65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 10. Teoria e Metodologia da História
TEMPO E NARRATIVA: UMA ANÁLISE A PARTIR DE “A VIDA DE GALILEU” DE BERTOLT BRECHT
Renato Florêncio Pavanelli Ortega - Depto. de História - UFTM
Rodrigo de Freitas Costa - Prof. Dr./ Orientador - Depto. de História - UFTM
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho procura discutir dentro da obra “A Vida de Galileu” de Bertolt Brecht dois grandes conceitos caro ao ofício do historiador: tempo e narrativa. A peça tem o intuído de tratar, em linhas gerais, sobre o papel do intelectual do século XX e a de repensar na utilização e produção do conhecimento. Visto que, o momento em que foi produzida a obra está circunscrita na expansão do nazismo pela Europa e o aumento da tensão entre os países, podendo levar a uma guerra de proporções catastróficas. É frente a esse enredo e a este ambiente que a discussão sobre o tempo e a narrativa se torna primordial, sendo que o tempo depois de Einstein torna-se uma dimensão interpretativa do movimento e a narrativa uma ferramenta para expressão teatral e historiográfica que implica grande capacidade de alegorias e símbolos. O tempo perpassa a peça como um elemento de ligação entre o Galileu do século XVI e os intelectuais do século XX. Já a narrativa vem para condicionar a esta ligação uma interação alegórica, tornando ao interprete a capacidade de perceber apontamentos e críticas sociais deixadas por de traz de cada ato. Ora, o que Galileu tem a dizer para século XX? E como a relação de dimensão de tempo e narrativa pode contribuir para produção artística e para papel do historiador?
OBJETIVO DO TRABALHO:
Como finalidade, este trabalho busca: discutir o conceito de Tempo para Walter Benjamim e Einstein e Narrativa para Hayden White através de “A Vida de Galileu” de Bertolt Brecht. Com isso perceber a contribuição da produção artística para a análise historiográfica.
MÉTODOS:
Tendo com fonte a obra de teatro “A Vida de Galileu” do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, ressaltar as estratégias de sobrevivência do intelectual do século XX para o debate sobre Tempo e Narrativa. Ao trazer os questionamentos de Julio Aróstegui sobre a desconstrução do conceito de Newton através da teoria de Einstein sobre tempo, iniciamos uma reflexão sobre tal teoria sobre a produção historiográfica e assim complementemos com as teses sobre os conceitos de História de Walter Benjamim. A narrativa tem por norte os apontamentos de Hayden White, assim como os de Walter Benjamim, sempre pensando o papel dos símbolos alegóricos como recurso, não só de estratégia do escritor, mas como também relevância para análise historiográfica. Por fim, demonstraremos o que ambos os conceitos trazidos para debate, podem contribuir para analisar aspectos da história e da construção social e artística.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Como resultados podemos colocar em realce os seguintes elementos: A questão do tempo esta intimamente ligada nesta peça. Ora, o tempo que Brecht escreve não é o mesmo tempo de Galileu e de sua luta. Sem cometer anacronismo, notemos que o tempo esta integrando a descrição de “realidade histórica” como nos diz Julio Aróstegui. Isto é, a “realidade histórica” é uma situação que é essencialmente definida pelo tempo. O tempo em que foi escrita a peça é diferente da de Galileu e que em algumas circunstâncias há similaridades, onde como isso o tempo de ambos, Brecht e Galileu, tornam-se paralelos. E foi neste momento em que Brecht percebe a congruência entre seu tempo e o de Galileu. O tempo não é algo fechado e contínuo como pensava Newton, que acontece e não volta, isto é, passado/presente/futuro, mas sim, uma dimensão que pode ser interpretada de acordo com o “movimento”, por isso, Brecht notou em seu tempo um movimento semelhante ao que acontecerá a Galileu. O maior problema de se utilizar das narrativas, sejam elas quais forem, é o método como iremos extrair os elementos para uma dada pesquisa, pois, não podemos perder o ponto que norteia o oficio do historiador, que é uma prática científica como diz Michel de Certeau.
CONCLUSÕES:
Quando se propôs pensar nas estratégias de sobrevivência dos intelectuais a partir de “A Vida de Galileu”, percebemos a grande aliança e a contribuição de uma discussão temporal e narrativa para com a análise desta obra. Os elementos alegóricos bem colocados, tanto por Brecht quanto por Walter Benjamim, prova e mostra quais eram as melhores alternativas para a sobrevivência de suas criticas e pensamentos sociais. Utilizando pensamentos imaginativos e alegóricos, tais intelectuais deixaram escritos na história vestígios de corajosos e valentes sobreviventes das ruínas da história cronológica e progressista burguesa. Por fim, é importante ressaltar a relevância de uma obra artística para a História, sendo uma expressão do homem para com seu raio de ação, a arte esta para o historiador sobre tudo como um recurso rico para a interpretação da escrita da história e de análise de um passado que a muito foi tido como morto, porém, como objetivo dessa “disciplina” historiográfica, pensamos na “morte como objeto do saber e, fazendo isso”, damos “lugar à produção de uma troca entre os vivos”.
Palavras-chave: Teoria, História, Intelectual.