aos desafios atuais.
No texto abordaremos os principais conflitos socioambientais decorrentes da apropriação e uso da natureza pelos grandes empreendimentos capitalistas – aqui focamos as obras da Transposição do Rio São Francisco. Nossa análise centra-se nas questões que perpassam o Sub-Médio São Francisco. Observaremos o caráter de integração das políticas públicas do Estado a partir do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que incidirá no Assentamento Serra Negra e Aldeia Pipipã localizado na Agrovila 06.
A seleção das obras utilizadas foi baseada numa pesquisa em livros, artigos e teses acadêmicas que contribuíssem no estudo da geografia agrária, com foco nos grandes projetos, conflitos territoriais, impactos socioambientais, análise do espaço geográfico e suas relações com os ribeirinhos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar o caráter de integração do Estado a partir PAC, no Assentamento Serra Negra e na Aldeia do povo Pipipã afim de, analisar o processo de desterritorialização dos ribeirinhos. Discutir os conflitos socioambientais que resultam da apropriação da natureza em nome do desenvolvimento e identificar as territorialidades ribeirinhas, relacionadas às dimensões da questão agrária.
MÉTODOS:
Para atingirmos os objetivos expressos no presente trabalho, optamos em compreender o local de estudo como parte de um sistema produtivo que transformou o território e vem condicionando a realidade dos sujeitos sociais envolvidos na pesquisa.
Para tal, a metodologia utilizada foi: revisão da literatura, pesquisa documental e levantamento de dados secundários, além de trabalhos de campo para realização de entrevistas e observações “in loco”, tendo como referência metodológica Carvalho (1989). No trabalho de campo foram realizadas duas abordagens: a primeira, identificando o espaço geográfico nas comunidades camponesas: Assentamento Serra Negra e Aldeia Pipipã na Agrovila 06; a segunda abordagem, o olhar empírico - privilegiando a observação direta, o uso da fotografia, do GPS e a vivência no cotidiano desses sujeitos, ribeirinhos camponeses e indígenas.
Realizamos entrevistas no Assentamento Serra Negra e na Aldeia Pipipã, na Agrovila 06, além dos representantes da CPT NE II (Comissão Pastoral da Terra região Nordeste II da CNBB) e o Batalhão de Engenharia do Exercito Brasileiro presente na obra do canal, assim como a população da região rural e urbana do município.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Constatamos ao longo do desenvolvimento da pesquisa que a implantação de políticas públicas voltadas para o “crescimento econômico” no Nordeste favoreceram os médios e grandes proprietários de terras através de construção de açudes, projeto de irrigação, hidrelétricas e oferecimento de linhas de crédito à pecuária. Estas políticas causaram impactos nas comunidades camponesas.
Dentro deste contexto, compreender a trajetória dos camponeses do Assentamento Serra Negra e dos indígenas Pipipãs da Agrovila 06, faz parte do ânimo desta investigação. Atualmente as condições de vida desses ribeirinhos camponeses estão sendo impactados pelas implantações das políticas públicas do PAC. Isso nos levou a reflexão sobre a conjuntura de expropriação, dos conflitos e desigualdades que os cercam. Muito desses camponeses lutam por melhores condições de vida, pelo direito ao acesso a terra e a água. Contemplamos esta perspectiva a partir da revisão bibliográfica e constatações em observações de campo.
No decorrer do estudo percebemos a multidimensionalidade da vida dos ribeirinhos camponeses nas unidades de produção familiar, no impacto socioambiental e no discurso ideológico de desenvolvimento econômico na região em apreço.
CONCLUSÕES:
É notável a problemática situação de vida daqueles que dependem exclusivamente do rio São Francisco para sobreviver. Os sertanejos e ribeirinhos que margeiam o rio praticamente não mais vivem da pesca devido à significativa redução da quantidade de peixes e nem da agricultura onde muitos produziam o arroz nas vazantes, que foi tão importante economicamente até a década de 1970.
Atualmente, a vegetação nativa é cada vez mais rara por conta dos desmatamentos. O mar avança constantemente, pois o rio São Francisco não tem mais o equilíbrio ecológico da antiga dinâmica natural. Sua riqueza propiciadora de agrobiodiversidade ficou bloqueada nas grandes barragens, nas construções de Hidrelétricas, na irrigação e no uso desmedido de agrotóxicos, e agora a obra da Transposição.
Constatamos que a crise ambiental e agrária vem revelando o mito do desenvolvimentismo e demonstrando o lado oculto da racionalidade econômica dominante e do capitalismo destrutivo. Juntamente com os processos de degradação ambiental, conjuga-se uma serie de efeitos econômicos, sociais e culturais, os quais afetam os sujeitos das comunidades do Assentamento Serra Negra e os Pipipãs da Agrovila 06 entre outros ribeirinhos do São Francisco.
Palavras-chave: Questão Agrária, Rio São Francisco, Conflitos Socioambientais.