65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 6. Liguística
CONSTITUIÇÃO E DISCURSIVIZAÇÃO DE G MAGAZINE
Thiago Alves França - Depto. de Ciências Humanas – Uneb, Campus IX.
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa teve como horizonte teórico a Análise de Discurso (AD) francesa. A partir dos aportes teórico-metodológicos da AD, realizamos a descrição e interpretação do periódico G Magazine.
A G Magazine é um veículo midiático, e a mídia, do lugar teórico que ocupamos, é pensada como lugar de circulação de discursos, por isso concordamos que desse lugar não se criam discursos. A partir desta concepção, se é possível identificarmos, em diferentes mídias, por exemplo, mulher e homem discursivizados desta ou daquela maneira, é porque existem, antes, fora e além da mídia, posições de sujeito a partir das quais é possível enunciar determinadas coisas acerca de mulheres e de homens. E não outras.
Entendendo, pois, a mídia como lugar de circulação de discursos e, portanto, como um lugar de memória discursiva, na pesquisa que originou este trabalho, propomo-nos analisar edições da revista G Magazine, que circularam de outubro de 1997 a dezembro de 2009, para responder a seguinte questão: ao se constituir como segmento de mercado, por meio de que discursivizações a revista G Magazine se diferencia de outras revistas?
OBJETIVO DO TRABALHO:
À luz da Análise de discurso francesa, a pesquisa teve como objetivo verificar como este periódico se apresenta ao mercado consumidor por meio das seleções que opera no interdiscurso, e que efeitos-sentido são (re)produzidos neste jogo mnemônico de lembrar e esquecer manifestado na materialidade do impresso, dando-lhe singularidade enquanto segmento de mercado.
MÉTODOS:
A opção pela G Magazine se justifica pelo fato de esse periódico ser a mais antiga revista destinada a homens gays no Brasil com circulação ininterrupta desde sua primeira edição, em outubro de 1997. A duração da revista no mercado possibilitou enxergarmos, nas edições, mudanças sociais, o que não seria possível em periódicos que pararam de circular após um período relativamente curto de existência.
A G Magazine é um periódico mensal, e da sua primeira edição até 2009, já haviam circulado 147 números. A fim de respondermos à questão que nos interessava, isto é, para entendermos o processo de constituição e discursivização da revista, analisamos as 147 edições, selecionamos e catalogamos formulações, agrupando-as por temas/assuntos. Fizemos um exaustivo trabalho de manuseio dos dados, o que nos ajudou a refutar hipóteses iniciais e comprovar outras, fazendo-nos perceber as afinidades do periódico com tantos outros, e, o que mais nos interessava, a questão da singularidade, isto é, em que a revista G Magazine se diferencia de outros impressos. Cogitar a diferença de G Magazine foi possível por conta de trabalhos anteriores de constituição e discursivização de periódicos, a exemplo dos trabalhos de Fonseca-Silva (2007) com Claudia, Nova e Playboy, nos quais nos apoiamos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Identificamos semelhanças de G Magazine em relação a outros periódicos no que diz respeito à discursivização sobre o cuidado com o corpo e o desejo. Neste caso, em relação ao corpo, em nada as formulações encontradas em G Magazine se diferenciam das verificadas nos periódicos analisados por Fonseca-Silva (2007), tendo em comum o fato de serem atitudes legítimas amar a si mesmo, cuidar de si para si e também para agradar e seduzir o outro, não havendo limites entre beleza, saúde, prazer e bem estar. Em relação à discursivização sobre o desejo, também levantamos, durante o percurso da pesquisa, a hipótese de que este seria o lugar da diferença em G Magazine. No entanto, identificamos no impresso um dos eixos que é também eixo da discursivização de Nova e Playboy. Sobre os corpos, afirmamos que também não era este o lugar da diferença, e que há uma afinidade no modo como os corpos se configuram para serem belos e desejados, de modo que os efeitos-sentido (re)produzidos sobre esses corpos também não são exclusividade de G Magazine.
Em relação aos discursos que diferenciam G Magazine de outros periódicos, identificamos três funcionamentos que dizem respeito à homofobia, ao assumir-se gay e à militância gay, que caracterizam tal periódico como segmento de mercado.
CONCLUSÕES:
O acesso à G Magazine permite um encontro com discursos que socialmente circularam em determinados momento e contexto históricos, e, mesmo considerando que há uma seleção acerca do que pode e não pode ser materializado neste periódico, estes discursos serão encontrados na revista em qualquer época em que ela for analisada, de modo que há uma conjunção de possibilidades mnemônicas ali inscritas, o que também nos permite dizer que as revistas são lugares de memória discursiva.
O que há de mais relevante no nosso trabalho, ao que nos parece, é o fato de provar a discursivização regular – critério importante para que falemos da singularidade de G Magazine – sobre temáticas que não aparecem consideradas por quem, comumente, se propõe a falar desse impresso, cuja ênfase recai normalmente no erotismo e em questões afins. Por isso, consideramos valiosa a nossa contribuição para quem quiser entender o modo como este periódico configura-se e apresenta-se ao longo de seu período de circulação, e, de modo mais distante e mais pretensioso, é um trabalho importante para quem interessar a maneira como a imprensa homoerótica brasileira discursiviza acerca da homossexualidade e sua respectiva militância.
Palavras-chave: G Magazine, Constituição, Discursivização.