65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
A HISTÓRIA DE UMA MULHER “CAROLINA MARIA DE JESUS”
Eliana Garcia Vilas Boas - Graduanda- Dept. de Historia - Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM)
Clayton Cardoso Romano - Prof. Dr./ Orientador - Dept. de Historia - UFTM
INTRODUÇÃO:
A abolição do sistema escravocrata ocorreu em maio de 1888, mas sabemos que a liberdade concedida aos negros só se deu em decorrência de um longo processo de luta e resistência. Também sabemos que esta liberdade não garantiu ao negro a acessão social e ao analisar criticamente todo o processo, percebe-se que com o termino dos maus tratos consentidos aos escravos, o preconceito tomou maiores dimensões, expandindo-se. Esse fato se deve a falta de emprego remunerado permanente, consequentemente falta-lhe comida e dinheiro. E foi por meio desta hesitação em aceitar o negro na sociedade que se concretiza a proposta deste presente trabalho, no qual se pauta a discussão de Carolina Maria de Jesus, que foi a primeira escritora negra que fez sucesso na literatura em um período em que o mundo das letras era inacessível até mesmo para as pessoas brancas e bem nascidas, embora não se pudesse imaginar que uma mulher negra, pobre e favelada, que extraia o sustento da reciclagem de lixo urbano, se transformasse em um grande fenômeno editorial.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Nascida 26 anos após a abolição do sistema escravocrata Carolina viveu em uma sociedade que ainda encontrava-se arraigada no sistema de exploração e discriminação do branco para com o negro, contudo o presente trabalho tem como objetivo discutir a contribuição da escritora nos anos de 1960 na literatura, assim como para a inserção dos negros na sociedade.
MÉTODOS:
A Seção de Gestão e Promoção do Patrimônio Histórico é vinculada com a Superintendência de Desenvolvimento Econômico, Turístico e Cultural da prefeitura de Sacramento-MG. Para a realização da pesquisa foi feito um levantamento de dados no arquivo público da própria cidade, onde foram analisados alguns dos manuscritos de Carolina, que teve por finalidade possibilitar uma melhor compreensão do gênero, forte e determinado, da escritora, que sempre se valorizava diante da sociedade, na qual, recorrentemente, lhe condenava e oprimia. Para uma melhor compreensão dos aspectos teóricos- metodológicos da pesquisa foram realizados estudos bibliográficos em relação ao discurso da negritude e exclusão social, e, após esta contextualização, foram feitas três entrevistas que ocorreram nos mês de janeiro de 2013, com grandes admiradores da personalidade da autora e de suas obras. Os relatos tiveram durações distintas e foram norteados por um roteiro, complementados por questões que apareceram durante as entrevistas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Ao nos posicionarmos historicamente no tempo em que Carolina viveu, percebemos o quanto a sociedade ainda exclui e discrimina os negros. Este preconceito pode ser claramente percebido nos manuscritos da escritora, assim como nas leituras bibliográficas selecionadas e dispostas no referencial teórico. Em uma análise crítica, notamos o quanto a libertação dos escravos incomodava as elites brancas, pois o negro recém-liberto ia para as cidades em busca da própria sobrevivência e, de acordo com os padrões dominantes da época, estes representavam uma relação contrastante entre a beleza das cidades e a “má aparência dos negros” em que nela vivia. Em um momento histórico de extrema repressão e preconceitos, nota-se que Carolina escrevia seus poemas como uma forma de protesto, pois, além de retratar o seu dia- a – dia na favela, também denunciava e protestava os limites impostos pelo racismo da época, defendendo sua cor com orgulho, e não se submetendo a dominação do branco. Com isso, se torna essencial o reconhecimento da importância de sua produção literária e, também, o entendimento sobre os escritos enquanto expressão das vozes marginalizadas, em um período em que nenhum poeta imaginava atingir as camadas mais amplas da sociedade.
CONCLUSÕES:
Na sistematização das narrativas orais, percebemos a analogia que os entrevistados fizeram sobre a personalidade de Carolina, sendo de uma mulher determinada que sempre enfrentou o preconceito e a discriminação. O que lhe diferenciava na sociedade era o fato de não deixar-se lastimas diante da condição social em que vivia, já que ela encarava a pobreza e a favela como um aspecto da vida e não como um problema, e dentre esta conjuntura, Carolina enfrentava, discutia, analisava, problematizava e, acima de tudo, transformava a sua própria realidade em literatura, dispondo sua vida em seus escritos onde era fiel em todos os acontecimentos do dia. E, ao responder a questão inicial proposta por esta pesquisa, concluiu-se que sua contribuição para a inserção do negro na sociedade se deu porque a escritora elevou a negra em que era a condição de pessoa, e colocava o seu trabalho acima dos obstáculos que enfrentava sem corromper com seu discurso, pois tinha a consciência do que escrevia. Seu aporte para a literatura se deu pela inauguração de novos cenários e abordagens como, por exemplo, a favela, criando seu próprio discurso, provando, assim, que a escrita não era simplesmente um bem de classe.
Palavras-chave: Discriminação,, Sobrevivente,, Escritora..